Parque Nacional do Monte Pascoal: conheça trilhas, praias e etnovivências
setembro, 27 2024
De lagoas de água doce à troca cultural com Pataxós, local cheio de possibilidades é refúgio de biodiversidade na Mata Atlântica
Por Laís David, do WWF-Brasil “Um verdadeiro arquipélago verde de riquezas naturais, fauna excepcional, etnovivências e saberes ancestrais no meio do país’’. É com tal admiração que a ciclista Rafaela Pires, de 22 anos, se refere ao Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal (PNHMP), uma das poucas áreas remanescentes de Mata Atlântica no sul da Bahia.
Criado em 1943 por um decreto presidencial, o parque foi oficialmente implantado como uma unidade de conservação (UC) de proteção integral em novembro de 1961. Único dos parques nacionais a conter “histórico” em seu nome, o Parna Monte Pascoal é reconhecido como a primeira porção de terra do Brasil a ser avistada por navegadores portugueses em 1500, quando os povos originários chamavam o país de Pindorama.
Patrimônio Mundial Natural pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o PNHMP tem diversos atrativos turísticos e culturais em seus 22,5 mil hectares, como trilhas, praias, rios, passeios de barco e de buggy, monumentos, experiências culinárias e etnovivências.
Herança ancestral
É impossível falar do Monte Pascoal sem mencionar o povo Pataxó e sua história de resistência. Demarcado há mais de 60 anos, o território original do parque se sobrepôs à Terra Indígena Barra Velha (TI), uma questão que no passado causou conflitos e a dispersão dos Pataxós, pois muitos ficaram impossibilitados de cultivar, pescar e viver no local.“Foi uma época muito difícil para os nossos parentes, impedidos de viver na própria terra”, lembra o cacique Guaru Pataxó, uma das lideranças da aldeia Pé do Monte, localizada na entrada do parque. Guaru detalha que esse cenário começou a mudar em 1980, com a demarcação de 8 mil hectares da TI Barra Velha, e se consolidou em 1991, com a retomada pacífica dos Pataxós.
Agora, o povo indígena, que apoia a administração do parque junto ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), tem autonomia e lidera a gestão da área para a prestação de serviços de turismo aos visitantes. Devido à extensão da região, o turismo do PNHMP pode ser dividido entre dois setores: o florestal e o litorâneo, enquanto o etnoturismo pode ser encontrado em qualquer um deles.
Paralelamente a esse movimento, surgiu a necessidade de fomentar uma nova cadeia socioeconômica centrada nas pessoas. A articulação necessária para fazer isso acontecer estava construída desde a campanha contra o leilão de blocos de petróleo próximos ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Foi assim que, sob demanda de organizações locais e apoio do WWF-Brasil, começou a se desenhar um roteiro de integração para as Unidades de Conservação da região que visasse seu uso público e promovesse geração de renda sem ameaçar os ecossistemas.
Ao todo, o projeto apoia diretamente três Parques Nacionais (Pau Brasil, Monte Pascoal e Descobrimento), mas indiretamente os benefícios são sentidos em mais cinco Unidades de Conservação, sendo Reservas Extrativistas, Refúgio de Vida Silvestre e Parque Nacional Marinho, em uma área de 4473 km² ao longo das costas do Cacau, do Descobrimento e das Baleias.
Florestal: a subida ao Monte
Em seu setor florestal, o PNHMP possui florestas, monumentos, diversos atrativos e trilhas que conservam a riqueza da fauna e da flora da Mata Atlântica. Sua maior atração é a subida o Monte Pascoal, uma caminhada de 1,7 km e que atinge 536 metros de altura em relação ao nível do mar. Em 2h30 de trajeto, guias Pataxós contam histórias sobre a floresta, relatam conhecimentos ancestrais sobre a mata e oferecem orientações aos visitantes. O esforço da subida é totalmente recompensado pela vista maravilhosa do mar.Além da subida ao Monte, o parque conta com outras trilhas: a Juerana, um percurso de 320 metros que leva a uma árvore milenar de mesmo nome; a Araponga, uma trilha de 350 metros ideal para avistar diferentes espécies de aves; e a Jequitibá, um percurso de 640 metros até a árvore homônima que alcança 50 metros de altura.
