Onde estão os animais do Cerrado?

julho, 17 2017

Estudo mostra que mamíferos ameaçados de extinção podem estar também em áreas de Cerrado em regeneração, demostrando a importância de preservação e recuperação do bioma
Por Letícia Campos

O Cerrado abriga uma grande diversidade de fauna e flora, ao contrário do que imaginavam as pessoas por um longo período. Estima-se que o bioma possua 837 espécies de aves, 120 de répteis, 150 de anfíbios, 1,2 mil de peixes, 90 mil insetos, 199 tipos de mamíferos, além das 11 mil espécies vegetais. Juntando tudo, dá quase 5% de todas as espécies no mundo e 30% da biodiversidade do país.
 
O que explica o fato é a localização do Cerrado no coração do Brasil. Ele faz conexão com quatro dos cinco biomas do país - Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal -, por isso compartilha diversos animais e plantas com estas regiões. 
 
A maior ameaça à toda esta riqueza é o desmatamento. Entretanto, apesar do ritmo elevado de perda da vegetação nativa, algumas áreas têm passado por um processo de regeneração e o Cerrado tem voltado a crescer onde antes era pasto ou plantação de eucalipto. Além dos benefícios ambientais desta notícia, um estudo realizado recentemente mostra que espécies ameaçadas de extinção podem estar também em áreas do bioma que estejam em regeneração, demostrando a importância de preservação e recuperação das áreas já degradadas.
 
A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Biotrópicos que, por meio de câmeras automáticas, captou imagens de mamíferos transitando nos dois ambientes distintos - vegetação de Cerrado regenerada após desmatamento e vegetação de Cerrado que não sofreu impactos significativos nas últimas quatro décadas.
 
Entre as espécies registradas, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira foram vistos em uma área em regeneração situada dentro do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no norte do estado de Minas Gerais, onde o WWF-Brasil desenvolve iniciativas de conservação ambiental e apoia a organização em ações para o monitoramento de fauna.
 
O autor da pesquisa, Guilherme Ferreira, conta que o resultado tem implicações para as extensas áreas que foram desmatadas no passado e hoje encontram-se em estágio inicial de regeneração. “Nas décadas de 70 e 80 tivemos grandes plantações de eucalipto no norte de Minas Gerais, que foram posteriormente abandonadas e, com o passar o tempo, a vegetação nativa foi regenerando em alguns fragmentos. Em condições favoráveis, estas áreas podem se tornar importantes ambientes para os animais ameaçados de extinção, mas isso não quer dizer que todo Cerrado que foi desmatado poderá abrigar espécies raras no futuro. A proteção da vegetação que está em recuperação, o controle de queimadas e a existência de animais silvestres nas proximidades são cruciais para que estas áreas se transformem em habitat favorável à biodiversidade”, ressalta.
 
Apesar de estar bem estabelecido que áreas regeneradas de floresta desempenham um importante papel na conservação da biodiversidade, até então não haviam estudos conferindo sua importância para fauna do Cerrado.
 
Kolbe Soares, analista de conservação do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, avalia que esta constatação é muito importante, uma vez que os trabalhos de recuperação de áreas do Cerrado tendem a se intensificar com a implantação do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa – PLANAVEG (Decreto 8972/17).
 
De acordo com Soares, “os grandes produtores rurais do bioma apresentam um passivo alto de áreas para serem recuperadas, propiciando ambientes que possam formar corredores ecológicos e extensas faixas de Cerrado conectadas, aumentando a diversidade de fauna e flora e, consequentemente, a riqueza da biodiversidade”.
 
Acesse o link ao lado para ler o artigo na íntegra

* A pesquisa contou com a colaboração de pesquisadores da Zoological Society of London, University College London e Conservation International
Registro feito pelo Instituto Biotrópicos com câmeras automáticas
© Instituto Biotrópicos/Guilherme Ferreira
Lobo-guará e o tamanduá-bandeira foram vistos em uma área em regeneração situada dentro do Parque Estadual Veredas do Peruaçu
© Instituto Biotrópicos/Guilherme Ferreira
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