Eleição de Lula prova que brasileiro quer natureza protegida e respeito aos povos originários

outubro, 31 2022

Nota de posicionamento do WWF-Brasil sobre o resultado do pleito presidencial
Nota de posicionamento do WWF-Brasil sobre o resultado do pleito presidencial

Por WWF-Brasil


O WWF-Brasil vem a público parabenizar o recém eleito Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, escolhido democraticamente por 51% dos brasileiros e das brasileiras num processo eleitoral que, assim como os anteriores, se mostrou seguro, confiável e limpo.

O novo Presidente da República herdará um país dividido politicamente e com numerosos e profundos problemas a serem resolvidos. O primeiro e mais imediato, sem sombra de dúvidas, é a fome, que voltou a assolar milhões de famílias nos últimos anos. A prioridade número um do novo governo deve ser não apenas garantir uma renda mínima a essas famílias, mas também condições para se alimentar bem. Em seu primeiro governo, Lula estruturou, com ampla participação da sociedade, um dos mais exitosos programas de soberania alimentar e incentivo à produção de alimentos saudáveis do mundo, que foi o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), totalmente desestruturado sob a gestão Bolsonaro. Sua tarefa será colocar de pé novamente essa premiada política pública, que tanta diferença fez nas vidas de agricultores familiares, responsáveis pela produção de alimentos livres de agrotóxico, e das famílias carentes, que puderam consumir alimentos bons para a saúde e o ambiente.

Mas há um outro problema tão urgente quanto o da fome que demandará uma ação contundente e imediata: o desmatamento sem controle no país. O desmatamento na Amazônia cresceu 73% entre 2019 e 2021 e apenas nesse período perdemos uma área de floresta maior que a do Estado de Alagoas. Se continuar nesse ritmo, até o fim do novo mandato presidencial alcançaremos o extremamente perigoso ponto de não retorno, o que poderá comprometer não só a própria existência da maior floresta tropical do Planeta, mas também a produção de alimentos no restante do país, a qual depende das chuvas produzidas pela floresta. A destruição da floresta produzirá um problema crônico de fome num futuro próximo.

O histórico de Lula no combate ao desmatamento da Amazônia deveria nos trazer otimismo, afinal ele conseguiu reduzir as taxas anuais em 70% entre seu primeiro e último ano de mandato. Mas a situação atual é bastante diferente. Durante a gestão Bolsonaro, os órgãos ambientais foram desmontados, o orçamento, cortado e o desmatamento, incentivado --inclusive aquele praticado de forma ilegal. Reverter essa situação demandará tempo, inteligência, recursos financeiros, cooperação internacional e, sobretudo, vontade política.

O resultado das eleições demonstra que pelo menos esse último existe: o presidente eleito disse mais de uma vez --e voltou a reafirmar em seu primeiro discurso após a vitória-- que iria atuar firmemente contra o desmatamento ilegal, contra a invasão de terras indígenas e contra a ameaça a defensores ambientais, ao contrário do que disse e vem praticando o governo Bolsonaro. Podemos considerar, portanto, que sua vitória é um endosso popular a essa proposta.

O duplo desafio de combater a fome de hoje e a fome de amanhã exigem a convergência do desenvolvimento econômico com a sustentabilidade e a preservação ambiental, motivo pelo qual acreditamos que Lula liderará essa agenda, podendo deixar um valioso legado para o país.


Mas, para conseguir de fato inverter a trágica tendência atual, o presidente eleito terá que não só arrumar a casa, reestruturando os órgãos ambientais e eventualmente criando uma secretaria especial para tratar da agenda climática, mas também precisará negociar muito com o Congresso Nacional. Há vários projetos de lei aguardando aprovação que são verdadeiras bombas, por beneficiarem criminosos ambientais e eliminarem regras de proteção. Se aprovados, produzirão inexoravelmente mais destruição no curto e no longo prazo. Lula terá que rapidamente compor uma base parlamentar que possa impedir o avanço dessas propostas e sua tarefa não será fácil, apesar do apoio popular.
 
O brasileiro quer um país que volte a ser respeitado internacionalmente e retome seu  protagonismo global na luta contra a crise climática. Podemos ser os maiores exportadores agrícolas do Planeta preservando a maior floresta tropical do planeta e o que restou dos demais biomas de nosso território, com respeito às comunidades e povos tradicionais. Precisamos apenas voltar à razão, ao debate qualificado e à construção coletiva de soluções viáveis. Se traçarmos esse caminho, seguramente teremos apoio internacional e voltaremos a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável. Essa é a esperança e o desejo do WWF-Brasil.
Apoiadores celebram a eleição do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para seu 3° mandato, com vitória em 2º turno nas eleições 2022.
© Fernando Frazão/Agência Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente da República, vota na escola Escola Estadual Doutor João Firmino Corrêa de Araújo, em São Bernardo do Campo em 30 de outubro de 2022
© Rovena Rosa/Agência Brasil
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