WWF-Brasil repudia o vandalismo à estátua de Chico Mendes e pede defesa das florestas

julho, 05 2022

A “derrubada” do monumento é uma tentativa de apagamento do legado do ambientalista
A “derrubada” do monumento é uma tentativa de apagamento do legado do ambientalista

Por WWF-Brasil

O WWF-Brasil repudia veementemente o vandalismo à estátua de Chico Mendes, localizada na Praça Povos da Floresta, no centro de Rio Branco (AC), na última sexta (1). A “derrubada” do monumento representa a tentativa de  apagamento do legado e da história de Chico Mendes, defensor das natureza e maior símbolo dos protetores das florestas do Estado do Acre.

O WWF-Brasil, em apoio ao Comitê Chico Mendes, espera que o poder público faça uma investigação sobre a derrubada do monumento, puna os vândalos e recoloque a estátua de Chico Mendes no lugar. O apagamento dos heróis de nossa História que se opuseram àqueles que destroem o meio ambiente não é admissível. É fundamental que o Estado reveja suas políticas públicas de proteção ao meio ambiente, aos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Assim como a estátua, o Acre precisa se levantar e proteger suas florestas e seus povos. 

Esta não é a primeira tentativa de apagar a memória de Chico Mendes no Acre. Esse processo vem ocorrendo sistematicamente - e com apoio do poder Legislativo.  Por exemplo, o  Projeto de Lei 6024/2019, apresentado no fim de 2019 pela deputada Mara Rocha (PSDB), visa reduzir em 222 km2 a Reserva Extrativista Chico Mendes, atualmente com 9.705 km2, e  regularizar terras de grileiros e invasores. A expectativa de aprovação desse PL e o explícito apoio do governo federal a infratores ambientais atraiu um contingente de invasores ligados à atividade pecuária na área da Resex. Se em 2010 eram 2.076 famílias morando no local, a maioria extrativistas, hoje estima-se a presença de mais de 3 mil - em grande parte sem nenhuma relação com o extrativismo. Esse fluxo já transformou a região da Resex em um dos principais pólos exportadores de bovinos para os estados vizinhos. 

Essa invasão fez com que a Resex Chico Mendes se tornasse a Unidade de Conservação (UC) federal mais desmatada da Amazônia. Segundo os dados do PRODES, nos 11 anos entre 2008 e 2018, a média anual era de 15,25 km2 de corte raso dentro da reserva. Em 2019 foram desmatados 75,87 km2 e, em 2020, 59,17 km2. Em 2021, foram devastados 83,8 km2  no interior da Resex. 

Como as queimadas são a etapa posterior ao desmatamento para limpeza de terras para a pecuária, elas também tiveram um salto histórico no período. Mas o desmonte ambiental no Acre não se reduz à Resex Chico Mendes. O mesmo projeto de lei recebeu uma ementa para reduzir também a Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná e extinguir o Parque Nacional Serra do Divisor. Atualmente a Resex está sem chefia e em início da temporada de queimadas, passa aos grileiros a mensagem que podem invadir e desmatar a área, que está sem proteção e gestão adequada.

Dados e denúncias não faltam, no entanto, nada tem sido feito. Ao contrário, há incentivo às invasões e grilagem das terras que historicamente serviram para proteger os povos originários e tradicionais. Por fim, para preservar a memória de Chico Mendes, é preciso não só condenar o vandalismo e reerguer sua estátua, mas também garantir a preservação da floresta e a sobrevivência daqueles que nela habitam.
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