Trabalho investigativo: atrás das pegadas da onça
dezembro, 21 2010
Federico Gemésio Lemos, 29 anos, especialista em mastofauna e professor assistente de zoologia e ecologia animal da UFG, campus de Catalão.
Por Ligia Paes de BarrosA III Expedição Científica à Terra do Meio, ao Parque Nacional da Serra do Pardo, contou com uma equipe de 12 pesquisadores experientes e apaixonados pelo que fazem. Eles andaram nas trilhas do Parque Nacional durante dias e noites procurando indicadores da biodiversidade local. Conheça um pouco sobre a rotina de pesquisa desses cientistas e saiba mais sobre quais plantas, aves, mamíferos, peixes, répteis e anfíbios eles encontraram durante a expedição.
Federico Gemésio Lemos, 29 anos, especialista em mastofauna e professor assistente de zoologia e ecologia animal da UFG, campus de Catalão.
- Como é sua rotina de pesquisa?
Eu e meu colega que está aqui comigo, Allan Nilo da Costa, pegamos a trilha por volta de cinco e meia da manhã e tentamos visualizar os mamíferos da região. Como essa visualização não acontece facilmente, boa parte do meu trabalho é rastrear esses animais, ou seja, procurar indícios da sua presença tais como pegadas, fezes, cheiros, arranhados em árvores. É um trabalho de investigação para tentar descobrir quem passou por aqui.
Além disso, o trabalho é complementado com as armadilhas fotográficas, que são câmeras fotográficas normais adaptadas a um sensor de calor infravermelho e sensor de movimento que penduramos no mato e que disparam quando os bichos passam. Eu saio para caminhar, faço o reconhecimento do campo, vejo onde tem pegadas, uma fruteira ou mesmo água, locais que certamente o bicho vai passar, e instalo a armadilha lá. A câmera funciona 24h e depois de um tempo, eu volto até o local e recolho a câmera. Porém, só vou saber quais os bichos que foram fotografados quando voltar para cidade e revelar o filme.
Outro método que ajuda bastante é conversar com o pessoal da região. Nesse caso, conversei com os mateiros da equipe de logística que andaram bastante por aqui e eles me deram informações dos bichos que viram por aqui.
- Quais animais você registrou no Parna Serra do Pardo?
Encontramos mais de vinte e cinco espécies de mamíferos de médio e grande porte. Esse resultado é muito positivo porque dentre essas espécies, tem algumas que são amplamente caçadas em outras regiões da Amazônia, ou mesmo no Cerrado, e que estão desaparecendo. Encontramos aqui antas, queixadas com filhotes, macaco aranha com filhotes, ariranha com filhotes, entre outros. Isso mostra que além de estarmos encontrando muitos indivíduos desses animais que são especiais por estarem ameaçados em outras regiões, estamos vendo eles com filhotes, o que indica que estão se reproduzindo.
E ainda além dessas espécies, registramos o tatu-canastra, que é uma espécies muito pouco conhecida e naturalmente rara. Em sete anos de expedições e de entradas em campo freqüente, eu só encontrei com ele uma vez.
Também registramos os predadores de topo de cadeia alimentar como onça-pintada e onça-parda que são ótimos indicadores de qualidade ambiental porque se há a presença de espécies que estão no ápice do ecossistema, quer dizer que o ecossistema abaixo está saudável.
- O que significa pra você como pesquisador participar de uma expedição como essa?
Estar no campo já é uma coisa que faz parte do meu dia a dia, mas participar de uma expedição como essa, com uma equipe tão experiente, é um privilégio. Não é minha primeira expedição na Amazônia, mas essa expedição no Parque Nacional da Serra do Pardo, que é um parque desconhecido e uma área que pouquíssimas pessoas pisaram, em um mundo tão globalizado, é uma maravilha, não só profissional como pessoal. Também é muito especial, porque é uma área que ninguém conhece. Por exemplo, todo mundo desconfiava que havia onça-pintada aqui, mas ninguém sabia de fato. Agora, nós registramos a presença da onça e podemos afirmar com certeza.
- Você não tem medo de andar no meio do mato e de encontrar, de repente, uma onça ou qualquer bicho do qual você não possa se defender?
Olha, é tão difícil ver um bicho como o tatu-canastra e uma onça no meio do mato e eu sempre quero tanto ver que entro quase em um transe, que não sobra espaço para medo. Isso é o que eu mais gosto de fazer.
Saiba mais sobre a Expedição Científica à Terra do Meio 2010:
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