Lacuna de emissões: rota para 1,5ºC está fugindo do alcance rapidamente devido à inação climática
outubro, 25 2024
O WWF pede aos governos que apresentem planos de ação climática mais ambiciosos e acelerem sua implementação, já que o último Relatório sobre a Lacuna de Emissões mostra que os esforços atuais nos colocam no caminho que leva a níveis catastróficos de aquecimento global
Por WWFNíveis sem precedentes de ambição e ação climática são necessários nos próximos cinco anos se o mundo quiser limitar o aquecimento global a 1,5oC, de acordo com o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024 do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA)
O relatório mostra que os planos governamentais atuais e o ritmo de implementação devem resultar em aumentos devastadores de temperatura de 2,6oC a 3,1oC ao longo do próximo século. O relatório surge no momento em que os países se preparam para enviar novos planos climáticos nacionais – Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs – nos próximos meses.
Stephanie Roe, Cientista-Chefe Global do WWF Energia e Clima e autora principal do Relatório sobre a Lacuna de Emissões do PNUMA, disse: “Esta rodada de planos climáticos nacionais é um momento crítico para os países aumentarem sua ambição para 2030. Se esses planos e sua rápida implementação não forem realizados, ultrapassaremos o limite de 1,5°C. Para além desse limiar, o mundo enfrenta riscos consideravelmente maiores de cruzar pontos de não-retorno que podem desencadear danos irreversíveis aos ecossistemas e às vidas e meios de subsistência das pessoas. Este ano oferece uma janela fundamental para uma ação decisiva.
“A boa notícia é que temos as soluções. O relatório mostra que o mundo tem potencial mais do que suficiente para fechar a lacuna de emissões em 2030 e 2035, e que muitas das soluções também impulsionam o desenvolvimento sustentável, com melhorias na qualidade do ar e da água, mais empregos e mais biodiversidade. Também há tendências interessantes em andamento em vários países, incluindo a superação das metas de eliminação gradual do carvão e a rápida adoção de energia renovável e veículos elétricos. Esses sucessos e outras soluções precisam ser rapidamente ampliados.”
Shirley Matheson, Coordenadora Global de Melhoria das NDCs do WWF, disse: “Precisamos de um salto quântico na ação climática, em particular por parte dos maiores emissores. A avaliação da ONU é severa. As emissões estão aumentando, e a inação governamental deixou nosso mundo em perigo. Mas ainda há uma chance de mudar de rumo. Se os governos agirem decisivamente e com urgência, ainda podemos manter ao nosso alcance o estreito caminho que leva a 1,5°C. Os países devem se esforçar e apresentar planos climáticos ousados e revisados para 2030 e 2035, que estejam totalmente alinhados com o limite de 1,5°C, e agir rapidamente para implementá-los. Esses planos são uma oportunidade de redefinir a ação climática de acordo com o que é necessário para garantir um futuro mais seguro, limpo e próspero para todos.”
Alexandre Prado, Líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, disse: "Com poucos dias para a COP 29, e com a COP 16 em pleno andamento, este relatório é mais um alerta para o pedido de socorro do planeta e de como caminhamos para o abismo coletivo. A origem desta trágica caminhada está nas emissões de gases de efeito estufa de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral) e no desmatamento. Sabemos o que fazer, sabemos como fazer e sabemos das dificuldades e desafios, mas temos que ter lideranças para enfrentá-los. Lideranças que sejam ousadas e mostrem o caminho, mesmo contrariando os imensos interesses para manter tudo como está. A tragédia no Sul, a maior seca da história e as queimadas na Amazônia e no Pantanal nos mostraram que da forma como está, já era."
A diretriz do WWF para planos climáticos nacionais ambiciosos pede que os países incluam roteiros para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, transformar os sistemas alimentares e interromper e reverter a perda da natureza. Para manter o aquecimento global em no máximo 1,5 °C, as emissões globais precisam ser reduzidas em 43% até 2030, 60% até 2035 e atingir zero líquido até 2050.
Um financiamento climático consideravelmente maior será essencial para permitir que os países em desenvolvimento cumpram seus planos climáticos. Na conferência climática da ONU, COP 29, em novembro, os países devem acordar uma nova meta de financiamento climático que atenda às necessidades dos países em desenvolvimento e desbloqueie a ação climática em grande escala.