WWF-Brasil e lideranças socioambientais reagem ao discurso de Michel Temer na ONU

setembro, 19 2017

Os dados apontados pelo presidente Temer foram imediatamente rebatidos por pesquisadores e organizações ambientalistas no Brasil.
“O que o Brasil e o mundo esperam do governo é uma política pública estruturada de combate ao desmatamento na Amazônia e nos demais biomas por meio de uma estratégia dialogada com a sociedade", disse hoje o diretor executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, ao comentar a fala do presidente Michel Temer na abertura da 72ª Assembleia Geral da ONU.
 
Sem mencionar a crise por que passa o país e nem as recentes medidas do governo que abrem áreas públicas para a mineração na região amazônica – dando margem para o aumento do desmatamento na região – Temer falou sobre o meio ambiente em defesa de seu governo. "O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia", declarou. “Nessa questão, temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região".
 
Os dados apontados pelo presidente Temer foram imediatamente rebatidos por pesquisadores e organizações ambientalistas no Brasil. Para fazer o seu discurso,  o presidente usou dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituo do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados no dia 22 de agosto.
 
O instituto com sede em Belém esclareceu: “O monitoramento realizado pelo Imazon não se presta a quantificar o desmatamento. Isso é papel do Prodes, programa de monitoramento oficial do governo. O papel do SAD é alertar para os focos mensais de desmatamento para demandar e subsidiar uma ação rápida dos órgãos de fiscalização. É um erro grave comparar os dados do SAD (Imazon) com dados do Prodes (governo)”, afirmou Elis Araújo, pesquisadora do Imazon.
 
Para a pesquisadora, a tendência de redução indicada pelo SAD pode ser explicada mais pelo mercado, pela queda da arroba do gado, do que por políticas públicas do atual governo, principalmente considerando que houve prejuízo ao combate ao desmatamento com a redução de bases e de fiscais do Ibama na Amazônia.
 
O diretor executivo do WWF-Brasil alerta: “O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, e as últimas medidas propostas ou sancionadas pelo presidente Temer não contribuem para mudar esse cenário. Muito pelo contrário, colocam o país e o mundo em risco. Os dados oficiais produzidos pelo Inpe apontam que ano passado tivemos a maior alta do corte raso na Amazônia desde 2008 – quando perdemos cerca de 8 mil quilômetros quadrados de floresta – e boa parte em Unidades de Conservação. Além disso, estamos perdendo cobertura nativa no Cerrado a uma velocidade tremenda: foram 9.483 quilômetros quadrados de vegetação desmatada em 2015. Isso equivale a mais de seis cidades de São Paulo e supera em 52% a devastação na Amazônia no mesmo ano."
 
O Observatório do Clima, rede da qual o WWF-Brasil faz parte, também divulgou reações ao discurso do presidente. Para André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, coordenador-geral do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza: “Ao afirmar que o Brasil deve se preocupar em desenvolver uma economia de baixo carbono e com a proteção da cobertura de florestas, o presidente Temer oculta as recentes atividades realizadas por seu governo. Nossas florestas e áreas protegidas nunca foram tão ameaçadas como nos últimos meses, seja por Medidas Provisórias que propõem a redução de unidades de conservação, seja por decretos que permitem atividades de mineração em plena floresta amazônica. Essas ações atendem ao interesse de uma pequena parcela da sociedade, que se beneficia com a atividade agropecuária e minerária e que detém poder no Congresso. No entanto, o que não se enxerga no governo é que atender a esses pedidos põe em risco justamente o que se diz ser a maior riqueza do Brasil – o agronegócio. São exatamente os produtores rurais que necessitam dos serviços prestados por áreas naturais preservadas. Não se pode ignorar também a questão de segurança da sociedade, diante dos recentes eventos climáticos extremos. A melhor maneira de prevenir e precaver sua ocorrência é por meio de medidas de proteção e restauro de ecossistemas. E a conduta de Temer não parece estar alinhada com seu discurso.”
 
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirmou: “Como todos imaginavam, o presidente Michel Temer tentou passar aos líderes mundiais uma imagem do Brasil sobre meio ambiente e mudanças climáticas que só se sustenta em páginas de discursos. Ele escondeu as altíssimas taxas de desmatamento, os números absurdos de incêndios florestais em todas as regiões do país e a escalada de violência contra povos indígenas e lideranças comunitárias, batendo recordes de assassinatos, que são resultado direto da destruição da agenda socioambiental do país em troca de votos da bancada ruralista. Retrocessos que só podem ser comparados aos promovidos pelo governo de Donald Trump nos EUA.”
 
Os dados apontados pelo presidente Temer foram imediatamente rebatidos por pesquisadores e organizações ambientalistas
© Divulgação
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