Relatório Planeta Vivo 2020: exemplos da fauna brasileira

setembro, 21 2020

O que podemos aprender com nossos próprios dados de conservação
O que podemos aprender com nossos próprios dados de conservação
 
Por WWF-Brasil

 
O Relatório Planeta Vivo 2020, divulgado recentemente pela rede WWF, trouxe dados importantes sobre a perda de biodiversidade ao redor do mundo e nos diferentes continentes. Enquanto o mundo como um todo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies desde 1970, as informações do relatório mostram que a América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% nesta área. Porém, o próprio documento confirma que boas práticas de conservação podem ajudar a amenizar ou mesmo a reverter este cenário. Veja abaixo três histórias sobre exemplos brasileiros sobre o que tem ou não dado certo:
 
No Paraná, proteção à Mata Atlântica garante o futuro de espécies ameaçadas
O Paraná concentra a maior taxa de desmatamento em remanescentes de Mata Atlântica na Região Sul do país. Por outro lado, o estado detém a única população de onça-pintada em crescimento no bioma. A resposta para esta aparente contradição está na conservação do Parque Nacional do Iguaçu, maciço florestal de 185 mil hectares que se estende além da fronteira brasileira até a província argentina de Misiones.
 
Criado há mais de 80 anos, o parque abriga as Cataratas do Iguaçu e uma população de onças-pintadas (Panthera onca) que não para de crescer. Em 2009, restavam cerca de 11 onças-pintadas no Parque do Iguaçu. A espécie estava perto da extinção local. Um intenso trabalho de pesquisa, fiscalização e envolvimento das comunidades vizinhas virou esse jogo.
 
As contagens feitas a cada dois anos por meio censos simultâneos no Brasil e na Argentina seguem animadoras. Em 2016, estudiosos encontraram 22 desses felinos no interior do parque. Em 2018, o levantamento indicou um aumento de 27%, e o total subiu para 28 animais. Para este ano, expectativa é de novo crescimento.
 
Desde 2019, já foram identificadas dez novas onças no parque, incluindo três filhotes. A existência do parque garante a sobrevivência das onças-pintadas e prova que manter as áreas naturais conservadas é bom para o futuro das espécies. Se as onças –que são topo da cadeia alimentar– estão se mantendo em Iguaçu é porque toda a teia de vida abaixo delas está em harmonia.
 
Maior primata da América do Sul, muriqui-do-norte tem chances de sobreviver à extinção
O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) é o maior primata sul-americano, chegando a pesar até 15 quilos. Endêmico da Mata Atlântica, sobrevive em fragmentos florestais isolados nos Estados de Minas Gerais, Espirito Santo e Bahia. Mas a vida do muriqui não tem sido nada fácil. A maior parte das florestas originais ocupadas pela espécie foram substituídas por pastagens e lavouras, resultando em perda de habitat e fragmentação de populações.
 
De acordo com a avaliação do risco de extinção das espécies brasileiras, existem apenas 13 populações remanescentes, isoladas principalmente unidades de conservação. Estima-se que apenas quatro delas possam comportar populações viáveis para o futuro desses animais: o Parque Nacional do Caparaó, o Parque Estadual do Rio Doce, Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, além de uma reserva particular. As demais populações são pequenas e tendem a desaparecer, como já ocorreu. Essa situação fez com que a o muriqui-do-norte entrasse para a lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção como Criticamente em Perigo.
 
A esperança dos cientistas é que, apesar das dificuldades impostas pelo homem, a espécie é capaz de colonizar florestas secundárias próximas a áreas atualmente ocupadas pelas atuais populações que restaram, indicando que essa tendência de declínio pode interrompida – e até revertida. Mas são necessários esforços bem planejados de restauração, direcionados à reconexão e à ampliação do habitat da espécie. O futuro do muriqui-do-norte depende do que fizermos agora.
 
Perda de habitat, caça ilegal e fogo empurram o veado-campeiro para a extinção
O veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) é uma espécie típica das formações naturais campestres no Cerrado e sul do Brasil, regiões com acelerado processo de perda de habitat por pastagens e lavouras.
 
Sem a proteção natural, o veado campeiro sofre com a caça ilegal, predação e doenças –como a febre aftosa, ao entrar em contato com bovinos. A população desses cervídeos caiu no país a ponto de a espécie entrar para lista vermelha como Vulnerável à extinção.
 
Mesmo no Pantanal, onde estão as maiores populações de veado-campeiro, estudos indicam declínio populacional. No sul do Brasil, as populações desse animal estão extremamente reduzidas e isoladas, correndo o risco de serem completamente extintas no futuro. No Cerrado, algumas unidades de conservação sustentam populações maiores, porém isoladas e ameaçadas pela caça e queimadas de grandes proporções. O fogo reduz muito a disponibilidade de alimentos para a fauna silvestre, além de poluir o ar e prejudicar os cursos d’água.
 
Para reverter esse cenário, é necessário haver infraestrutura e recursos adequados ao bom manejo das unidades de conservação, além de fiscalização de atividades ilegais como a caça. Um manejo correto e bem planejado do fogo, evitando queimadas de grandes proporções, tanto em unidades de conservação quanto em pastagens próximas a essas áreas protegidas pode garantir a disponibilidade de alimentos ao longo da estação seca e dar uma chance para que as pessoas possam, no futuro, conhecer essa espécie na natureza.

Conclusões
De acordo com a gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, a análise dos três casos demonstra a importância de ações de conservação (como criação de áreas protegidas e restauração) para a biodiversidade, mas que isso só será efetivo se forem combinadas com "uma mudança significativa na forma que produzimos e consumimos".

"Conseguir bons resultados, de fato, na diminuição da perda de espécies requer o fim da destruição dos habitats e o planejamento do uso do solo, aproveitando áreas que já estão degradadas e aumentando sua produtividade. Além disso, precisamos priorizar práticas de produção que não causem impacto aos ambientes naturais e fomentar uma nova economia de base florestal", comenta Napolitano.
 
A onça-pintada (Panthera onca) se alimenta de mais de 80 animais diferentes
Resultados efetivos requerem também uma mudança na forma que consumimos
© Divulgação
Exemplos brasileiros na conservação da biodiversidade
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Parque Nacional Iguaçu e a onça-pintada
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Os desafios das populações isoladas para o muriqui-do-norte
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Caça e fogo agravam a situação do veado-campeiro
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