Mercúrio tóxico envenena a Amazônia

novembro, 19 2018

Relatório adverte sobre contaminação invisível e crescente por mercúrio
Relatório adverte sobre contaminação invisível e crescente por mercúrio

Genebra, 19 novembro 2018 – Além do visível desmatamento, o bioma Amazônico enfrenta uma ameaça invisível e crescente com a contaminação de mercúrio, segundo novo relatório do WWF, divulgado hoje em Genebra (Suíça) durante a segunda Conferência das Partes da Convenção de Minamata sobre Mercúrio.
 
O relatório Rios Saudáveis, Pessoas Saudáveis, disponível em inglês e espanhol,  destaca os perigos da contaminação por mercúrio em toda a Amazônia, e pede ação urgente para reduzir o uso de mercúrio na mineração de ouro artesanal e em pequena escala, visando proteger o maior sistema fluvial do mundo e as pessoas e espécies que dele dependem.
 
De acordo com a publicação, estima-se que o mercúrio, classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "uma das dez substâncias químicas que representam a maior preocupação de saúde pública", tenha afetado negativamente a saúde de mais de 1,5 milhão de pessoas, assim como ameaça a saúde e a subsistência de milhões de pessoas devido à poluição do ar e da água e ao envenenamento de plantas e animais.
 
"Infelizmente, a poluição por mercúrio na Amazônia é ignorada apesar das crescentes evidências dos perigos que representa para as pessoas e a vida selvagem ao longo do sistema fluvial", disse Jordi Surkin, diretor da Unidade de Coordenação da Amazônia, do WWF. "Além disso, as vítimas mais vulneráveis ​​são os povos indígenas e comunidades locais, além de milhares de espécies únicas desse bioma".
 
Estima-se que a Amazônia é a região com a maior biodiversidade do mundo. No entanto, a poluição por mercúrio está colocando em risco predadores, como onças e botos, bem como peixes que são críticos para a segurança alimentar de comunidades indígenas, rurais e urbanas.
 
Segundo o Relatório Planeta Vivo do WWF, em todo o mundo as populações de espécies de água doce diminuíram em média 83% desde 1970. As conclusões do relatório Rios Saudáveis, Pessoas Saudáveis, indicam que é improvável que essa tendência seja revertida na Amazônia, a menos que a poluição por mercúrio seja combatida.
 
Um estudo citado no relatório Rios Saudáveis, Pessoas Saudáveis descobriu que 81% dos peixes carnívoros têm níveis detectáveis ​​de mercúrio, enquanto outro mostrou que 26% dos botos, também conhecidos como golfinhos-de-rio, têm níveis de mercúrio acima dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para as pessoas.
 
A principal fonte de contaminação por mercúrio na Amazônia é a mineração de ouro artesanal e de pequena escala (MAPE), que representa 15% do ouro extraído na região. O mercúrio é usado no processo de purificação do ouro, contribuindo com cerca de 71% do total de emissões de mercúrio a cada ano.
 
"A extração de ouro é uma fonte de renda para milhões de pessoas na Amazônia, no entanto, a dependência do mercúrio está colocando em risco a vida e a saúde das pessoas", disse Surkin.
 
"Além disso, o mercúrio viaja para longe das minas, contaminando plantas e animais e afetando seriamente a saúde, a produtividade e a qualidade de vida das pessoas na Amazônia, juntamente com a esperança de um desenvolvimento sustentável. É necessária uma ação urgente para combater essa ameaça tóxica em toda a região ".
 
O relatório pede aos governos, compradores de ouro, consumidores e garimpeiros que tomem medidas imediatas para reduzir o uso desenfreado de mercúrio na Amazônia.
 
Embora todos os governos amazônicos tenham assinado a Convenção de Minamata, o relatório pede aos países que tomem medidas e implementem políticas eficientes de combate ao mercúrio.
 
O relatório também incentiva os compradores e distribuidores de ouro a se comprometerem a obter todo o ouro através de cadeias de fornecimento verificadas e responsáveis, e conclama os consumidores, incluindo os bancos, a comprar ouro apenas de fontes responsáveis e cadeias de produção verificáveis.
 
Finalmente, o WWF insta comunidades mineiras e autoridades locais a trabalharem juntas para adotar novas políticas e regulamentos, e usar a assistência técnica e financeira disponível para adotar práticas de mineração livres de mercúrio.
 
Para promover essas ações, o WWF promoveu a criação da Aliança Regional para uma Amazônia Livre de Mercúrio, uma plataforma que reúne organizações, representantes do governo, pesquisadores e lideranças indígenas para consolidar informações, compartilhar lições aprendidas e desenvolver linhas de ação no âmbito do bioma, enfretando o problema em uma perspectiva regional. Representantes da aliança participam da Segunda Reunião da Conferência das Partes da Convenção de Minamata sobre Mercúrio, em Genebra.
 
"A ratificação da Convenção de Minamata foi um primeiro passo, mas agora os países amazônicos devem implementar o investimento adequado, o marco regulatório e o plano de implementação para combater a poluição por mercúrio, e proteger a biodiversidade única e as populações locais da Amazônia", disse Surkin.
 
"Como os países se reúnem esta semana em Genebra e também na Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica no Egito, temos a oportunidade de dar um exemplo de como podemos tomar ações coletivas e decisivas para proteger a natureza e os ecossistemas em benefício das pessoas e da biodiversidade. Juntos, podemos criar meios de subsistência seguros e sustentáveis ​​para garimpeiros de ouro de pequena escala na Amazônia e garantir que os recursos de água doce da região continuem a ser uma fonte de vida para as pessoas e a natureza ”.
 
 
Garimpo ilegal na Amazônia brasileira.
© Zig Koch/WWF
Os botos hoje são ameaçados pela pesca da piracatinga, pela construção de hidrelétricas e pela contaminação de mercúrio vindo dos garimpos
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© Fundación Omacha/ Fernando Trujillo
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