dezembro, 19 2022
Por WWF-Brasil
A exploração de petróleo é a segunda atividade que mais emite gases de efeito estufa no planeta. Entretanto, esse recurso vem sendo utilizado durante décadas como principal fonte de energia pela sociedade, nos cosméticos, na medicina e até na fabricação de plásticos. Além disso, é o principal combustível utilizado nos meios de transporte. Ao longo de seu processamento, diversos impactos ambientais são gerados direta ou indiretamente, sendo alguns reversíveis e outros não, desde a degradação do solo, água e ar, atingindo todos os seres vivos.
A indústria de petróleo e gás natural é responsável por produzir e emitir gases de efeito estufa, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis. O Brasil também conta com um histórico de tragédias ambientais envolvendo derramamento de petróleo no mar. A maior da história do país aconteceu em agosto de 2019, no litoral do Nordeste. Mais de 5.000 toneladas de óleo foram retiradas pelo Ibama de praias entre 2019 e fevereiro de 2020. Em dezembro de 2021, a investigação da Polícia Federal apontou um navio petroleiro de origem grega como sendo o responsável pelo vazamento do óleo no mar.
Nos últimos anos, a indústria de petróleo e gás passou por profundas transformações no país. O investimento em exploração tornou o Brasil autossuficiente em petróleo cru, com a descoberta do pré-sal, ampla capacidade de produção de derivados e atração de investimentos privados. Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Serviço de Petróleo, atualmente cerca de 340 mil pessoas trabalham para empresas do ramo de exploração de petróleo, e toda a cadeia de petróleo e gás gera 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos. Em média, foram produzidos 3,76 milhões de barris de óleo, gás natural ou líquido por dia no Brasil no ano passado. Além disso, o setor deve investir em média R$ 102 bilhões por ano no Brasil, nas atividades de exploração e produção, até 2025.
As mudanças climáticas e o aquecimento global tornaram urgente a necessidade de se discutir o impacto da indústria petrolífera no meio ambiente. Cada vez mais, as práticas de obtenção de lucros sem consciência ambiental vêm sendo questionadas pela sociedade civil e nos negócios, que colocaram a responsabilidade ambiental uma questão obrigatória para o desenvolvimento das práticas econômicas, sociais e de bem-estar da sociedade.
A crise global de energia causada pelo aumento dos preços dos combustíveis também abriu oportunidades para acelerar a transição energética. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), as energias renováveis serão a principal fonte de geração de eletricidade no mundo em 2025. Na Conferência do Clima (COP27), no Egito, governos de nações ricas e empresas petrolíferas foram criticadas por impulsionarem o aquecimento global e pelos danos causados às economias de países em desenvolvimento.
A pressão ambiental já atingiu grandes empresas como a Shell. Um tribunal holandês determinou que a unidade da companhia no país reduza drasticamente suas emissões de gás carbono. A empresa deve cortar suas emissões de CO2 em 45% até 2030 em relação aos níveis de 2019. Isso inclui as emissões de suas próprias operações e dos produtos de energia que vende. Outras gigantes como BP, Total, Eni, Equinor e Repsol estão evoluindo do perfil de grande empresa de petróleo e gás para o de empresas sustentáveis de energia, com crescentes investimentos em energias renováveis. Especialistas também destacam a necessidade de petroleiras brasileiras de incorporarem na sua estratégia de mudança climática não a descarbonização, a produção de biocombustíveis limpos e de geração de energia, utilizando fontes renováveis.
O governo brasileiro também se comprometeu, durante a COP26, com a redução de 50% das emissões de gases associados ao efeito estufa até 2030. As sociedades, os investidores e os governos estão, cada vez mais, preocupados com as mudanças climáticas e pedindo uma transformação total da economia global, que atualmente depende de combustíveis fósseis para 80% de sua energia. Nesse cenário, as empresas de petróleo que ignorarem a mudança terão sua lucratividade afetada.