Voando alto pela conservação do Cerrado

agosto, 16 2019

Drones ajudam a planejar a produção e a coleta do pequi, buriti e coquinho azedo; o agroextrativismo freia o desmatamento
Renata Andrada

Os frutos nativos do Cerrado possuem alto valor nutritivo e sabores que vem atraindo a atenção e o paladar de chefes renomados de todo o mundo. E o mais importante: sua produção e coleta permitem a conservação do bioma – que já perdeu 50% da área original - pois mantém as árvores nativas em pé e freiam o desmatamento da área.
 
Perseguindo esse objetivo, o WWF-Brasil, com o apoio do Fundo de Inovação Florestal da Rede WWF, e a Kashmir World Foundation (KWF) vem implementando ações de conservação da savana mais biodiversa do planeta por meio do uso de drones. O projeto “Voando pela conservação” aterrissou na Cooperativa Extrativista do Peruaçu (Cooperuaçu), em Januária, Minas Gerais, para treinar e capacitar 25 agroextrativistas no uso dos aparelhos como ferramenta de monitoramento e análise de dados.
 
Os drones vão ajudar no levantamento das árvores frutíferas da região, o que permitirá à cooperativa um melhor planejamento da produção e coleta. Assim, vai ser possível saber quantos árvores de determinado fruto existem em uma determinada área, por exemplo. Os aparelhos realizam fotografias que geram mapas e fazem a classificação automática dos dados. No caso especifico da Cooperuaçu, os drones estão trabalhando para monitorar três espécies de frutos nativos: buriti, pequi e coquinho azedo.
 
“O acesso à tecnologia é muito importante para o trabalho dos agroextrativistas. Um levantamento de espécies que poderia levar até dois dias, com os drones vai levar no máximo duas horas”, explica Felipe Spina, analista de conservação do WWF-Brasil, responsável pelo treinamento.
 
 

A tecnologia também vai ajudar no monitoramento de incêndios, identificando áreas queimados, e na restauração de áreas degradadas. Os agroextrativistas foram capacitados para montar, configurar e reparar os aparelhos, quando necessário. “Nós utilizamos drones de baixo custo e tecnologia aberta porque assim é mais fácil para os trabalhadores do Peruaçu montar e reparar. Um modelo convencional além de caro tem a manutenção custosa e de difícil acesso e logística para eles. Nosso objetivo foi facilitar o acesso à tecnologia”, conta Spina.
 
Tecnologia e conhecimento tradicional juntos pela conservação da biodiversidade
O analista de conservação do WWF-Brasil, Felipe Spina, explica que a tecnologia dos drones é também uma ferramenta social: “é muito comum que os jovens queiram fugir do campo e da agricultura porque não é uma profissão entendida por eles como interessante. É muito bacana ver que o uso dos drones têm ajudado a atrair os jovens para o extrativismo e para o trabalho na cooperativa. Manter o jovem no campo, interessado na agroecologia e coleta dos frutos nativos é muito importante para a conservação do Cerrado. Estamos unindo o conhecimento tradicional dos mais velhos com a facilidade que os jovens têm no uso das tecnologias. Eles estão trabalhando lado a lado compartilhando e tocando conhecimento”.
 
O WWF e o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu
O Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, foi recentemente ampliado de 1.8 milhão de hectares para mais de 3 milhões de hectares, passando a ter um total de 27 áreas protegidas. O território do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu faz parte da região dos Gerais, imortalizada pelo escritor Guimarães Rosa, em que a diversidade ambiental, que abriga espécies endêmicas da fauna e flora do Cerrado, convive com a riqueza cultural dos povos tradicionais, mas tem sido alvo de desmatamento, queimadas e devastação.
 
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), os mosaicos de áreas protegidas são instrumentos de gestão e ordenamento territorial que têm por finalidade a conservação da biodiversidade por meio da integração entre as unidades de conservação e demais áreas protegidas de um determinado território.
 
O WWF-Brasil atua na região desde 2010, com apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF na sigla em inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund) e do Instituto Humanize. As ações buscam promover o incentivo à adoção de boas práticas de produção agropecuária (BPA’s), a implantação de tecnologias sociais e sistemas agroflorestais e o fortalecimento da gestão integrada das Unidades de Conservação e demais áreas protegidas. O WWF-Brasil também atua com ações de mapeamento territorial com foco no planejamento sistemático da conservação no Cerrado e no apoio ao extrativismo vegetal sustentável dos frutos do Cerrado com as Cooperativas Agroextrativistas e Associações Comunitárias. Realiza ainda ações de comunicação visando a valorização e o resgate do Cerrado.
O curso de drones promovido pelo WWF-Brasil vai ajudar na conservação das áreas protegidas do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu
© Felipe Spina/WWF-Brasil
O analista de conservação do WWF-Brasil, Felipe Spina, foi o responsável pelo curso
© WWF-Brasil
Com área total de 1.783.799 hectares e perímetro de 1.210 km, o Mosaico envolve unidades de conservação ambiental, comunidades tradicionais e a Terra Indígena Xakriabá
© Felipe Spina/WWF-Brasil
O Mosaico Sertão Veredas Peruaçu é um conjunto de áreas protegidas localizadas na margem esquerda do Rio São Francisco, entre as regiões norte e noroeste de Minas Gerais e parte do sudoeste da Bahia
© Felipe Spina/WWF-Brasil
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