Drones: equipamentos reforçam o policiamento ambiental na Amazônia

setembro, 17 2020

Iniciativa do WWF-Brasil doou 19 veículos aéreos não tripulados para 18 organizações em seis estados
Organizações como o Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre já vem multiplicando métodos e experiências junto a outras instituições  

Por Jorge Eduardo Dantas
 
Tornar os trabalhos de conservação, vigilância e monitoramento territorial mais fáceis e práticos é um dos grandes desafios das organizações que atuam na Amazônia – que lidam com grandes distâncias, infraestrutura precária, áreas muitos remotas e pouca gente para fazer atividades complexas e exaustivas.
 
Usar a tecnologia para facilitar esses processos é uma das saídas disponíveis. Por isso, desde o ano passado, o WWF-Brasil vem investindo na utilização de veículos aéreos não tripulados, os drones, para ajudar organizações da sociedade civil e de governos na defesa da Amazônia. 
 
Esta iniciativa surgiu como uma resposta aos altos índices de desmatamento e queimadas registrados por todo o bioma em 2019 – uma tendência que ainda não terminou: apenas nas duas primeiras semanas deste mês, foram contabilizados mais de 20 mil focos de queimada na Amazônia, o que significa um aumento de 86% quando comparado ao mesmo período de 2019. 
 

Parceria
O WWF-Brasil vem trabalhando o uso dos drones com 18 organizações diferentes, em seis estados: Rondônia, Pará, Amazonas, Acre, Maranhão e Goiás (que, apesar de não estar no bioma amazônico, também vem fazendo ações de vigilância territorial). Neste trabalho, foram doados 19 drones e vários outros equipamentos, cujo objetivo é ajudar na análise dos dados trazidos pelos veículos aéreos não tripulados - como GPS, telefones celulares e notebooks. Nas ferramentas e em ações de capacitação, foram investidos R$ 350 mil.
 
Entre as organizações que receberam este apoio estão a Apitem (Associação do Povo Indígena Tenharim-Morõgwitá), no Sul do Amazonas; o BPA-AC (Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre) e a Amoprex (Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri), ambos no Acre; o Instituto Kabu, no Pará; as prefeituras dos municípios amazonenses de Boca do Acre, Apuí e Humaitá; a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e a Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. 

O major Kleison Albuquerque, comandante do BPA-AC, afirma que uma das grandes vantagens da parceria foi o fato de que o BPA não recebeu apenas drones - foram enviados também dois tablets, uma impressora térmica, computadores, dois notebooks, dois celulares, aparelho de GPS e dois projetores: “Se fosse só o drone não ia adiantar muito. Não adiantaria ter apenas os drones e poucas condições de processar as imagens que ele produz. Ter recebido outros equipamentos nos deixou em uma condição diferenciada”.
 
Áreas Protegidas
A parceria com o BPA-AC apoia diretamente o trabalho de 57 policiais e ajuda na defesa de sete áreas protegidas - como a Floresta Estadual do Chandless, a Terra Indígena do Alto Rio Purus, a Floresta Estadual do Antimary, as três unidades integrantes do Mosaico Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório e a Floresta Estadual do Afluente do Complexo do Seringal Jurupari (Gleba Afluente).

Na Floresta Estadual do Antimary e no Complexo de Florestas do Rio Gregório, por exemplo, operações feitas com os drones nas últimas semanas ajudaram na prisão de sete pessoas e na aplicação de mais de 20 multas que, somadas, chegam a R$ 300 mil. Em junho, em operações realizadas nas florestas estaduais do Rio Gregório e na Gleba Afluente, 81 pessoas foram notificadas por ocupações irregulares e as multas aplicadas ultrapassaram R$ 550 mil.
 
Autoria e materialidade
A tecnologia é importantíssima para qualificar as denúncias de crimes ambientais, afirmou Kleison. “Os equipamentos ajudam bastante na comprovação da materialidade dos crimes. Dar as coordenadas, trazer fotos e vídeos. Isso é essencial para a produção de provas, você consegue estruturar a autoria e materialidade dos delitos. Com eles, conseguimos fazer com que os dados sejam realmente úteis para a Justiça e para o Ministério Público”, disse o major.
 
