O resgate

novembro, 03 2008

Às 5h30, acordamos. Ele tentou dar a partida no motor, mas nada. Tomei o resto da água potável que tínhamos e comemos algumas bolachas de água e sal. Foi quando avistamos um barco, ao longe. Socó sentou-se na proa da voadeira e remou apressadamente. O barco estava atracado na margem oposta da ilha onde passamos a noite.
Por Ana Cíntia Guazzelli

Às 5h30, acordamos. Ele tentou dar a partida no motor, mas nada. Tomei o resto da água potável que tínhamos e comemos algumas bolachas de água e sal. Foi quando avistamos um barco, ao longe. Socó sentou-se na proa da voadeira e remou apressadamente. O barco estava atracado na margem oposta da ilha onde passamos a noite. Apesar do esforço do barqueiro, a correnteza do rio anunciava que não conseguiríamos alcançar a embarcação. Mesmo assim, não nos desesperamos e, quando chegamos exatamente na metade do trajeto, um pescador veio nos socorrer.

Era o barco Princesa Amazônia, com 12 amigos paulistas e mineiros praticantes de pesca esportiva. Eles nos deram café e pão. E, sem outra opção, decidimos ir até Barcelos, rebocados. No trajeto, um dos mecânicos da embarcação consertou nosso motor. Depois dos agradecimentos, partimos.

Eu estava exausta, mas tentei o tempo todo animar o piloteiro. Tínhamos consciência da preocupação de todos e não ficamos surpresos quando nos deparamos, depois de mais de uma hora de viagem, com uma outra voadeira de nossa expedição, trazendo o repórter cinematográfico Robson Maia e o fotógrafo Zig Koch, que saíram para nos resgatar.

Certa de que agora sim chegaríamos ao barco grande, fomos surpreendidos por uma tempestade de mais de meia hora. Estávamos em um pedral, a uma hora e meia de Moura. Nosso abrigo, desta vez, foi uma ilha de pedras, onde esperamos a chuva e o vento diminuírem para, enfim, continuar a viagem de volta.

Quando chegamos, após 36 horas da minha saída, os rostos espantados de técnicos, pesquisadores e tripulação dos dois barcos nos aguardavam na beira do flutuante. Com sorrisos largos e uma salva de palmas, fui recebida, emocionada, por todos que estavam ansiosos para saber o que havia ocorrido. Nem logo terminei as explicações, fui convocada para uma reunião emergencial, que definiria a volta dos pesquisadores para Manaus.

Ontem, iniciamos a segunda fase da Expedição Mariuá-Jauaperi. Até o dia 8 de novembro, percorreremos todas as comunidades da área prevista para a criação da Resex Baixo Branco-Jauaperi. Acompanhada de líderes comunitários militantes pela criação desta unidade de conservação, uma equipe formada por funcionários da Fundação Vitória Amazônica, WWF-Brasil, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentável (SDS-AM) e do ICMBio, realiza reuniões diárias nas comunidades, apresentando a expedição e esclarecendo dúvidas quanto à criação da reserva extrativista.

Hoje, visitamos a comunidade de Vila Floresta, onde um dos líderes do Movimento Pró-Resex, sr. Francisco Mendes, teve sua casa destruída criminosamente pelo fogo, no dia 28 de setembro deste ano. Este será o tema do nosso relato de amanhã.

Expedição volta para o rio Negro, assim como a chuva
© WWF-Brasil / Zig Koch
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