Pantanal: protegido por UCs, ameaçado por projetos de infraestrutura
março, 08 2018
Último dia da Jornada da Água mostra ameaças ao Pantanal e iniciativas bem-sucedidas de conservação
Por Bruno TaitsonO último dia da Jornada da Água, ao longo do rio Paraguai, destacou belezas cênicas, a importância das unidades de conservação e os riscos socioambientais da iminente instalação de um porto e uma hidrovia. Os participantes continuaram a descida do rio até a Estação Ecológica (Esec) de Taiamã, criada em 1981.
A área protegida, que abrange 11,5 mil hectares, abriga centenas de espécies de peixes, aves e mamíferos. Adicionalmente, o conselho consultivo da Esec conseguiu proteger 60 mil hectares do entorno, por meio de acordos de pesca elaborados coletivamente para evitar o esgotamento dos estoques pesqueiros.
“Com isso, estamos garantindo a reprodução dos pescados na região, para que volte a ter peixe para todo mundo”, explicou Daniel Kantek, gerente da UC.
Porém, dois grandes projetos de infraestrutura, interligados entre si, podem alterar de maneira significativa os ecossistemas e, principalmente, condenar à miséria mais de 700 pescadores da região. A hidrovia Paraguai-Paraná, cujo traçado começa em Cáceres (MT), chegando até o Uruguai, e o Porto de Morrinhos, a ser instalado na margem esquerda do rio Paraguai, também próximo de Cáceres, são propostas para escoar cerca de 5 milhões de toneladas/ano de grãos.
O projeto da hidrovia inclui a dragagem de diversos trechos, para que as barcaças possam transitar durante todo o ano. Isso alteraria a velocidade do rio e o tráfego das embarcações aumentaria substancialmente o nível de ruídos de motor, diminuindo as áreas alagadas e reduzindo substancialmente a quantidade de peixes, segundo algumas estimativas. Os prejuízos seriam sentidos, principalmente, pelos pescadores e pela indústria do turismo, fundamental para a região. O porto, por sua vez, aterraria pequenos afluentes do rio e desmataria importante área de preservação permanente em volta do curso d’água.
Pescadores temem impactos de hidrovia e de porto fluvial
O pescador Sérgio César da Silva, que tem na atividade pesqueira a única fonte de renda para manter a família, reclama que os empreendedores responsáveis pela hidrovia Paraguai-Paraná e pelo Porto Morrinhos jamais conversaram sobre os dois projetos com os pescadores. “Infelizmente já está tudo encaminhado. Vai ter mais barulho, vai aumentar a velocidade da água. Para mim, não terá nada de bom”.
Ele também se queixou das pequenas centrais hidrelétricas instaladas na região para gerar energia, interferindo no pulso do rio. “Aqui tem sol quase todo dia e eles querem acabar com o rio fazendo essas barragens”, criticou.
Justino Ramos de Morais, que vive da pesca há 20 anos, também alegou que os mais de 700 pescadores da região jamais foram consultados sobre o porto e a hidrovia. “Esse rio nosso é um paraíso, que vai ser assoreado. O rio é estreito e essas barcaças vão destruir tudo, além de derrubar veneno nas águas”, protestou.
José Rosa, também pescador no rio Paraguai, mencionou outro temor em relação aos projetos da hidrovia e do Porto Morrinhos. Segundo ele, diversos rios menores, que servem de hábitat para pequenos peixes usados pelos pescadores como isca, serão aterrados. “Isso vai criar um enorme problema para nós”, observou.
Outro pescador da região, Natal Batista Ferreira, está mais conformado em relação aos projetos. Ele também se queixou da falta de diálogo por parte dos empreendedores e do governo, mas se mostra um pouco mais otimista que os demais. “Se até hoje não acabou o peixe aqui, não vai ser a hidrovia que vai acabar. Os peixes estão acostumados com o transtorno das embarcações que passam por aqui”, finalizou.
(Colaborou Letícia Campos)