Posicionamento: Bolsonaro tenta esconder desastre de sua gestão na ONU
setembro, 21 2021
Presidente ocupa a principal tribuna planetária sem assumir a postura de estadista que se espera
Presidente ocupa a principal tribuna planetária sem assumir a postura de estadista que se esperaPor WWF-Brasil
Pelo terceiro ano consecutivo, Jair Bolsonaro ocupa a principal tribuna planetária sem assumir a postura de estadista que se espera de um Presidente da República. Mais uma vez, ele usou uma oportunidade conferida pelo cargo que ocupa para repetir frases de campanha sem qualquer relação com os principais desafios do planeta e do Brasil –estes, sim, merecedores da atenção de um presidente.
Com informações e alegações que não encontram respaldo nos fatos, ele tentou esconder o desastre que sua gestão está deixando para o Brasil em todas as áreas, incluindo a ambiental. Pior: desrespeitou os brasileiros que ainda sofrem com as quase 600 mil mortes causadas pela má gestão da pandemia da Covid-19 ao defender o uso de tratamentos comprovadamente ineficazes –talvez, o mais gritante exemplo do quanto seu discurso é desconectado da realidade.
Palavras na tribuna das Nações Unidas não mudam o fato de que o Brasil está sofrendo com a pior crise hídrica dos últimos 90 anos pelo efeito combinado de fatores meteorológicos com o crescente desmatamento da Amazônia. Nos três anos de seu governo, o Brasil teve três recordes de desmatamento e queimadas, colocando a floresta cada vez mais perto de seu ponto de inflexão. Segundo o Painel Científico da Amazônia, aproximadamente 17% das florestas amazônicas foram convertidas para outros usos da terra e pelo menos outros 17% foram degradados. Estudos científicos mostram que em algumas regiões a Amazônia já emite mais carbono do que capta.
Pelo terceiro ano seguido o Presidente da República passou ao largo não só da realidade, mas das grandes questões que afligem o planeta. A destruição das instituições de aplicação da lei ocorrida em seu governo e a consequente aceleração da destruição ambiental terão efeito de longo prazo não só para o país, como para o mundo.
A agricultura depende de chuvas e estas dependem de uma Amazônia protegida. Bolsonaro não só paralisou a demarcação de terras indígenas, como promete alterar a lei e interferir no Judiciário para reverter demarcações já feitas. Embora venda a parte do setor agrícola que o apoia que isso seria um ganho, pois permitiria uma maior expansão de pastagens e lavouras, é na realidade uma perda.
Hoje as terras indígenas preservam 25% do que restou da Floresta Amazônica e, todos os dias, enviam para o restante da América do Sul, gratuitamente, 5,2 bilhões de toneladas de vapor de água, por meio da transpiração das florestas que preservam. É esse vapor que vai formar as chuvas que permitem aos produtores brasileiros colher duas safras ao ano, tornando o país um campeão agrícola. Menos terras indígenas, portanto, significa menos produção.
A defesa do Código Florestal, por sua vez, não reflete o que essa legislação efetivamente garante. O Código Florestal é uma lei que permite ainda amplo desmatamento (88 milhões de hectares), mesmo o país tendo mais de 60 milhões de hectares de terras sub-utilizadas. As leis florestais da maioria dos países (França, Alemanha, Suécia, Japão, outros) proíbe a conversão de florestas para áreas agrícolas, salvo exceções muito raras.
Infelizmente o discurso não causou espanto, ele resume o que vem sendo o governo Bolsonaro: desorientado, afastado da realidade e direcionado apenas uma pequena parcela da população.