Estudos demonstram o papel da conservação da natureza na recuperação da atual crise e prevenção de novas pandemias

março, 11 2021

Publicação traz coletânea de artigos sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nas áreas protegidas e conservadas
Publicação traz coletânea de artigos sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nas áreas protegidas e conservadas

Por Taís Meireles


A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) lança hoje, 11 de março, uma edição especial da revista científica PARKS, sobre os impactos da pandemia do coronavírus na conservação da natureza em todo o mundo. A publicação é uma iniciativa da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da IUCN e traz nesta edição o compilado mais abrangente até o momento da pesquisa científica mundial sobre as ligações e os impactos entre a pandemia de Covid-19 e as áreas protegidas e conservadas.  

Dentre os ensaios, escritos por cerca de 150 autores, estão textos de Yolanda Kakabadse, ex-presidente da Rede WWF; Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia e ganhador do Prêmio Nobel da Paz; Mary Robinson, ex-Presidente da Irlanda e ex-Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos; e Sir Richard Roberts, bioquímico e vencedor do Prêmio Nobel de Medicina. 

A revista destaca que mais da metade das áreas protegidas da África e 1/4 das áreas protegidas da Ásia foram forçadas a interromper ou reduzir suas ações de conservação, como fiscalização e monitoramento, e um em cada cinco guardas florestais relataram ter perdido seus empregos.  

No Brasil, estima-se que o número reduzido de visitantes pode levar a uma perda de US$ 1,6 bilhão em vendas para empresas que trabalham direta e indiretamente com o turismo em áreas protegidas, enquanto na Namíbia, as áreas conservadas por comunidades podem perder US$ 10 milhões em receitas de turismo direto, segundo estimativas iniciais. 

Doenças zoonóticas e a natureza como prevenção  

“A natureza é uma rede de segurança para a recuperação de muitas das comunidades afetadas por essa pandemia e pode ser uma das nossas maiores aliadas contra futuras doenças zoonóticas”, comenta Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil e autora de um dos artigos da revista PARKS. 

No ensaio "Causas de doenças zoonóticas", ela e a equipe do WWF, junto com pesquisadoras brasileiras, trazem uma visão geral sobre como áreas protegidas e conservadas podem desempenhar um papel significativo na redução do risco de surgimento de novas doenças humanas que se originam nos animais (as chamadas zoonoses).
  • As zoonoses representam 60% das doenças contagiosas conhecidas 
  • Dessas, 72% foram transmitidas por animais silvestres (em comparação com animais domésticos) 
  • 3/4 de todos os patógenos emergentes são zoonóticos
"Os principais vetores de zoonoses são as mudanças no uso da terra, especialmente pela intensificação da produção agrícola e pecuária, o comércio de animais silvestres de alto risco e o consumo da carne desses animais”, comenta Mariana. 

As áreas protegidas e a conservação da vida selvagem estão entre algumas das formas mais eficazes de controlar essas atividades e minimizar os perigos associados a elas. Além disso, elas são aliadas na necessária recuperação verde frente à atual crise. 

Esta edição especial da revista  PARKS também revela que pelo menos 22 países propuseram ou promulgaram retrocessos nas regulamentações ou cortes orçamentários na conservação do meio ambiente durante a pandemia. Os pacotes e políticas de estímulo econômico pós-COVID analisados em um dos artigos continuam a minar em vez de apoiar a natureza, nossa melhor esperança contra futuras pandemias e atuais crises planetárias, como as mudanças climáticas. 

“Cuidar do nosso planeta nunca foi tão urgente. A crise do coronavírus nos mostrou o que acontece quando estamos em desequilíbrio com a natureza. 2021 precisa ser o ano em que mudamos de rota, para uma economia mais justa, menos intensiva no uso de recursos naturais e de menor emissão de gases de efeito estufa”, reflete Mariana.   

Além do artigo sobre zoonoses, a Rede WWF contribuiu com mais quatro artigos nesta edição: “Uma visão geral global e perspectivas regionais”; “Áreas marinhas protegidas e conservadas em um mundo pós-COVID-19"; “Turismo em áreas protegidas e conservadas em meio à pandemia” e “O impacto do COVID-19 nos guardas florestais”. 


Confira a revista (em inglês) em PARKSjournal.com
Você sabia que a Covid-19 é uma zoonose?
© WWF-Brasil
Doenças zoonóticas são transmitidas dos animais para os humanos
© WWF-Brasil
As zoonoses representam 60% das doenças contagiosas conhecidas
© WWF-Brasil
Dessas, 72% são transmitidas por animais silvestres (especialmente em ambientes degradados ou em que os animais foram retiradas de seus ambientes naturais)
© WWF-Brasil
Uma das principais causas das zoonoses são as mudanças no uso da terra
© WWF-Brasil
Outros vetores incluem a intensificação da produção agropecuária, o comércio e o consumo de espécies silvestres de alto risco
© WWF-Brasil
As áreas protegidas e conservadas contribuem para a redução do risco de novas zoonoses
© WWF-Brasil
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