Retrospectiva 2020: Pantanal teve recordes históricos de queimadas

dezembro, 23 2020

Severamente atingido pelas queimadas, cerca de 28% do bioma foi consumido pelo fogo nos primeiros 10 meses do ano
Severamente atingido pelas queimadas, cerca de 28% do bioma foi consumido pelo fogo nos primeiros 10 meses do ano 

Por WWF-Brasil


Desde o início de 2020, o Pantanal foi atingido por uma forte estiagem. De janeiro a maio, o volume de chuvas ficou 50% abaixo do normal. Presente em locais isolados e sem chuva suficiente para encher as áreas alagadiças, o bioma ficou mais suscetível aos incêndios. O resultado foi trágico: mais de 21 mil focos de fogo devastaram quase um terço da área do bioma, tornando as queimadas de 2020 as piores já registradas no Pantanal. 

Embora o fogo faça parte da dinâmica natural do Pantanal, como ferramenta para a renovação de pastagem nativa, a ocorrência de incêndios na seca está diretamente relacionada ao desmatamento, à limpeza e à reforma das pastagens. Práticas inadequadas e o uso do fogo como ferramenta de manejo sem técnicas de controle são elementos que põem em risco a conservação da maior área úmida tropical do planeta. 

Em 2020, os focos de calor começaram a crescer antes mesmo da temporada seca -desde março. E mesmo com a proibição de uso do fogo decretada pelo governo no início do segundo semestre, os números de focos por mês só aumentaram. A seca severa, decorrente das alterações climáticas, somadas ao mau uso do fogo e ao desmatamento foram fatores que traçaram um cenário favorável para o fogo. 

Há 20 anos o WWF-Brasil mantém projetos no Pantanal, em parceria com organizações locais. Em 2020, diante da grave crise ambiental provocada pelas queimadas históricas no bioma, priorizamos as ações que envolvem o envio de equipamentos de proteção e a realização de treinamentos para brigadistas, além da entrega de cestas básicas para comunidades locais. 

As ações incluíram ainda o apoio logístico para organizações sociais que atuam no Pantanal, além de articulações com entidades e governos locais, incluindo os países vizinhos que compartilham da mesma problemática no Pantanal (Bolívia e Paraguai), com o objetivo de atenuar o desastre ambiental no bioma. 

Cronologia das queimadas 
Em maio de 2020, os registros de satélites já mostravam que as queimadas no Pantanal nos primeiros quatro meses do ano haviam sido as piores dos últimos 10 anos. Comparando o período de janeiro a abril de 2019 com 2020 os números assustam: foram 674 em 2019, enquanto em 2020 já somam 1.456 focos, um indicativo de que a ocorrência de queimadas na região mais que dobrou de um ano para o outro.  

Em julho, o Pantanal já era o campeão de aumento do fogo na temporada 2020. Entre 1º de janeiro e 12 de julho já haviam sido detectados 2.510 focos de queimadas no bioma, um número 126% mais alto que o registrado no mesmo período de 2019. 

Em agosto, as queimadas no Pantanal batiam mais um recorde, com um crescimento de mais de 200% em comparação à temporada anterior.  Entre 1º de janeiro e 20 de agosto, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectou 8.058 focos de queimadas no Pantanal. Em outubro, as chamas no Pantanal já haviam consumido cerca de 3,4 milhões de hectares -o que corresponde a 23% do bioma-, enquanto o Governo Federal negava as evidências de uma enorme crise ambiental. 

Em novembro, o Inpe divulgou que em 2020, o Pantanal alcançou a pior marca da história para os 10 primeiros meses de um ano. Entre 1 de janeiro e 31 de outubro de 2020 , o Pantanal já acumulava mais de 21 mil focos de queimadas. O aumento foi de mais de 380% em comparação a 2019, quando o bioma teve 4,4 mil focos de incêndio no mesmo período. O número dos primeiros 10 meses de 2020 foi quase 70% maior que o pior ano da série histórica do Inpe para o período, 2005, quando foram registrados 12.486 focos de incêndios no bioma.  

Segundo o Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 2020 as chamas consumiram cerca de 28% do Pantanal, o que corresponde a uma área quase do tamanho da Dinamarca.  



Ações emergenciais 
No Dia Mundial da Água, 22 de março, lançamos as versões em espanhol e em inglês da Revista Ciência Pantanal, que traz desde 2014 estudos científicos que contribuem para ampliar o conhecimento sobre o bioma conhecido como “reino das águas”. A publicação surgiu da necessidade de divulgação de informações científicas sobre o bioma para a sua população. Contribuindo assim para a reversão de duas tendências globais de grande impacto sobre a natureza e as pessoas: o aumento de emissões relacionadas às mudanças climáticas e a perda de biodiversidade no planeta. 