A história dos Pataxós também está presente nas trilhas: na entrada, há uma praça que leva ao Monumento de Resistência dos Povos Indígenas, construído em 2001. Na floresta, uma caminhada de cerca de 500 metros leva ao Txag'rú Mirawê (Lugar Sagrado), nascente do rio Corumbau utilizada para o batismo dos kitok (crianças Pataxós).
O parque também abriga diversas espécies ameaçadas, como papagaio-chauá, gavião-pomba, pica-pau-de-coleira-do-sudeste, onça-pintada e tatu-canastra. Sua vegetação exuberante é caracterizada como Floresta Tropical Pluvial e é muito similar à Hileia Amazônica, com árvores de grande porte, como braúnas, jatobás, gameleiras, maçarandubas e jequitibás.
Para uma experiência completa, existe a Travessia do Mar ao Monte: saindo da portaria do parque até a Reserva Porto do Boi, local em que ciclistas e pedestres fazem um percurso de 46 km entre a mata e as aldeias, atravessando a floresta.
Parte litorânea
A 40 km das florestas do Monte Pascoal, o cenário é uma imensidão azul. Ruas de areia fofa levam a uma natureza preservada com rios, praias e lagoas de água doce - é ali que está situada a comunidade litorânea Caraíva, reconhecida internacionalmente como um patrimônio histórico e natural e, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como o vilarejo mais antigo do Brasil.“Nem todas as pessoas que visitam Caraíva sabem que as praias e todo o entorno da vila estão no parque, mas toda essa beleza também faz parte de nossa extensão”, conta Liliane Lago, agente ambiental do ICMBio no PNHMP. Para entrar na vila, é necessário atravessar o rio Caraíva de canoa e, dentro da comunidade, andar a pé. “Não existe asfalto, não existem carros por aqui. Os bairros são lindos, feitos para se caminhar a pé, sobre a areia’’, complementa.
Por ali, é possível experimentar a famosa culinária local, passear de canoa ou boia-cross nos rios Caraíva e Corumbau, andar de buggy por uma estrada de terra e tomar um banho de mar na Praia da Barra. Todas as atividades podem ser realizadas pelas associações das comunidades locais, nos moldes do turismo de base comunitária.
Caraíva também possibilita uma imersão na cultura Pataxó, na Reserva Porto do Boi, a 6 km da vila. Na aldeia, turistas podem vivenciar uma experiência étnica por um dia, entre rituais de purificação energética e espiritual, pinturas corporais e celebrações.
“É uma etnovivência. Compartilhamos com os visitantes nossos cantos, história, culinária, banho de ervas medicinais, roda de dança e tudo mais”, diz Tapy Pataxó, uma das lideranças da reserva. “[Com esse trabalho], a gente pode sobreviver do próprio espaço. Não só nós, mas também os nossos parentes Pataxós com os buggys e nossos vizinhos de Caraíva, com as lanchas.”
Visita
O parque recebe pessoas em qualquer época do ano. A entrada é gratuita, mas todas as trilhas devem ser feitas com a contratação de um condutor indígena de visitantes. Em Caraíva, os serviços também são oferecidos por comunidades locais.Algumas aldeias dispõem de estadia, mas é necessário agendar com antecedência. Para visitantes do parque, Itamaraju fica a 30 km da entrada principal e conta com opções de hotéis e pousadas. Em Caraíva, turistas podem se hospedar na Vila de Caraíva ou na aldeia Xandó.
Serviço
Parque Nacional Histórico do Monte Pascoalparquemontepascoal@icmbio.gov.br
Aberto de segunda a sexta, das 9h às 12h - 14h às 17h
BR-498 - Caraíva, Porto Seguro - BA, 45810-000
Entrada gratuita
Contato: (83) 99122-7877