Outro ponto importante, disse Albuquerque, é que os drones “não tiram só fotos”. “Este trabalho conjunto está ajudando várias instituições a sair da era do papel e entrar na era da informática. Agora temos equipamentos e materiais que nos permitem dar esse salto. A coleta de dados em campo, por exemplo, está sendo feita com os materiais novos. É outro nível, isso nos coloca muito à frente em termos de capacidade do que podemos fazer”, comentou.
 
Replicação
Em dezembro de 2019, o WWF-Brasil reuniu integrantes de várias das instituições parceiras desta iniciativa para um treinamento em pilotagem de drones que aconteceu em Porto Velho, capital de Rondônia. Quarenta pessoas foram capacitadas, incluindo o major Albuquerque e outros dois agentes do BPA.
 
No final de julho, o BPA fez um treinamento que capacitou outros nove agentes – sete do próprio Batalhão e dois do Corpo de Bombeiros do Acre. No minicurso, foram estudados temas como legislação para uso de drones, planejamento e operação de voo e geoprocessamento. 
 
“Aos poucos, este trabalho do WWF está ajudando diversos órgãos e está alcançado mais gente”, disse o sargento Márcio Brasil. Segundo ele, a Embrapa e o Corpo de Bombeiros do Acre vêm trabalhando junto ao BPA para compartilhamento de conhecimento e métodos.  
 
“Na parte prática do nosso curso, fomos até o projeto de assentamento Walter Arce, vistoriar uma área de 50 hectares. Com o drone, fizemos isso em 40 minutos. É muito diferente se tivéssemos que ir andando até lá, numa operação que com certeza levaria um ou dois dias. Existe uma facilidade no uso desse equipamento que é enorme”, disse. 
 
Para o analista de conservação sênior do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, a replicação de técnicas e processos é um dos maiores benefícios trazidos por esta iniciativa. “As ferramentas tecnológicas estão contribuindo de forma muito positiva e significativa no aprimoramento das ações de conservação dos recursos naturais. De maneira geral, elas ajudam os atores sociais locais a serem mais eficientes e melhoram os processos de tomada de decisão”, afirmou Gajardo.
O Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre vem compartilhando aprendizados e experiências com técnicos da Embrapa e agentes do Corpo de Bombeiros
O Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre vem compartilhando aprendizados e experiências com técnicos da Embrapa e agentes do Corpo de Bombeiros
© Odair Leal/WWF-Brasil
Dez agentes do Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre vêm aprendendo a usar os drones em operações de fiscalização
Dez agentes do Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre vêm aprendendo a usar os drones em operações de fiscalização
© Odair Leal/WWF-Brasil
Major Kleison Albuquerque:
Major Kleison Albuquerque: "Os equipamentos ajudam bastante na comprovação da materialidade dos crimes".
© Odair Leal/WWF-Brasil
É possível encontrar queimadas nas proximidades de Rio Branco, capital do Acre
É possível encontrar queimadas nas proximidades de Rio Branco, capital do Acre
© Odair Leal/WWF-Brasil
Desde o ano passado, o WWF-Brasil investiu mais de R$ 350 mil em equipamentos e treinamento de parceiros
Desde o ano passado, o WWF-Brasil investiu mais de R$ 350 mil em equipamentos e treinamento de parceiros
© Odair Leal/WWF-Brasil
A sumaúma (Ceiba pentandra) é uma das espécies vegetais ameaçadas pelos grandes incêndios na Amazônia
© Zig KOCH
Em junho, operações realizadas com o auxílio dos drones nas florestas estaduais do Rio Gregório e na Gleba Afluente notificaram 81 pessoas e emitiram multas que, somadas, ultrapassaram R$ 550 mil
Em junho, operações realizadas com o auxílio dos drones nas florestas estaduais do Rio Gregório e na Gleba Afluente notificaram 81 pessoas e emitiram multas que, somadas, ultrapassaram R$ 550 mil
© Odair Leal / WWF-Brasil
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