Juventude e Meio Ambiente marcam o início da 74ª Assembleia Geral da ONU

setembro, 23 2019

Conferência começa nesta segunda, em meio a protestos de jovens pela atual crise climática
Por Bruna M. Cenço

*Atualizado em 24/09

Com incêndios florestais ocorrendo em diversos países, como Brasil, Angola, Indonésia ou Rússia, e milhares de jovens marchando em todo o mundo nesta última sexta-feira, a 74ª Assembleia Geral da ONU começa hoje com uma atenção especial para a enorme crise ambiental pela qual o mundo está passando.

Dados mostram que nosso planeta está em crise. Desde 1970, as populações de animais silvestres caíram em média 60%, enquanto o impacto da humanidade e a superexploração de recursos naturais cresceram exponencialmente. As consequências para as pessoas já podem ser vistas por meio do aumento de incêndios, inundações e condições climáticas extremas e a ciência nos diz que, sem ação urgente, elas só vão piorar.

Por outro lado, este momento representa uma oportunidade imperdível que os líderes mundiais têm para corrigir o curso desta crise.No próximo ano, os principais tratados internacionais - incluindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Convenção da Natureza e o Acordo sobre o Clima - serão renegociados, apresentando uma oportunidade crucial para colocar a sustentabilidade no centro de nossos sistemas políticos, econômicos e sociais. O WWF e outros vários atores estão chamando para um novo acordo para a natureza e as pessoas, designado para trazer esforços múltiplos alinhados para salvaguardar o futuro.

Marco Lambertini, Diretor Geral do WWFInternacional, afirmou que os líderes devem chegar à UNGA74 preparados para colocar seu peso nesses esforços. “Esta Assembleia Geral da ONU acontece no início de um ano crítico para o nosso planeta e é uma oportunidade vital para focar a atenção global na emergência ambiental que enfrentamos. A ciência é clara: "business as usual" (continuar da forma como sempre agimos) não é uma opção se quisermos proteger nosso futuro. Nossa trajetória atual está desestabilizando nosso clima e levando a natureza ao limiar. No fundo, ela ameaça nossa própria sobrevivência”, diz Lambertini.

“Os líderes que se reúnirão em Nova York em 2020 terão a chance de garantir um futuro sustentável para as pessoas e a natureza. As decisões que eles tomarem no próximo ano continuarão tendo impactos nas próximas décadas, e todos nós dependemos deles usarem essa oportunidade com sabedoria”, acrescentou.

O WWF está convocando uma reunião de líderes mundiais para esta primeira noite da Cúpula de Ação Climática da ONU para discutir a emergência ambiental que o mundo está enfrentando e pedir uma Declaração de Emergência para a Natureza e as Pessoas para a 75ª ONU Assembleia Geral, no próximo ano.

Resultados da Cúpula
Mesmo com a ausência de grandes países emissores de gases de efeito estufa, a Cúpula de Clima da ONU, que abriu a 74 Assembleia Geral da ONU, teve o lançamento de importantes iniciativas setoriais de transformação. Porém, por mais positivas que sejam as contribuições anunciadas, muito mais precisa ser feito nos próximos meses para garantir que possamos dobrar a curva das emissões climáticas e salvaguardar o bilhão de pessoas, espécies e ecossistemas mais afetados por impactos climáticos.

“O secretário-geral Gueterres foi corajoso em manter o sarrafo alto para a cúpula. E foram feitos alguns anúncios transformacionais importantes, sobre descarbonização a longo prazo, transformação setorial nos setores de finanças, alimentos e refrigeração. Mas é decepcionante que os países fortemente poluentes ​​não tenham feito mais”, diz o líder global da prática de Clima e Energia do WWF, Manuel Pulgar-Vidal.

Os anúncios que merecem destaque incluem:
  • Países como Nova Zelândia, Noruega, Chile, Colômbia, Fiji, Dinamarca e Costa Rica deram um passo à frente ao colocar sobre a mesa compromissos novos e ambiciosos para alcançar a neutralidade do carbono em 2050 ou muito antes.
  • Ação de atores não estatais, como instituições financeiras que fazem parte da Asset Owners Alliance, que se comprometeram a mudar as emissões de 37 GT para 3 GT anualmente até 2050.
  • A Danone anunciou uma coalizão One Planet Business for Biodiversity (composta por 20 das maiores empresas agrícolas do mundo, no valor de US $ 500 bilhões) comprometida com a mudança para uma agricultura regenerativa.
“A Cúpula de Ação Climática foi extremamente importante para forçar o mundo a se concentrar na crise climática. Claramente, ainda estamos para ver a escala da mudança e do compromisso necessários para lidar com isso. Essa é a mensagem que agora deve chegar à COP25 e COP26, quando os países deverão cumprir a ambição de que precisamos para garantir o êxito do Acordo de Paris ”, disse Pulgar-Vidal.

Os jovens chamam a atenção 
Na sexta-feira, dia 20, crianças e jovens de todo o planeta foram às ruas para exigir de seus governantes ações concretas em relação às mudanças climáticas. O movimento, inspirado na sueca Greta Thunberg, que há um ano iniciou o movimento chamado Sextas-feiras pelo Futuro (Fridays For Future) ou Greves pelo Clima (Climate Strike), atravessou o planeta e chamou a atenção da imprensa e de governantes de todos os continentes.

No Brasil, as manifestações aconteceram em dezenas de cidades, incluindo a maioria das capitais. Em São Paulo, a marcha que se reuniu no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP) levou mais de 50 mil pessoas às ruas, segundo os organizadores.

Mais do que as organizações ambientalistas tradicionais, o que realmente chamou a atenção foram grupos de crianças e jovens, como o Fridays For Future Brasil ou o Conselho Mirim da Câmara, que trouxe vários representantes por volta de 10 anos de idade exigindo ações que garantam um futuro saudável para eles.

Várias outras cidades do Brasil também receberam diferentes formas de manifestação. Em Brasília, as atividades começaram pela manhã, com ação em frente ao Congresso, e terminaram no final da tarde, com marcha iniciada na rodoviária do plano piloto. Já em Manaus, a sexta-feira foi celebrada como uma aula pública sobre mudanças climáticas.

A 74ª Assembleia da ONU acontece durante toda essa semana, chamando os países para um compromisso maior em relação à luta contra as mudanças climáticas e uma maior ambição para as metas nacionais no Acordo de Paris (NDCs). A expectativa é que na sexta-feira, dia 27, haja novas manifestações de jovens em prol do meio ambiente.
 
Marcha global pelo clima, Setembro de 2019, São Paulo
© Bruna M Cenço / WWF-Brasil
Conselho Mirim da Câmara de São Paulo
© Bruna M Cenço / WWF-Brasil
Crianças na mobilização pelo clima em São Paulo
© Bruna M Cenço / WWF-Brasil
Alunos da Biologia USP com o cemitério de espécies na mobilização pelo clima
© Bruna M Cenço / WWF-Brasil
Concentração no MASP (SP)
© Denise Oliveira / WWF Brasil
Manifestação em Brasília
© Denise Oliveira / WWF Brasil
Marcha passou pela Esplanada dos Ministérios
© Denise Oliveira / WWF Brasil
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