“Mateiros” de Apuí (AM) participam de curso sobre identificação de espécies florestais

27 fevereiro 2014

Objetivo é dar mais rapidez à identificação e assim acelerar o tempo de aprovação de planos de manejo 
Por Jorge Eduardo Dantas

Identificar com exatidão as árvores amazônicas é um grande desafio, mesmo para técnicos, pesquisadores e “mateiros” experientes. No Sul do Amazonas, a confusão em torno das características de cada espécie faz com que vários produtores que tentam trabalhar legalmente tenham problemas. 

Muitas vezes, os órgãos de fiscalização discordam das identificações fornecidas pelos produtores em seus planos de manejo. A variedade de espécies, as diferenças e semelhanças entre elas e os vários nomes populares que elas recebem geram impasses e atrasos que, ao final, acabam dificultando ou atrapalhando a implantação de projetos florestais sustentáveis. 

Com o objetivo de auxiliar na solução deste problema, o WWF-Brasil apoiou, nas últimas semanas, a realização da Capacitação em Identificação Botânica de Espécies Arbóreas da Amazônia.

O curso foi realizado no município de Apuí (AM), durou seis dias e teve a participação de 17 pessoas – entre estudantes universitários, mateiros profissionais e representantes de instituições que lidam com a identificação de espécimes florestais e licenciamentos de planos de manejo florestal, como servidores do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

Teoria e prática

As discussões teóricas ocorreram no auditório da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) do Apuí. Entre os assuntos discutidos estavam “Conceitos Gerais de Botânica”, “Taxonomia Vegetal” e “Morfologia Externa de Plantas”. As atividades práticas aconteceram em áreas particulares cedidas por seus proprietários.
 
Durante a prática de campo, os participantes entravam em trilhas feitas no meio da mata e comparavam as características físicas das árvores como folhas, as partes interna e externa dos troncos, galhos e copas. 
Espécies como cupiúba (Goupia glabra), jatobá (Hymenaea courbaril) e marupá (Simarouba Amara) foram estudadas e analisadas. Ocorreu ainda uma visita a uma madeireira, onde foi possível estudar as espécies em forma de tora de madeira, ou seja, com modificações em suas características naturais. 

O biólogo Manoel Carlos Jorge Pascoal participou do curso e disse que as atividades teóricas e práticas superaram suas expectativas: “Muitos planos de manejo eram rejeitados porque existia discordância entre o inventário feito pelo produtor e o que era verificado pelos órgãos de fiscalização. Espero que a partir de agora essa identificação seja mais rápida e mais fácil, e que os planos de manejo não demorem tanto para ser aprovados”, declarou.
 
Manoel Carlos é também presidente do Instituto de Projetos Ecológicos e Sociais Sustentáveis da Amazônia (Ipesa), uma das instituições apoiadoras desta capacitação.

União de conhecimentos

Para a analista ambiental do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Aline Britto, um dos objetivos da capacitação foi unir o conhecimento tradicional dos identificadores da região com critérios mais científicos, originados da literatura.
 
“Nós, do Ipaam, temos ótimos mateiros e identificadores, mas eles geralmente trabalham com nomes comuns ou populares. E esses nomes variam de região para região, de cidade para cidade. Por isso, é sempre importante buscar trabalhar com os nomes que temos na literatura científica, buscar informações nas classificações taxionômicas e assim nos certificar de que estamos falando sempre da mesma espécie”, afirmou Aline.

Segundo a analista, desta forma é possível garantir que as espécies licenciadas estejam de fato saindo do campo, auxiliando os produtores na geração de renda, mas também promovendo a conservação dos ecossistemas amazônicos.

Bom caminho
 
Segundo o analista de conservação do WWF-Brasil, Marcelo Cortez, o curso é uma “ponte” entre o setor florestal do sul do Amazonas e órgão que licencia os planos de manejo florestal no Amazonas, o Ipaam.

“Estamos atacando um problema recorrente, que é a discordância na identificação das espécies florestais. Queremos que todo mundo fale a mesma língua, e entendemos que compartilhar o conhecimento prático dos mateiros com os termos científicos considerados pela taxionomia é um bom caminho para isso”, disse o especialista.  

Além do Ipesa e do Ipaam, outras entidades que ajudaram na realização do curso foram o órgão de assistência técnica alemão GIZ/Gopa, o Centro Estadual de Unidades de Conservação da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (CEUC/SDS) e o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam).

Incentivo à madeira de boa origem

O curso de identificação faz parte de uma iniciativa mais ampla, desenvolvida pelo WWF-Brasil em parceria com a Rede Amigos da Amazônia (RAA), entidade ligada à Fundação Getúlio Vargas (FGV), e a Comunidade Europeia. 

Este projeto é intitulado “Governança Florestal e Comércio Sustentável da Madeira Amazônica” e tem como objetivo aumentar, até 2015, em 15% o volume de madeira sustentável comercializada nos mercados nacional e internacional.

Para isso, os responsáveis pelo projeto buscam implementar, junto aos poderes públicos, políticas e procedimentos que regulem a produção e comércio deste recurso. As atividades incluem, entre outras, capacitação de produtores, mobilização de grandes construtoras para compras sustentáveis e realização de eventos onde é possível discutir os entraves e dificuldades encontrados neste setor.
Curso contou com atividades teóricas, de consulta à literatura científica, e práticas
Curso contou com atividades teóricas, de consulta à literatura científica, e práticas
© Ipaam / Aline Britto
Durante o curso, os alunos puderam praticar a
Durante o curso, os alunos puderam praticar a "escalada", método utilizado para coletar sementes ou obter informações sobre o sistema reprodutivo de árvores de maior estatura
© Divulgação
O analista ambiental do Ipaam, Everaldo Pereira (à esquerda, de verde), foi o instrutor da capacitação
O analista ambiental do Ipaam, Everaldo Pereira (à esquerda, de verde), foi o instrutor da capacitação
© Ipaam / Aline Britto
Como parte das atividades, os alunos visitaram uma madeireira, onde foi possível estudar os espécimes florestais já com modificações em sua forma original
Como parte das atividades, os alunos visitaram uma madeireira, onde foi possível estudar os espécimes florestais já com modificações em sua forma original
© GIZ / Angela Kuhnen
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