Já ouviu falar na toninha?
dezembro, 15 2017
O golfinho mais ameaçado do Atlântico Sul é alvo de conservação do WWF-Brasil em 2018
Por Taís MeirelesEm 2015, o WWF-Brasil lançou oficialmente seu Programa Marinho. Liderado pela mesma equipe do Programa Mata Atlântica da instituição, o objetivo do programa é conservar o ambiente marinho e costeiro, buscando a ampliação e o fortalecimento de áreas protegidas e conservação da biodiversidade; promoção de pesca, aquicultura e mercado responsável; gestão costeira integrada; e oceanos livres de plástico.
Dentro do trabalho de conservação da biodiversidade, o Programa já atua no monitoramento de cetáceos no Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras e áreas adjacentes, no Rio de Janeiro, e na valorização de espécies nativas de aves marinhas em Fernando de Noronha. Agora é a vez da toninha!
Quem são as toninhas?
Consideradas como um indicador da saúde do mar, as toninhas são uma espécie de golfinho endêmica do Atlântico Sul, tendo ocorrência apenas no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Por lá, ela é conhecida (em espanhol), como franciscana, mas é a mesma espécie.
Nesses três países, pesquisadores de diferentes instituições vêm estudando o animal há duas décadas em busca de informações que possam auxiliar na conservação da espécie.
“Ao mesmo tempo em que é um dos golfinhos mais ameaçados, é também um dos menos conhecidos, porque é muito difícil ver eles vivos, interagindo. Eles não saltam na água, aparentemente não gostam do som das embarcações, não andam em grandes grupos. Eu mesmo só vi as Toninhas ao realizar estudos específicos sobre elas”, comenta Paulo Ott, pesquisador do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e professor da Universidade Estadual do RS (UERGS).
Apesar da dificuldade em ver o animal, Paulo e os demais cientistas brasileiros, argentinos e uruguaios continuam estudando a espécie e trabalhando de perto com pescadores das regiões de ocorrência do animal – da costa do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, em parte do Uruguai e da Argentina. Afinal, as redes de emalhe são a principal ameaça para esses golfinhos, que acabam se enroscando nelas por acidente, em especial porque tem longos bicos.
Conscientização da população
Como os pesquisadores já estão à frente do processo de estudos científicos, resta uma lacuna em ações de políticas públicas e conscientização da sociedade sobre a importância do animal. E aí que entra o WWF-Brasil.
Presente em mais de 100 países, a rede WWF é líder no mundo na conservação do meio ambiente e agora trabalhará com as toninhas no Brasil. O objetivo das ações em prol da espécie será o de engajar a sociedade na pressão por mudanças que auxiliem a espécie, sem impactar os pescadores.
Por meio de um diagnóstico de comunicação, com avaliação de peças de comunicação publicadas nos últimos 10 anos e entrevistas extensas com mais de 15 especialistas no tema, o WWF-Brasil já iniciou esse trabalho.
Um dos resultados desse diagnóstico foi que muito tem sido feito pelas instituições em termos de comunicação, mas ainda falta um esforço coletivo e regional, para potencializar ações locais. Trocas de experiências entre os países também é fundamental. Aprender com o que deu certo na Argentina ajudará o Brasil, assim como a troca de aprendizagens com o Uruguai.
Dentre os principais desafios dos pesquisadores, estão os recursos limitados, a falta de pessoal (já que são, em geral, organizações de pequeno porte) e a falta de apoio governamental. Apesar disso, não falta vontade de agir, tanto que já foi criado um consórcio de instituição voltadas à conservação da espécie, chamado de Consórcio Franciscana.
Workshop participativo
Assim, a primeira grande ação do projeto do WWF-Brasil foi justamente a união de pesquisadores envolvidos no processo, por meio de um workshop de comunicação de dois dias voltado especificamente para as toninhas. Realizado em São Paulo, em outubro de 2017, cerca de 30 pessoas participaram, entre pesquisadores, Governo, parceiros do WWF-Brasil e profissionais do ramo de comunicação.
Durante o evento, foram abordados os principais desafios e oportunidades de comunicação em prol da espécie e definidos os objetivos de uma campanha coletiva para proteger o animal e também públicos-alvo a serem trabalhados dentro da sociedade.
As crianças e os jovens foram escolhidos como público prioritário, já que são os principais agentes de transformação da sociedade. Enquanto os educadores foram mapeados como público de conexão com as crianças e os jovens. Já os pescadores continuam como público que já vem sendo trabalhado pelos próprios pesquisadores, já que são eles que têm contato direto com a espécie e são um público chave para a mudança.
Agora, entre os próximos passos do projeto, está o treinamento dos pesquisadores para falar com a imprensa (media training). “Os cientistas que acompanham a espécie são os verdadeiros porta vozes da toninha! Ela fala através deles, e queremos potencializar isso capacitando-os para melhorar essa comunicação”, comenta Mariana Corá, analista de conservação do Programa Marinho do WWF-Brasil.
Além desse treinamento, a partir de 2018 serão realizadas uma série de ações de campanha, utilizando canais digitais, TV, publicações impressas, etc. A ideia é que 2018 seja o ANO DA TONINHA. Vamos com a gente?