Ministério Público de São Paulo condena PL da Caça

junho, 13 2018

A Câmara dos Deputados recebeu esta semana mais uma manifestação contrária ao projeto que pretende liberar a caça no Brasil. Trata-se do PL 6268/2016, do deputado Valdir Colatto (MDB-SC). Dessa vez, o posicionamento veio do Ministério Público de São Paulo. A nota técnica, assinada pelo então procurador-geral de Justiça do Estado em exercício, Walter Paulo Sabella, foi protocolada na Câmara dos Deputados pela promotora Vânia Tuglio.
MPSP protocola na Câmara dos Deputados nota técnica com posicionamento pela rejeição do projeto que quer liberar o abate de animais silvestres

Por Warner Bento Filho*
 
A Câmara dos Deputados recebeu esta semana mais uma manifestação contrária ao projeto que pretende liberar a caça no Brasil. Trata-se do PL 6268/2016, do deputado Valdir Colatto (MDB-SC). Dessa vez, o posicionamento veio do Ministério Público de São Paulo. A nota técnica, assinada pelo então procurador-geral de Justiça do Estado em exercício, Walter Paulo Sabella, foi protocolada na Câmara dos Deputados pela promotora Vânia Tuglio.

O PL de Colatto autoriza o abate de animais silvestres ameaçados de extinção; legaliza o comércio de animais silvestres e exóticos; autoriza a erradicação de espécies exóticas consideradas nocivas; autoriza o estabelecimento de campos de caça em propriedades privadas e a criação e manutenção de animais silvestres em criadouros comerciais. Animais recebidos em centros de triagem poderão ser destinados a cativeiros e a campos de caça; zoológicos poderão vender animais silvestres a criadouros. Animais silvestres provenientes de resgates em áreas de empreendimentos sujeitos a licenciamento ambiental poderão ser abatidos.
 
O projeto estava na pauta da sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Social da Câmara dos Deputados (Cmads) dessa quarta-feira (13), mas foi retirada de pauta por acordo para que se realizem audiências públicas sobre o assunto. Já há um debate sobre o PL agendado para a próxima quinta-feira (21), em Florianópolis, promovido pelo Ministério Público de Santa Catarina. Agora, a ideia realizar audiências públicas na Câmara dos Deputados e em Estados da Federação, promovidas pela própria Cmads. Um requerimento prevendo a realização das audiências públicas já havia sido aprovado pela Comissão no começo do ano, mas até agora nenhuma se efetivou.
 
A proposta de Colatto provocou forte reação da sociedade civil. Além do MP de São Paulo, um grupo de organizações ambientalistas deu início a uma campanha pelas redes sociais com a hashtag  #todoscontraacaça. Há, ainda, um abaixo-assinado contra o projeto que já conta com mais de 150 mil assinaturas.
 
“Esse projeto de lei contraria frontalmente o Artigo 225 da Constituição Federal, que veda atos de crueldade contra os animais. A caça sempre vai implicar num caso de crueldade, porque os animais não são mortos com um único tiro ou uma única flechada”, diz a promotora Vânia Tuglio. “Os animais silvestres hoje são propriedade do Estado. Então, todos os órgãos do Estado, todas as polícias atuam e podem atuar para fiscalizar e para proteger os animais silvestres. Com esse projeto de lei, eles passam a ser propriedade de ninguém. Então, qualquer pessoa poderá se apropriar de qualquer animal silvestre, em qualquer situação, e fazer o que bem entender deles, a qualquer momento. Isso é gravíssimo!”, adverte a promotora.

Vânia Tuglio também chama atenção para o fato de o PL revogar o porte de arma para agentes de fiscalização de fauna e permitir o tráfico de animais silvestres, com extinção de todos os processos em andamento.
 
Pela rejeição
 
O relator do projeto na Cmads, Nilto Tatto (PT-SP), pede a rejeição do texto. “O projeto vai na contramão do sentimento da população de que é preciso proteger todas as formas de vida e ignora todo o conhecimento acumulado pela humanidade sobre a importância da biodiversidade para a vida no planeta.

Além de liberar a caça de animais, o projeto facilita o cativeiro, a crueldade contra animais, o tráfico e a comercialização e cria até fazendas de caça. Nem as espécies em extinção, nem as Unidades de Conservação ficariam livres desse perigo.

O PL da Caça, como foi apelidado, é extremamente danoso para o Brasil, e é expressão do que há de mais cruel e retrógrado no país. Por isso, como relator, fiz parecer recomendando a rejeição do projeto”, diz o parlamentar.
 
Proliferação de armas aumenta violência
 
Tatto ainda questiona os benefícios que o projeto poderia trazer para o país. “Não vejo qualquer benefício decorrente deste projeto. Os únicos a se beneficiarem seriam as indústrias de armas de fogo e, quando este setor cresce, a sociedade perde. É mais que conhecido, no mundo inteiro, que a proliferação de armas aumenta a violência e a letalidade dos conflitos”.

Tatto afirma que recebeu manifestações contrárias ao projeto, e nenhuma favorável. “Recebemos inúmeras manifestações de entidades sérias, organizações civis e instituições públicas, contrárias ao PL da Caça. Militantes da proteção animal, pesquisadores, promotores, entidades de classe, entre outros, apontam que as consequências, caso a proposta avance, seriam devastadoras. A Comissão de Meio Ambiente tem a documentação de centenas de manifestações”, diz.

“Este ano temos eleições. É a hora de usarmos nossos votos para eleger parlamentares comprometidos com os valores que defendemos e afastarmos do Congresso os inimigos do meio ambiente. Devemos conversar com nossos amigos, parentes e colegas de trabalho para convencermos o maior número de eleitores de que é possível um Legislativo melhor, mais amigo da natureza e das pessoas”, propõe o coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Michel Santos.

*Colaborou Bruno Taitson

 
A promotora Vânia Tuglio, do Minstério Público de São Paulo, protocolou hoje nota técnica com posicionamento pela rejeição do PL 6268/2016, o PL da Caça
© WWV-Brasil / Bruno Taitson
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