Proprietários de RPPNs trocam experiências em São Paulo

dezembro, 05 2018

O II Encontro Planos de Manejo para RPPN com Visão Empreendedora reuniu 12 proprietários de São Paulo
Por Douglas Santos

A Mata Atlântica é um dos biomas brasileiros que mais perdeu a vegetação natural e com ela espécies da fauna e flora importantes para todos. E 12 proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), em São Paulo, reuniram-se para trocar experiências sobre os planos de manejo de suas áreas e debater formas de atuação que estimulem o ecoturismo, educação ambiental e pesquisa em áreas de proteção.

O II Encontro Planos de Manejo para RPPN com Visão Empreendedora foi promovido pelo WWF-Brasil em parceria com o Instituto Ecofuturo, criado e mantido pela Suzano Papel e Celulose, a Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo (Frepesp), a Fundação Florestal (órgão do governo do Estado de São Paulo para conservação florestal) e aconteceu no Parque das Neblinas, área protegida e gerida pelo Instituto Ecofuturo.

Durante as dinâmicas os proprietários de RPPNs apontaram, em grupo, quais os objetivos de cada unidade, principais ameaças e quais ações pretendem realizar. Com isso, foi montado um grande painel mostrando os pontos em comum entre os proprietários.

“Essa aproximação é importante para que se crie um ambiente de troca e colaboração capaz de proporcionar um crescimento coletivo aos proprietários, turistas e principalmente para o equilíbrio dos ecossistemas”, explica Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF-Brasil.

Um dos pontos do encontro foi sobre a elaboração dos Planos de Manejo, que são norteadores dentro das áreas protegidas. “O plano ajuda a despertar as vocações dentro das RPPNs para termos áreas cada vez mais desenvolvidas e adequadas às características de cada reserva. É gratificante ver que as RPPNs no Estado de São Paulo buscam evoluir e melhorar cada vez mais os processos de suas unidades”, disse Felipe Feliciani.

Segundo João Yuasa, 76, proprietário da RPPN Águas Claras, localizada em São Luís do Paraitinga, o encontro foi fundamental para desenvolver estratégias de negócios ao mesmo tempo que asseguram a proteção e o equilíbrio do ecossistema.

“Saímos do Workshop com muita lição de casa e cheios de possibilidades de ações com os nossos recursos atuais e adequados para a nossa realidade de hoje. Todo dia levanto e agradeço por viver em um lugar como aquele. Mas temos muito para fazer ainda, já vemos os sinais do que acontece, essa depredação é um câncer na terra. Vamos salvar o que está bem enquanto ainda há tempo”, afirma Yuasa, que administra uma pousada com chalés na propriedade do entorno da RPPN. “Entre as atividades que iremos desenvolver está o aprimoramento das nossas trilhas e vamos explorar mais a nossa gastronomia”, disse Yuasa.

Na Fazenda Renópolis, localizada em Santo Antônio do Pinhal, no alto da Serra da Mantiqueira, 80% dos mais de 120ha da propriedade são RPPN. O espaço é gerido por Denise Murgel, 83, e a filha Débora Murgel, 60, e é considerada uma das áreas mais bem preservadas da região. Na fazenda, a dupla composta por mãe e filha administram uma casa de chás, que são plantados de forma orgânica na propriedade, produzem artesanato com sementes e folhas e também realizam pesquisas científicas. Além disso, a fazenda Renópolis é considerada um hospital da vida silvestre e serve como área de recuperação para aves, repteis e pequenos mamíferos. Nos últimos 10 anos, foram recuperados e reintroduzidos na natureza mais de 1.000 animais na região reserva.

“Meu sogro comprou a fazenda em 1923, mas me mudei para lá apenas em 1995. E foi então que comecei a viver de fato, eu já tinha 60 anos, com netos. Mas só quando comecei a viver na Renópolis que comecei a dar valor a outras coisas na vida e viver muito melhor e mais feliz e tranquila. Não consigo imaginar como alguém consegue prejudicar a natureza, desmatar é como tirar alimento da boca de uma criança com fome”, comenta Denise após realizar uma trilha na beira do rio no Parque das Neblinas.

Para Débora Murgel, a troca de experiências do workshop foi importante para aprimorarmos nossas técnicas de baixo impacto. “Não imagino minha vida sem ter contato com a natureza, as plantas e os animais. Tudo que produzimos em Renópolis é ecológica e orgânica, assim o ecossistema fica equilibrado. E podemos trocar um pouco da nossa experiência me deixa muito feliz”, disse.

O que são RPPNs
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é um tipo de unidade de conservação criada pela vontade do proprietário rural. São um sinal de compromisso com a conservação da natureza. Além de preservar as paisagens e ambientes históricos, as RPPNs assumem objetivos de proteção de recursos hídricos, manejo de recursos naturais, desenvolvimento de pesquisas cientificas, manutenção do equilíbrio ecológico entre várias outras funções.
Área do Parque das Neblinas, gerido pelo Instituto Ecofuturo
© Douglas Santos
Proprietários de RPPNs durante o Workshop no Parque das Neblinas
© Douglas Santos
Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF-Brasil, durante o II Workshop
© Douglas Santos
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