Também em maio, divulgamos o terceiro vídeo explicativo de uma série que tem o objetivo de contribuir para a divulgação do conceito de Reserva da Biosfera, assim como de sua importância e de sua viabilidade como estratégia de conservação e de desenvolvimento econômico e social. A série "Reserva da Biosfera" foi produzida pela parceria entre WWF-Brasil, Unesco, Programa o Homem e a Biosfera e Reserva da Biosfera do Pantanal, com financiamento da União Europeia. 

Em setembro, para atenuar a situação de desespero e desamparo das comunidades em relação ao combate ao fogo no Pantanal, o Observatório do Pantanal -por meio de suas associações-membro WWF-Brasil e Ecoa- entregou equipamentos e uniformes para brigadas comunitárias da região, que também receberam treinamentos do PrevFogo/Ibama. Foram atendidos 28 voluntários de quatro brigadas de comunidades atingidas pelo fogo. Eles receberam bombas costais, abafadores, enxadas e sopradores de vento, além da capacitação para o combate inicial às chamas. 

Em outubro de 2020, equipamentos doados pelo WWF-Brasil ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) foram decisivos para auxiliar o combate às chamas que devastavam o Pantanal, em especial nas regiões de Corumbá e Aquidauana. A doação, feita em 2019, incluía três kits compostos por lança jato com capacidade de armazenamento de 600 litros d’água. Instalados em carrocerias de caminhonetes, esses equipamentos permitem que bombeiros possam combater o fogo em locais de difícil acesso para grandes viaturas.  

Também em outubro, com apoio logístico da Funai, doamos cestas básicas para garantir a alimentação emergencial de 30 famílias do povo Boe-Bororo, da Terra Indígena Perigara, localizada no município de Barão de Melgaço, Mato Grosso 

Em novembro, enquanto a fauna do Pantanal era severamente afetada pelos recordes de queimadas, doamos ao Instituto Arara-Azul uma caminhonete Toyota Hilux (2009), para auxiliar no mapeamento de ninhos de animais da espécie. Estima-se que 49% dos ninhos cadastrados pelo Instituto Arara-Azul, nosso parceiro no Mato Grosso do Sul, haviam sido impactados pelo fogo. A doação fez parte de uma série de ações emergenciais realizadas por meio de parcerias estratégicas. 

O instituto já havia recebido em setembro o nosso apoio para a avaliação do efeito pós-fogo no Pantanal. Um levantamento realizado com apoio logístico do WWF-Brasil, mostrou que, um santuário de araras azuis localizado em uma fazenda de Barão do Melgaço (MT) ainda tinha maciça presença da espécie, embora 92% do seu território tenha sido afetado pelo fogo. 

No Dia do Pantanal, 12 de novembro, lançamos uma exposição internacional de fotos do bioma, “Pantanal: Vida, Morte e Renascimento”, realizada em ambiente virtual. O conceito da coleção de imagens -feitas por fotógrafos consagrados- é mostrar o bioma em três momentos cruciais vividos em 2020: em seu esplendor, durante as queimadas e na fase subsequente, quando o bioma tenta se recuperar.  

Em dezembro, doamos materiais e medicamentos para auxiliar na recuperação de animais atingidos pelas queimadas no Pantanal. Como parte do nosso projeto emergencial de apoio ao Pantanal, o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), pertencente ao Imasul/Semagro (Instituto de Meio Ambiente) do estado, em Campo Grande, recebeu 15 caixas de transporte de animais, 19 equipamentos de captura de animais, entre cambões, ganchos e pinções, além de 35 caixas de analgésicos e anestésicos.

Cerca de 28% do Pantanal foi consumido pelo fogo nos primeiros 10 meses do ano
© WWF-Brasil
Pantanal teve recordes históricos de queimadas em 2020
© Instituto Homem Pantaneiro
O Pantanal foi atingido por uma forte estiagem neste ano. De janeiro a maio, o volume de chuvas ficou 50% abaixo do normal
© Juliana Arini/WWF-Brasil
Mais de 21 mil focos de fogo devastaram quase um terço da área do Pantanal
© Lula Marques / Fotos Públicas
Mesmo os animais que sobrevivem sofrem com a falta de alimento após o fogo
© Andre Zumak_IHP
Brigada Comunitária participa do treinamento promovido pelo Observatorio Pantanal, coalizão do qual o WWF-Brasil faz parte
© Elias Campos
O fogo destruiu casas e cultivos da Terra Indígena Perigara
© Roberto Maridoprado
Veículo doado pelo WWF-Brasil vai ajudar o Instituto Arara Azul no mapeamento da espécie
© Silas Ismael/WWF-Brasil
Equipe do WWF-Brasil e do Cras reunidos com os materiais doados para ajudar no tratamento dos animais feridos
© Silas Ismael/WWF-Brasil
Osvaldo Gajardo, do WWF-Brasil, acompanhou o trabalho de tratamento dos animais feridos
© Silas Ismael/WWF-Brasil
Foto da matéria “Os Hippies das Matas” – Revista Ciência Pantanal, volume 05. Brasil.
© Ana Luzia Souza Lima
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