Em noite de ‘boiadas’, Congresso avança em direção à destruição do meio ambiente e dos povos indígenas
maio, 25 2023
Mata Atlântica, marco temporal e pastas ambientais estão na mira do desmonte ambiental
Por WWF-Brasil Apenas em um dia, o Congresso conseguiu avançar em três frentes na agenda anti ambiental. Na iminência do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre marco temporal para a demarcação das terras indígenas, a Câmara dos Deputados aprovou urgência para o Projeto de Lei 490/2007, sobre o mesmo tema. A Mata Atlântica entrou na berlinda com a aprovação da MP 1150, que abre a possibilidade de mais desmatamento. E os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas foram esvaziados com a retirada de importantes ferramentas de governança e gestão.
O WWF-Brasil entende que esse movimento evidencia um retrocesso do Congresso, que insiste em uma agenda ultrapassada que pode colocar o Brasil à margem do desenvolvimento mundial. Aparentemente, os congressistas ainda não perceberam a chance do Brasil liderar a pauta mundial em questões socioambientais. No caso da base aliada, os votos dados contrariam a proposta governamental que foi eleita perante o Brasil e o mundo, de fortalecer a área socioambiental.
PL 490/2007
Foi aprovado para tramitar em regime de urgência o PL 490/2007 que considera a constituição de 1988 como marco temporal para a demarcação de terras indígenas. Se aprovado, pode representar uma perda de 63% de terras indígenas demarcadas ou em processo de demarcação. A iniciativa abre a possibilidade de rever os limites de terras cujos processos demarcatórios já foram finalizados, o que levará não apenas à estagnação no tamanho de terras oficialmente reconhecidas, mas também à diminuição de algumas. Esse processo pode gerar grande insegurança jurídicas e impasses jurídicos que favorecem os conflitos fundiários.O WWF-Brasil repudia essa iniciativa do Congresso, tanto pelo impacto sobre os povos indígenas, como pela crise institucional que ela engendra, uma vez que a votação conflita com o julgamento do tema pelo Supremo Tribunal Federal, marcado para o dia 7/6. Trata-se, portanto, de uma clara - e desnecessária - tentativa de confrontar o STF.
MP 1154/2023
Na prática, o texto substitutivo dessa medida provisória aprovado em Comissão Mista esvazia os ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e dos Povos Indígenas. E assim retomam o mesmo papel que tinham no Governo anterior. Ou seja, o desmonte ambiental ocorrido nos últimos anos segue como antes, a depender do Congresso Nacional.O assunto deve seguir para votação na Câmara. Mais uma vez os rumos do futuro ambiental estão na mão do Congresso Nacional, que precisa avaliar quem sai ganhando com o esvaziamento das pastas. O Governo, bem como seus aliados precisam se movimentar para que a imagem do Brasil não caia no descrédito internacional.
Confira as mudanças mais relevantes que a versão aprovada da MP propõe: :
- Saída do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do MMAMC: , instrumento importante de monitoramento e gestão ambiental seria transferido para o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Isso cria dificuldades no uso dos dados e na gestão do sistema, afetando a agenda de regularização ambiental de propriedades rurais no país.
- Demarcação de terras indígenas sai do MPI: a transferência da demarcação de terras indígenas para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, esvazia os poderes desse novo ministério.
- Gestão ambiental sai do MMAMC: A transferência da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Sistema Nacional de Gerenciamento e Gestão de Recursos Hídricos (SIGRH) do MMA para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, enfraquece a integração da política de recursos hídricos com a ambiental, algo urgente.
A mudança da Gestão de Resíduos Sólidos do MMA para o Ministério das Cidades e a transferência do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento para o Ministério das Cidades retira o poder de ações estratégicas da pasta.
MP 1150/2022
A Medida Provisória 1150 foi aprovada ontem (24) com vários “jabutis” que ameaçam o futuro da Mata Atlântica. O texto original visava prorrogar o prazo de adesão dos produtores rurais ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), mas a versão aprovada vai muito além, fragilizando legislações que protegem esse bioma, abrindo a possibilidade de desmatamento em áreas de risco e desprotegem Unidades de Conservação (UCs).O texto já havia sido modificado pelo Senado que, na ocasião, retirou todos os dispositivos alheios ao tema da MP, mas a Câmara dos Deputados rejeitou o texto e retomou os jabutis, deixando o impasse das duas casas para decisão do Presidente da República que pode aprovar ou rejeitar o texto. Por isso, o WWF-Brasil solicita o veto ao texto apresentado, que terá a chance de reafirmar para o Brasil e para o mundo o seu compromisso com a agenda socioambiental.
Aspectos mais problemáticos do projeto aprovado pela Câmara dos Deputados:
- Adiamento da data limite para inscrição no CAR: prorroga pela sexta vez o prazo para inscrição no CAR a fim de que o proprietário ou possuidor possa gozar de benefícios quando de sua adesão ao PRA;
- Criação de obstáculos para adesão ao PRA: vincula a adesão ao PRA a um custoso processo de análise e validação de informações, o que pode atrasar ainda mais a implantação do programa, já atrasada em 10 anos;
- Retirada de proteção à Mata Atlântica: altera diversos dispositivos da Lei da Mata Atlântica (Lei Federal 11.428/06), abrindo espaço para um aumento no desmatamento da vegetação mais bem preservada (primária e secundária) desse bioma, que é o mais destruído do país; reduzas salvaguardas para a ocupação de Áreas de Preservação Permanente urbanas, induzindo a ocupação de áreas de risco; diminui, arbitrariamente, as Zonas de Amortecimento de Unidades de Conservação que estejam próximas a áreas urbanas, debilitando a utilidade desse instrumento legal.