Declaração feita pelo WWF Internacional ao encerramento da Rio+20
junho, 23 2012
Com o término das negociações, o diretor geral do WWF Internacional, Jim Leape, emitiu hoje a seguinte declaração final sobre a Rio +20:
Esta foi uma conferência sobre a vida: sobre as gerações futuras, sobre as florestas, oceanos, rios e lagos que todos nós dependemos para a nossa comida, água e energia. Foi uma conferência para abordar o desafio premente da construção de um futuro que possa nos sustentar. Infelizmente, os líderes mundiais que se reuniram aqui perderam de vista o objetivo da urgêcia.
Com poucos países dispostos a pressionar para a ação, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, escolheu por conduzir um processo sem conteúdo sério - em detrimento do planeta. O resultado é uma oportunidade desperdiçada, um acordo que não conduz o mundo na direção do desenvolvimento sustentável.
A urgência de agir, no entanto, não mudou. E a boa notícia é que o desenvolvimento sustentável é uma planta que tem raízes que crescerão independentemente da fraca liderança política que aqui se viu. Vimos os líderes dos países virem ao Rio de Janeiro, mas não os vimos atuando nas negociações.
Já há várias iniciativas animadoras acontecendo em comunidades, cidades, governos e empresas, trabalhando para o desenvolvimento dos pilares e para proteger o nosso ambiente, reduzir a pobreza, e nos levar a um planeta mais sustentável. Ainda precisamos de ações em todos os lugares, de pessoas, vilas, cidades, países, pequenas e grandes empresas, organizações da sociedade civil e movimentos, assumindo a responsabilidade que os líderes mundiais não conseguiram exercer na Rio+20. Devemos redobrar nossos esforços e esperanças de que essas iniciativas ajudem a abrir o espaço político necessário para um processo multilateral que dê resultados, como supostamente a Rio +20 deveria fazer.
Alguns dos grandes compromissos feitos fora das salas de negociações oficiais, no Rio, incluíram:
. Governos, bancos, investidores e CEOs defendem a valorização e contabilização do capital natural. Nove bancos, investidores e seguradoras (incluindo a Caixa Econômica Federal, Caisse des Depots, China Merchants Bank, Natural Australia Bank, Standard Chartered + 50 países Botswana, África do Sul, Reino Unido + Unilever, Puma, Dow Chemical) fizeram um apelo coletivo pela valorização e contabilização do capital natural.
· Moçambique - o presidente Armando Guebuza anunciou o lançamento do Plano de Moçambique para uma economia verde. O plano compreende as estratégias nacionais para aplicar os princípios da economia verde para o desenvolvimento das cidades, da agricultura, de fontes de energia, por meio do investimento na manutenção e melhoria de seu capital natural, incluindo áreas protegidas terrestre e marinha.
· As Maldivas anunciaram a maior reserva marinha do mundo, composta de 1.192 ilhas, o que deverá ocorrer em 2017.
· O governo britânico anunciou que o Reino Unido será o primeiro país do mundo a exigir que grandes empresas passem a medir a sua pegada de carbono. O sistema fará com que mais de 1.000 empresas meçam suas emissões totais de gases de efeito estufa.
· O presidente da Indonésia lançou vários e amplos compromissos para alcançar um "futuro sustentável" em seu país. Fortalecimento financeiro, político, institucional e a cooperação sul-sul com as principais nações que possuem florestas tropicais são temas-chave desses compromissos.
· Oito dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo anunciaram a transferência dos investimentos em construção de estradas para investimentos em transporte público, no valor de US $ 175 bilhões para estimular o uso de ônibus, trens e ciclovias. Esse foi o maior compromisso monetária feito durante a Rio +20 para o desenvolvimento sustentável.
O que o WWF esperava como resultados da Rio +20 e que se compromete a continuar lutando por:
- Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esses objetivos devem ser uma evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) voltados para áreas temáticas, tais como alimentos, água, energia e oceanos; sua definição, processo de criação, formas de financiamento para alcance das metas e sua medição, são assuntos aos quais o WWF continuará se dedicando.
- Medidas para valorar a riqueza natural. O mundo precisa de indicadores para medir a qualidade do meio ambiente, natureza e biodiversidade e os ecossistemas, em conjunto com os indicadores de desenvolvimento econômico e social já existentes, respectivamente, PIB e IDH.
- Reforma dos subsídios. Como prioridade global, a elaboração de um relatório anual a respeito da revisão de subvenções que conduzam à eliminação, até 2020, de todos os subsídios prejudiciais ao ambiente, em particular os subsídios aos combustíveis fósseis.
- Governança marinha. Algum progresso foi feito no Rio sobre esta questão, mas ainda precisamos melhorar a governança dos oceanos, incluindo a questão da conservação e uso sustentável dos mares para além das fronteiras nacionais.
- Programa Ambiental da ONU mais forte. O fortalecimento do PNUMA deve ser uma prioridade, com o financiamento e autoridade apropriados para proteger o meio ambiente mundial.