Mais de 900 botos rastreados ao longo do rio Amazonas

fevereiro, 18 2020

Entre 09 e 17 de janeiro, 12 pesquisadores percorreram 950 km do rio, entre Peru, Colômbia e Brasil
Entre 09 e 17 de janeiro, 12 pesquisadores percorreram 950 km do rio, entre Peru, Colômbia e Brasil

Por WWF

Conforme contamos aqui, em janeiro, um grupo de cientistas da Iniciativa dos Botos da América do Sul (SARDI, da sigla em inglês) fez uma expedição para mapear os botos cor-de-rosa e cinza, em um trecho do rio Amazonas entre Peru, Colômbia e Brasil. Os 12 pesquisadores registraram mais de 900 desses cetáceos, alertando para uma quantidade menor na zona brasileira. As principais ameaças aos animais são ferimentos causados ​​por hélices de embarcações.

A expedição científica durou nove dias e percorreu um trecho de 950 quilômetros do rio Amazonas, passando por Peru, Colômbia e Brasil. Os cientistas registraram 484 botos cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e 442 botos cinza (Sotalia fluviatilis).

Parte do objetivo dos cientistas que participaram da viagem (da Fundação Omacha, Instituto Mamirauá, Solinia e WWF) era contabilizar os cetáceos para realização de análises estatísticas sobre as tendências desses animais na região. Ou seja, saber se o número de botos permanece estável, diminui ou aumenta ao longo do tempo.

“O que poderemos comparar é o trecho do Peru, de Iquitos a Santa Rosa, que já havia sido feito em 2015, e temos uma base para comparar. Já o trecho do Brasil, desde a fronteira até Santo Antônio do Içá, nunca havia sido realizado, ou seja, não há ainda informações com as quais comparar as populações de botos do rio”, explica Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá.

Um dado impressionante da expedição, até agora, é que na área coberta pelo rio Amazonas, a espécie Inia geoffrensis (conhecida como boto cor-de-rosa) é um pouco mais abundante que a espécie Sotalia fluviatilis (boto cinza), enquanto em outros rios os cientistas descobriram que a espécie Sotalia fluviatilis é muito mais numerosa, como comenta Fernando Trujillo, diretor científico da Fundação Omacha.

Embora, em geral, os resultados preliminares da contagem de botos tenham sido encorajadores, os cientistas da expedição identificaram alguns alertas. Um deles é "o maior número de botos encontrados entre o Peru e a Colômbia, enquanto houve uma redução aparente no setor brasileiro do rio Amazonas", acrescentou Trujillo.

Outro alerta para o grupo de expedição foi o encontro com um boto com cicatrizes muito evidentes de uma hélice na área de Iquitos (Peru). O animal era um boto cor-de-rosa e tinha cerca de seis cortes na barbatana dorsal, aparentemente causados ​​pela hélice de um barco, demonstrando que o aumento da população e a maior quantidade de tráfego fluvial podem se tornar uma grande ameaça.

A presença deste boto ferido já havia sido notada antes da expedição pela organização Solinia. Essa situação também pode estar relacionada ao crescimento que os centros urbanos da Amazônia estão tendo e à atividade mais intensa de transporte fluvial e de carga.

Por outro lado, além dos cientistas do Peru, Brasil, Colômbia, Espanha, México e Bélgica, que participaram da expedição, o trabalho também incluiu um jovem indígena da tribo Ramsar Lagos de Tarapoto. O nome dele é Dávinson Silva, um aspirante a biólogo, que acompanhou o passeio e contribuiu com notas sobre a espécie.

É muito importante que essas atividades relacionadas aos botos também protejam outros animais "porque, além de contabilizar os botos, estamos fazendo um diagnóstico das condições das massas de água", diz Fernando Trujillo.

Essa expedição faz parte do esforço do SARDI de estudar a Amazônia em diferentes áreas, devido à sua diversidade. Os rios são diferentes de acordo com o local e seus tipos de águas, sejam brancas, pretas, mistas ou límpidas, cada uma delas com características próprias, ameaças e abundância de certas espécies de peixes.

Portanto, é essencial coletar amostras dos diferentes rios da região para conhecer os botos na Amazônia. Dessa forma, o SARDI continua seu trabalho de conservação de botos e seus habitats, com a ideia de contribuir para estratégias mais eficazes de proteção e cujo alcance atravessa as fronteiras dos países.
Pesquisadores da Iniciativa dos Botos da América do Sul (SARDI, da sigla em inglês) mapeiam mais de 900 botos cor-de-rosa e cinza na Amazônia
© SARDI
As principais ameaças para os botos são ferimentos causados por hélices de embarcações, como o boto da foto, encontrado em Iquitos (Peru) com cicatrizes muito evidentes de uma hélice
© SARDI
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