Entre sapos e serpentes

dezembro, 21 2010

Apaixonada pelo som dos anfíbios: Crisalda de Jesus dos Santos Lima, 34 anos, é mestre em ciências ambientais e consultora pesquisadora de répteis e anfíbios.
Por Ligia Paes de Barros

A III Expedição Científica à Terra do Meio, ao Parque Nacional da Serra do Pardo, contou com uma equipe de 12 pesquisadores experientes e apaixonados pelo que fazem. Eles andaram nas trilhas do Parque Nacional durante dias e noites procurando indicadores da biodiversidade local. Conheça um pouco sobre a rotina de pesquisa desses cientistas e saiba mais sobre quais plantas, aves, mamíferos, peixes, répteis e anfíbios eles encontraram durante a expedição.

Apaixonada pelo som dos anfíbios: Crisalda de Jesus dos Santos Lima, 34 anos, é mestre em ciências ambientais e consultora pesquisadora de répteis e anfíbios.


- Como é sua rotina de trabalho aqui na expedição?

Eu e meu colega Dico (Raimundo Rodrigues da Silva), aproveitamos tanto o dia quanto a noite. Saímos de manhã para coletar os animais diurnos, como os sapos-folhas, por exemplo.  Se estiver chovendo, nós não saímos porque os bichos também não saem. Depois da chuva, sim, é uma boa hora para acharmos os animais porque muitas vezes o local onde eles moram alaga e eles saem, como é o caso das serpentes subterrâneas e cobras-cega. 

No período da tarde também saímos porque é uma boa hora para pegar lagartos, que geralmente estão forrageando em ambientes abertos. À noite fazemos a amostragem noturna no mesmo ambiente que fomos de dia. Geralmente ficamos de duas a duas horas e meia andando. É uma boa hora para ouvir os anfíbios vocalizando e observar o ambiente, ver serpentes como cobras de veado, que são muito bonitas, e uma serpente que é conhecida como cobra dormideira.

- Quais técnicas vocês usam para capturar os animais?

Para coletar anfíbios, nós escutamos a vocalização, seguimos o som, nos aproximamos devagar, focamos no olho do bicho e pegamos com a mão mesmo. Para serpentes, nós usamos um gancho de contenção, de mais ou menos 60 ou 70 centímetros no formato de “y”, meio curva, que mais parece uma forquilha. Quando não temos esse gancho, fazemos forquilhas de madeira mesmo e prendemos o bicho.  Mas às vezes, também conseguimos pegar com a mão. Para os lagartos, usamos uma espécie de estilingue, que na verdade é chamada de baladeira: é um elástico que a gente mira e atira no lagarto para deixá-los atordoados e podermos pegá-los. Eles são muito rápidos e se não for assim, fica difícil alcançá-los. O negócio é ficar treinando a mira. (risos).

- O que vocês fazem com os animais depois de capturados?

Uma vez capturados, os animais são preliminarmente identificados e acondicionados em sacos plásticos ou de pano, para serem transportados e posteriormente fixados em laboratório. Os répteis são mortos com nembutal e a maioria dos anfíbios imersa em etanol. Alguns exemplares são fotografados ainda em vida, uma vez que é comum perderem coloração, muitas vezes importante para a identificação sem erros da espécie. Os espécimes preservados serão catalogados e incorporados na Coleção de Herpetologia, Departamento de Zoologia, do Museu Paraense Emí¬lio Goeldi.

- O que vocês já encontraram aqui no Parque Nacional da Serra do Pardo?

No total, apesar de ainda não termos o número final, encontramos cerca de 30 espécies de anfíbios, 14 espécies de serpentes e 10 espécies de lagartos, duas espécies de quelônios e duas espécies de crocodilianos, o que é bastante significativo. Há uma diferença bem grande entre a primeira base de pesquisa e esta segunda que estamos agora. Aqui tivemos uma surpresa muito grande, pois encontramos bichos de ambiente aberto, que geralmente encontramos no Cerrado, como o sapo-cururu pequenininho e o calango que vive nas pedras e rochas. Isso é bem interessante para a Amazônia.

- Qual a sua formação e como decidiu virar pesquisadora de répteis e anfíbios?

Terminei minha graduação, depois fiz minha pós em ciências ambientais em Teresina e sempre tive interesse em zoologia. Então entrei em contato com o pessoal do Museu Emilio Goeldi, e fiz o mestrado em convênio com UFPA, Museu Goeldi e Embrapa. Toda vez que ia pra campo, o som desses bichos chamava minha atenção. Num ambiente bem escuro de floresta, eu fecho os olhos e começo a ouvir o som deles vocalizando e parece que me atrai. Não tem nada melhor que sair a noite para pesquisar e ficar ouvindo esses bichos e tentar entender a sua biologia e o papel que eles desempenham nos ambientes. Eles são animais que dizem muito sobre a integridade ambiental de áreas. 



Saiba mais sobre a Expedição Científica à Terra do Meio 2010:



Crisalda de Jesus Lima, pesquisadora de répteis e anfíbios durante a expedição ao Parque Nacional da Serra do Pardo.
Crisalda de Jesus Lima, pesquisadora de répteis e anfíbios durante a expedição ao Parque Nacional da Serra do Pardo.
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini
Raimundo Rodrigues da Silva, pesquisador de répteis e anfíbios, identificando os animais coletados durante a expedição.
Raimundo Rodrigues da Silva, pesquisador de répteis e anfíbios, identificando os animais coletados durante a expedição.
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini
Espécie de serpente coletada no Parque Nacional da Serra do Pardo.
Espécie de serpente coletada no Parque Nacional da Serra do Pardo.
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini
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