Conheça a primeira comunidade 100% solar do sul do Amazonas
setembro, 14 2021
Comunidade Vila Limeira, na Resex Médio Purus, tem energia solar por 24 horas após instalação de minirrede
Comunidade Vila Limeira, na Resex Médio Purus, tem energia solar por 24 horas após instalação, em agostoPor Alessandra Mathyas
Criada a partir do ciclo da borracha, na década de 1950, a comunidade de Vila Limeira é uma das quase 100 que integram a Reserva Extrativista Médio Purus, entre os municípios de Lábrea e Pauini, no sul do Estado do Amazonas. Os primeiros moradores foram nordestinos que chegaram à região para trabalhar com borracha. Com a mudança do ciclo econômico, tornaram-se extrativistas, vivendo do que a floresta lhes dá: pesca, madeira, frutos, mel, roçado.
Hoje com cerca de 80 pessoas vivendo na comunidade, Vila Limeira tem uma organização social estabelecida, com associação de moradores própria e atuante, em sua maioria de profissão religiosa evangélica. De lá saíram lideranças extrativistas, professores e estudantes. A comunidade conviveu por muitos anos com obstáculos impostos pela falta de energia, que impedia a ampliação de sua produção sustentável, e de seus conhecimentos.
Como todas as áreas remotas sem acesso à energia convencional, só tinham eletricidade por três horas noturnas a partir de um motor gerador a diesel, que consumia cerca de 10 litros por dia. E o sul do Amazonas é um dos lugares onde o combustível está mais caro no país (gasolina R$ 7,50, diesel R$ 6). O valor, dividido entre todas as famílias de forma antecipada para comprar o combustível pode ser considerada a energia mais cara do Brasil, variando de R$ 80 a R$ 120 por mês.
Em 2018 a comunidade quis saber mais sobre a energia solar. Queria entender como funcionava, qual era o custo, o que precisava fazer para ter eletricidade 24 horas por dia e assim aumentar sua produção com oferta de refrigeração e gelo, ampliar o acesso à educação e comunicação, e claro, ter mais lazer aos moradores.
Foi assim que surgiu o projeto Vila Limeira 100% Solar, numa iniciativa conjunta da Apavil (Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus da Vila Limeira), do WWF-Brasil, com apoio da Fundação Mott e autorização do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Inicialmente, o projeto era para ter sido instalado em 2020, mas a pandemia atrasou o sonho até agosto deste ano - quando a usina solar foi instalada e inaugurada.
Na Vila Limeira, todas as casas, a escola, centro comunitário e a maioria das atividades produtivas acontecem muito próximas. Por isso, optou-se por uma minirrede off grid, conhecida no Brasil como MIGDI (Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de Energia Elétrica). Somando todas as demandas energéticas locais, concluiu-se que uma rede de 30kWp seria suficiente para as expectativas comunitárias. E o sistema foi projetado com os equipamentos mais modernos, incluindo banco de baterias de lítio, com durabilidade de 15 anos e medidores individuais em todas as unidades consumidoras.
A comunidade participou de todo o processo, desde o início do projeto até a instalação final. Foi responsável pelas obras físicas de estrutura e foi treinada na instalação para dar manutenção básica ao sistema, além de monitorar remotamente a geração, o consumo e o carregamento de baterias. Saber quanto é gerado e controlar o consumo é fundamental para a sustentabilidade do sistema e bem-estar de todos.
Agora os moradores locais não precisam mais ir até o rio lavar roupas e louça e terão tempo para outras atividades, para o lazer e para a educação. Na semana da instalação, iniciou a primeira turma de educação de jovens e adultos, com aulas noturnas. E agora, os jovens da comunidade já sonham em fazer cursos, talvez até faculdade, por ensino à distância.
A Vila Limeira é a primeira comunidade remota com eletricidade 24 horas e 100% solar do sul do Amazonas. E está disposta a contribuir na melhoria de políticas públicas para que todas as outras comunidades também tenham energia limpa e renovável e duradoura o mais rápido possível.