WWF-Brasil: COP28 é decisiva para o futuro da humanidade
novembro, 28 2023
A Cúpula do Clima precisa entregar uma correção drástica do rumo para colocar a ação climática em linha com o limite de 1,5°C para o aquecimento global
A Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU que começa dentro de poucos dias poderá ser um divisor de águas para a humanidade. Como o mundo todo está vendo, o clima já mudou, com efeitos dramáticos sobre a população e a economia, especialmente as mais pobres e vulneráveis. O ano de 2023 está mostrando porque o limite de 1,5°C para o aquecimento do planeta precisa ser cumprido. No entanto, tudo o que foi feito desde o Acordo de Paris coloca o mundo perto dos 3°C de aquecimento – um cenário trágico para a vida no planeta. Para reverter essa tendência e manter as alterações do clima dentro de limites minimamente seguros, é necessário realizar cortes drásticos nas emissões dos gases de efeito estufa ainda nesta década – e é neste contexto que líderes de todos os países das Nações Unidas se reúnem em Dubai, nos Emirados Árabes. Em outras palavras: a segurança climática do mundo depende dos resultados destas negociações, que acontecem anualmente.“O Brasil chega à COP28 embalado pelos bons resultados no combate ao desmatamento da Amazônia e com a responsabilidade de quem presidirá a conferência na qual os países efetivamente apresentarão novas metas de redução de emissões para a COP30, em 2025. Por isso, o papel da nossa diplomacia nesta conferência poderá ser determinante. É fundamental que o Brasil se coloque como protagonista para a viabilidade do 1.5oC, cobrando o aumento de ambição dos demais países em todas as áreas de negociação, em especial no que se refere ao objetivo de eliminação dos combustíveis fósseis – responsáveis por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito de estufa, e quase 90% de todas as emissões de dióxido de carbono”, adverte Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil. A organização é uma das 61 organizações da sociedade civil brasileira que divulgaram uma posição conjunta cobrando que a COP28 estabeleça datas para a eliminação ordenada e progressiva da produção e consumo de combustíveis fósseis.
Para Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, os indicadores de sucesso desta conferência são claros: “A COP28 precisa entregar um balanço global da ação climática que abra caminho para a ampliação de compromissos que viabilizem a meta de 1,5°C. Não se trata apenas de mais ambição, mas de mais urgência, pois a atual década é decisiva para o sucesso”, explica. “Isso é virtualmente impossível se não enfrentarmos a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis. Esta conferência precisa entregar um compromisso forte e factível para que a transição energética seja acelerada”, completa.
Jean François Timmers, líder de incidência política para cadeias livres de desmatamento e conversão do WWF, lembra que esta COP deverá colocar em evidência também as emissões dos sistemas alimentares – tema no qual o Brasil, um dos maiores produtores mundiais de commodities agropecuárias e um dos países com maior taxa de desmatamento do Planeta, poderá ter um papel-chave. “O Brasil, onde a produção agropecuária sofreu prejuízos de quase R$ 300 bilhões entre 2013 e 2022 por causa de secas e excesso de chuva, precisa abraçar a agenda de mitigação e adaptação do setor agropecuário com urgência. Isso significa, em prioridade, reduzir drasticamente o desmatamento legal e ilegal não só na Amazônia, mas também no Cerrado e nos outros biomas, o que pode ser feito de imediato sem prejuízo à produção agrícola. Vale lembrar que as últimas décadas foram mais amenas, em termos de clima, do que se espera para as próximas, de acordo com modelagens climáticas”, adverte.
Os ecossistemas terrestres e marinhos absorveram 54% das emissões de CO2 produzidas pelo homem nos últimos dez anos, segundo o último relatório do IPCC, por isso os especialistas do WWF-Brasil entendem que a agenda climática e a agenda da conservação ambiental precisam caminhar juntas. “Além da queda no desmatamento da Amazônia, que terá impactos positivos sobre o compromisso de florestas, o Brasil pode liderar esforços em relação a outros biomas, como as savanas, dentro do contexto da luta contra a destruição do Cerrado – que é a maior savana do mundo, com 5% da biodiversidade global”, lembra Jean-François.
A conservação de biomas que armazenam e capturam carbono deve incluir e beneficiar as populações que vivem nesses locais. “Os povos indígenas, quilombolas e populações locais são os que mais protegem os biomas e, com isso, têm tido um papel crítico para manter a segurança climática do planeta. No entanto, nossas vozes raramente são ouvidas e nossas necessidades não estão na mesa de negociação com a relevância necessária. Podemos contribuir com sólidos conhecimentos tradicionais, porém precisamos de apoio na forma de políticas públicas que nos apoiem e defendam. No caso do Brasil, os números mostram o genocídio contra populações indígenas e os ataques aos defensores da natureza. Isso precisa acabar imediatamente: somos parte da solução e precisamos ser ouvidos e respeitados”, declara Angélica Mendes, coordenadora do programa Vozes pela Ação Climática Justa pelo WWF-Brasil.
Flávia Martinelli, especialista em mudanças climáticas do WWF-Brasil, ressalta que a redução da pobreza e da desigualdade é um caminho essencial para adaptação climática, já que as comunidades mais vulnerabilizadas possuem menos condições e ferramentas para lidar com eventos climáticos extremos. Para ela, neste momento é urgente alinhar as questões de financiamento global. “O impasse sobre financiamento que tem marcado todas as conferências climáticas precisa ser finalmente superado para que as negociações climáticas avancem para outro patamar, mais focado na implementação dos acordos. Este ano, que deve ser o mais quente em 125 mil anos, está mostrando que a mudança do clima é uma questão de segurança nacional, saúde pública, segurança alimentar e economia. Portanto, esta COP é um ótimo momento para que o financiamento climático passe a fluir em volume e ritmo condizentes com o tamanho do desafio que estamos enfrentando e precisa chegar de forma eficiente em comunidades mais vulneráveis às consequências da crise climática”, analisa. Para Flávia, os indicadores de sucesso desta conferência na parte financeira são claros: “A meta de US$ 100 bilhões por ano precisa ser cumprida e ampliada e precisamos duplicar o financiamento para adaptação até 2025. Além disso, o fundo de perdas e danos precisa ser operacionalizado rapidamente e dotado de recursos alinhados à sua função”.