Amazônia mais protegida: Rio Juruá ganha título de Sítio Ramsar

novembro, 13 2018

Estudo sobre botos feito pelo WWF-Brasil em 2016 ajudou a subsidiar o título
Por José Luiz Cerqueira* e Jorge Eduardo Dantas

A bacia hidrográfica do Rio Juruá, localizada entre os estados do Acre e do Amazonas, é a mais nova região brasileira a ganhar o título de “Sítio Ramsar”. Este título reconhece a importância ecológica daquele local, sinalizando que as medidas de proteção existentes por ali devem ser reforçadas e ampliadas.

Ao mesmo tempo, este reconhecimento também faz com que a região fique “mais acessível” e ganhe prioridade no acesso à cooperação técnica internacional e a apoio financeiro para o desenvolvimento de projetos de conservação da natureza.
  
O local reconhecido como Sítio Ramsar compreende uma área de 2,1 milhões de hectares e é composto por três Unidades de Conservação: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari e as Reservas Extrativistas (Resex) Baixo Rio Juruá e Alto Rio Juruá. Ali também está situada a Terra Indígena Dení

A governança do Sítio Ramsar será feita com apoio do Fórum Médio Juruá, um grupo formado por diversas instituições que atuam na região – reforçando, assim, uma gestão democrática e participativa deste Sítio.

O reconhecimento da área aconteceu durante a 13ª Reunião das Partes da Convenção de Ramsar (COP 13), ocorrida recentemente em Dubai, nos Emirados Árabes. Na mesma ocasião, uma outra área brasileira também foi reconhecida como Sítio Ramsar: a Estação Ecológica do Taiamã, no Pantanal mato-grossense. 

Atualmente, o Brasil possui 27 Sítios Ramsar – 9 deles, na Amazônia.

Conhecendo o Juruá

O rio Juruá é um dos principais afluentes da margem direita do rio Amazonas. Ele nasce no Andes peruanos e desemboca no rio Solimões. Possui mais de 3 mil quilômetros, sendo que 1,5 mil deles são navegáveis. É considerado um dos rios mais sinuosos da Bacia Amazônica. 

Depois de nascer no Peru, ele entra no Brasil pelo Acre – mais precisamente, pelo Parque Nacional Serra do Divisor, uma das áreas mais isoladas da Amazônia. 

O Juruá tem uma enorme planície de alagamento e por isso, em função do regime de seca e cheia dos rios amazônicos, dá origem a milhares de lagos todos os anos. Também por conta deste fenômeno, a altura do rio varia entre 12 a 15 metros. Seu principal problema ambiental são as pastagens e a extração ilegal de madeira, que ocorrem principalmente no Acre. 

WWF no Juruá

Nas últimas duas décadas, o WWF-Brasil tem feito diversos trabalhos na Bacia do Juruá. 

Entre 2005 a 2007, por, exemplo, apoiamos a realização de vários estudos ecológicos naquela região - e o fruto mais duradouro desses trabalhos foi a criação, em 2009, da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Japiim-Pentecoste, que surgiu para proteger mais de 25 mil hectares de várzea.

Mais tarde, entre 2009 e 2012, o projeto Protegendo Florestas/Sky Rainforest Rescue (SRR), desenvolvido em parceria com a empresa de telecomunicações inglesa Sky, ajudou na conservação de 1 bilhão de árvores em território acriano e evitou a emissão de 3,76 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.

Mais recentemente, o projeto Pesca Sustentável vem ajudando pescadores da região a conservar o pirarucu (Arapaima gigas) ao mesmo tempo em que os auxilia na geração de renda. Nos últimos quatro anos, este projeto possibilitou a comercialização de mais de seis toneladas de pirarucu manejados de forma responsável. Mais de R$ 50 mil de renda bruta foram gerados e cerca de 1, 1 mil pessoas são beneficiadas por esta iniciativa, que ocorre em 19 lagos diferentes. Este projeto foi realizado junto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desde 2014.

Botos & drones

O WWF-Brasil também tem apostado muito na governança da região, participando de fóruns e conselhos, por exemplo. Já fomos membros do Conselho Consultivo do Parque Nacional da Serra do Divisor, ajudando a pensar e refletir sobre as políticas públicas de conservação da natureza naquela área. 

Em 2016, a Expedição Ecodrones – Botos da Amazôniautilizou Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT’S) para contar e monitorar botos. Na ocasião, essa foi uma iniciativa inédita, que trouxe para o Brasil uma nova maneira de fazer monitoramento de fauna.

Esses estudos com botos constaram no material enviado à Convenção que ajudou no reconhecimento da Bacia do Juruá como Sítio Ramsar.

“A expedição percorreu mais de 400 quilômetros e teve enorme importância para a coleta de dados sobre botos de duas espécies, o cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). As informações, obtidas junto com o Instituto Mamirauá, tiveram grande influência para a obtenção do título de Sítio Ramsar”, explicou Marcelo Oliveira, especialista de conservação do WWF-Brasil.

Benefícios

Outra ação desenvolvida em anos recentes foi o Intercambiando, uma parceria entre o WWF-Brasil e a Coca-Cola. Na ocasião, 60 jovens da cidade de Carauari, no Amazonas, participaram de capacitações voltadas para o desenvolvimento do empreendedorismo e do protagonismo juvenil

Para o coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil Ricardo Mello, o reconhecimento da Bacia tem potencial para transformar e melhorar a vida dos habitantes daquela região. “Esperamos que este reconhecimento global sobre a importância ecológica do Juruá se converta em benefícios para aquela área, trazendo melhoria para a gestão das unidades de conservação e aumento de renda para os municípios”, afirmou. 

*Estagiário sob a supervisão de Jorge Eduardo Dantas e Denise Oliveira
O novo Sítio Ramsar possui mais de 2,1 milhões de hectares numa das áreas mais isoladas da Amazônia
O novo Sítio Ramsar possui mais de 2,1 milhões de hectares numa das áreas mais isoladas da Amazônia
© ICMBio/ Bruno Bimbato
O novo Sítio Ramsar conta com duas Reservas Extrativistas em sua composição
O Sítio Ramsar Rio Juruá conta com duas Reservas Extrativistas em sua composição
© © Edward Parker / WWF
Mapa mostra a localização da bacia do Rio Juruá no interior da Amazônia
Mapa mostra a localização da bacia do Rio Juruá no interior da Amazônia
© WWF-Brasil/ Victoria Varela
Diversas populações amazônicas creem que os botos possuem
O trabalho de monitoramento de botos ocorreu no segundo semestre de 2016
© Fundación Omacha/ Fernando Trujillo
Em 2016 a Expedição Ecodrones - Botos da Amazônia trouxe para o Brasil uma maneira nova de fazer monitoramento de fauna
© Amanda Lelis
O projeto Intercambiando, desenvolvido entre 2015 e 2016 na bacia do Juruá, contou com jovens ribeirinhos na concepção e produção de materiais educativos
© WWF-Brasil
Ilustração mostra o mapa atualizado de todos os Sítios Ramsar existentes no Brasil
Ilustração mostra o mapa atualizado de todos os Sítios Ramsar existentes no Brasil
© Ministério do Meio Ambiente
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