Especialistas debatem proteção das espécies brasileiras ameaçadas

outubro, 14 2011

Necessidade de criar unidades de conservação no país e melhorar a gestão dessas áreas, além de ampliar o conhecimento científico sobre a biodiversidade brasileira foram as estratégias destacadas para proteger as 627 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção
Por Ligia Paes de Barros, WWF-Brasil

O Brasil é o país com mais biodiversidade do mundo. Hoje são conhecidas no país cerca de 210 mil espécies, sendo 134 mil animais e 49 mil plantas. E ainda há muito mais a ser conhecido: cerca de mil espécies novas são descobertas por ano. Porém, um número significativo dessas espécies está ameaçado de extinção e se elas não forem protegidas correm o risco de entrar para a lista de espécies extintas.

Esse foi o tema do colóquio que aconteceu em Brasília, organizado pelo Senado Federal, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), cujo objetivo foi discutir a situação das espécies ameaçadas de extinção, bem como políticas de conservação, modelos jurídicos de proteção às espécies e a relação entre economia e biodiversidade.

De acordo com informações apresentadas no evento, 627 espécies da fauna e 472 espécies da flora brasileiras estão na lista de espécies ameaçadas de extinção de 2008, a última concluída pelo Ministério do Meio Ambiente.

Unidades de conservação
Algumas estratégias foram destacadas como fundamentais para conservação de tais espécies. A criação e a boa gestão das unidades de conservação é uma dessas estratégias. “68 espécies ameaçadas de extinção estão dentro das unidades de conservação. É preciso ampliar essas áreas e trabalhar uma boa gestão. O Brasil é bem sucedido em conservação da biodiversidade, mas temos que dar mais robustez ao sistema de conservação desse país”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Para Cláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF e conselheiro da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), é preciso mais investimento para que as unidades de conservação cumpram devidamente seu objetivo de proteger a biodiversidade e as espécies.  “Não dá para as unidades de conservação brasileiras serem geridas com um orçamento de 1% do 1%. O Ministério do Meio Ambiente recebe 1% do orçamento da União e o ICMBio recebe 1% desse 1%. Isso tem que mudar”, afirmou Maretti.

Pesquisas científicas e ação
De acordo com os palestrantes, também é preciso investir em pesquisas científicas para conhecer a biodiversidade do país e saber usá-la de forma responsável e sustentável.

Nesse sentido, uma nova lista de espécies ameaçadas está sendo realizada pelo Ministério do Meio Ambiente. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está liderando a pesquisa das espécies de fauna e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é responsável pelo levantamento das espécies de flora.

Uma novidade dessa nova lista, que deve contar com 10 mil espécies analisadas até 2014, é que ela está sendo realizada dentro do sistema criado pela organização União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), uma referência no inventário do status da conservação das espécies no mundo.

A integração dos dados brasileiros no sistema da UICN permitirá que as informações das espécies brasileiras sejam comparadas e integradas aos dados de mais de cem países, além de servir de base para troca de experiências com tais países para o planejamento da conservação e estabelecimento de prioridades.

A ideia do Ministério do Meio Ambiente é que até o fim do governo, em 2014, todas as espécies identificadas como ameaçadas de extinção tenham um plano de ação para sua proteção. Hoje, segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, apenas 25% das espécies de fauna ameaçadas tem esse plano.  “Esse plano de ação pode direcionar políticas públicas propiciando clareza de qual o problema e quais as possíveis soluções para reverter as ameaças”, afirmou Dias.

Parcerias
Para frear o aumento contínuo do número de espécies ameaçadas - desde fim dos anos 60, a cada nova lista brasileira são identificadas mais espécies em risco de extinção – outros fatores foram destacados.

“A parceria com o setor privado e sociedade civil para ampliar o debate e uma nova estratégia de recursos financeiros para trabalhar a conservação ambiental são necessários”, afirmou a ministra Izabella Teixeira, que também relembrou que proteger as espécies ameaçadas é um dos compromissos do país assumidos na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) no ano passado.

Espécies ameaçadas no mundo

Durante o evento, Simon Stuart, presidente da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para Conservação da Natureza, apresentou um panorama sobre o status da extinção de espécies no planeta.
Segundo Stuart, o estado da biodiversidade no mundo está piorando: o número de espécies ameaçadas está cada vez maior, as ameaças estão aumentando e as ações e respostas para tais pressões não estão acontecendo no nível que deveriam para conter as ameaças.

Confira alguns dados apresentados pelo especialista sobre as espécies ameaçadas:
- De aproximadamente 45 mil espécies analisadas, 743 foram totalmente extintas ou extintas na natureza e aproximadamente 10 mil estão seriamente ameaçadas, ameaçadas ou vulneráveis.
- Entre os grupos de vertebrados, os anfíbios são os mais ameaçados de extinção. 
- Os corais estão correndo série ameaça de extinção, com queda de população rápida, devido ao aquecimento dos oceanos
- A maior ameaça a mamíferos acontece no sul e sudeste da Ásia
- Além das causas tradicionalmente conhecidas de ameaças às espécies, novos fatores estão piorando o cenário: as mudanças climáticas e doenças infectantes estão afetando muitas espécies
- Os esforços de conservação da biodiversidade são importantes e têm resultados na proteção das espécies ameaças. Cenário estaria bem pior se não houvesse iniciativas de conservação.

Para mais informações: www.iucnredlist.org

Perereca (Rhinella gr. margarititera) encontrada no Parque Nacional Serra do Pardo.
© WWF-Brasil/AdrianoGambarini
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