Focos de calor no Pantanal são os maiores nos últimos dez anos

maio, 07 2020

Registros de satélites no Pantanal trazem grandes preocupações sobre a incidência de queimadas na região.
Por WWF-Brasil

Seis meses após um dos piores períodos de incêndios florestais dos últimos anos, os registros de satélites no Pantanal em 2020 trazem grandes preocupações sobre a incidência de queimadas na região. Especialistas indicam que estiagem incomum para o período e manejo inadequado do uso do fogo em áreas produtivas são os principais motivos para o crescente número.

Comparando o período de janeiro a abril de 2019 com 2020 os números assustam: foram 674 em 2019, enquanto em 2020 já somam 1.456 focos, um indicativo de que a ocorrência de queimadas na região mais que dobrou de um ano para o outro. Esse número é o maior dos últimos 10 anos e é aproximadamente seis vezes maior que a média deste período. A área queimada nos quatro primeiros meses de 2019 foi de 1.172 km². Em 2020 já foi de 1.628 km² - um aumento de 38%, percentual que deve se elevar ainda mais com a crescente detecção de focos de calor.

Júlio Sampaio, gerente do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil afirma que “as práticas inadequadas e o uso do fogo como ferramenta de manejo sem técnicas e controle são elementos que neste momento põem em risco a conservação da maior área úmida tropical do planeta. A Polícia Militar Ambiental foi acionada, pois os focos têm causa intencional. Sabemos que o fogo faz parte da cultura do pantaneiro, mas no momento em que se encontra, é uma grande ameaça às comunidades ribeirinhas, às propriedades, e principalmente, ao status de Patrimônio Natural da Humanidade conferido ao Parque e áreas privadas do entorno, ressalta Sampaio.
Figura 1 - Focos de calor para os meses de janeiro a abril nos últimos dez anos. 


Julio aponta ainda que os números revelam uma grande fragilidade da região.  “O bioma pantaneiro dependente do ciclo das águas, em um cenário de mudança no regime das chuvas, o descontrole de incêndios será ainda maior. Os prejuízos para a biodiversidade e economia pantaneira serão incalculáveis. Esses fatos apontam para a necessidade de um novo modelo de gestão do fogo na região.  E isso precisa acontecer já.”. 

Figura 2 – Distribuição dos focos de calor 

 

Assim como ocorreu durante o último período de fogo na região, alguns municípios se destacam, concentrando grande número de focos. No último mês de março, Corumbá, Poconé e Porto Murtinho estiveram entre os mais afetados.  Comunidades e organizações da Sociedade Civil têm relatado nos últimos dias diversos focos de incêndio, sendo alguns deles com maior intensidade no Parque Nacional do Pantanal Mato grossense e áreas próximas da Serra do Amolar. 
 

Em tempos de pandemia de covid-19, infelizmente ações de mobilização para combater esses focos de queimadas, especialmente nas áreas protegidas, tornam-se um grande desafio. Por outro lado, considerando o período de ocorrência dessas queimadas e os municípios mais afetados, há indícios de que essas queimadas estejam associadas ao manejo inadequado de áreas produtivas. 

Aspectos climáticos também contribuem para esse aumento significativo, já que este ano registrou-se um período de estiagem incomum para o bioma.  
 

Segundo a Embrapa Pantanal, o período chuvoso da região (novembro a março) registra uma média histórica de 810 mm para o período. De novembro de 2019 até 12 de março de 2020 choveu 350 mm, o que corresponde a 43% das chuvas esperadas para a média histórica. 


O Sistema de Ocorrências de Combate a Incêndio em Vegetações atendidas pelo Corpo de Bombeiros Militar no Estado de Mato Grosso do Sul, aponta um aumento das ocorrências no interior e região metropolitana. Em março de 2019 foram 280 ocorrências, já em março de 2020 foram 408 ocorrências. “Quando aumenta o número de focos de calor, aumenta o de ocorrências atendidas pelo corpo de bombeiros militar do estado de Mato Grosso do Sul”, explica o coordenador estadual da defesa civil de MS, Fábio Santos Catarineli, destacando os principais fatores que desencadeiam as queimadas: “a ausência de chuva, baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas: estes fatores reduzem a umidade da vegetação que se torna propícia a queimar”. 


Diversas organizações da sociedade civil já estão em ação para o controle das queimadas. “Nós estamos trabalhando no combate às queimadas na região da Serra do Amolar.  São muitos focos na região da Baía Vermelha, próximos a Escola Jatobazinho, e focos no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense”, comenta a dra. Letícia Larcher, Coordenadora Técnica do Instituto Homem Pantaneiro. “Como gestores da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, faz parte de nossa rotina monitorar focos de calor na região. Na última semana observamos um aumento significativo que, com a previsão de baixo volume de chuvas, nos deixaram em alerta.” 


O Instituto, conjuntamente com membros da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, como o Instituto Acaia Pantanal, Corpo de Bombeiros de Corumbá, ICMBio, IBAMA e Marinha, realizaram sobrevoos de helicóptero, capturaram imagens com drones e enviaram técnicos a campo para avaliar as melhores ações estratégias de combate.   


Assim como no ano de 2019, os incêndios desconhecem fronteiras geopolíticas. O WWF atua para que haja uma troca de informações e inteligência de combate ao fogo nos países que compartilham esse ecossistema (Brasil, Bolívia e Paraguai). “É importante que haja ações conjuntas e coordenadas para que a situação não se agrave. Isto envolve ações preventivas, como campanhas de capacitação para fazendeiros e populações locais, mas também uma intensificação da fiscalização, monitoramento”, reforça Julio. 

Mais sobre o corpo de bombeiros e como cidadãos podem contribuir  
O corpo de bombeiros militar pode ser acionado pelo telefone 193. Outro órgão estadual que atua nos incêndios florestais é a polícia militar ambiental, que pode ser acionada pelo telefone 190 e atua na fiscalização dos crimes ambientais. Ainda no estado do Mato Grosso do Sul, existe o serviço de envio de alertas via SMS da Defesa Civil do Estado, que avisa à população sobre os riscos de incêndio em seus municípios. Para receber os alertas basta enviar um SMS para o número 40199 e digitar no corpo da mensagem o CEP da residência. 

Queimadas no Pantanal, março de 2020. Fazenda Santa Teresa, região da Baía Vermelha, acima do Castelo, Corumbá -MS. Ao fundo é possível avistar a escola Jatobazinho.
© Instituto Homem Pantaneiro
Queimadas no Pantanal, março de 2020. Fazenda Santa Teresa, região da Baía Vermelha, acima do Castelo, Corumbá -MS.
© Instituto Homem Pantaneiro
Queimadas no Pantanal, março de 2020. Fazenda Santa Teresa, região da Baía Vermelha, acima do Castelo, Corumbá -MS.
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