WWF-Brasil promove curso de sistemas agroflorestais para agricultores do norte do Mato Grosso
setembro, 23 2011
WWF-Brasil, com o apoio técnico da Mapsmut, promoveu no início deste mês o Treinamento Técnico em Sistemas Agroflorestais (SAFs).
Como unir as expectativas da produção no campo com a sustentabilidade ambiental? Foi com este objetivo que o WWF-Brasil, com o apoio técnico da Mapsmut, promoveu no início deste mês o Treinamento Técnico em Sistemas Agroflorestais (SAFs). Realizado no município matogrossense de Apiacás, a 953 quilômetros de Cuiabá, a capacitação reuniu 18 agricultores da região que conheceram técnicas de como aliar a produção rural com o manejo sustentável do solo e das lavouras.O curso durou 16 horas, sendo oito de orientações teóricas e o restante de prática de planejamento e implantação de SAF. Esta foi a primeira etapa do trabalho: estão previstas outras três etapas, cuja realização ocorrerá nos próximos meses, com dia de campo, manejo de plantas indesejadas e colheita de produtos e prospecção de produção de área total, além de momentos para troca de experiências e informações entre os participantes.
A capacitação ocorreu no sítio “Morro ‘Adeus, Mamãe”, de propriedade do agricultor Daniel Lorestes da Silva, 46. Neste local, o WWF-Brasil apoia a implementação de um projeto de SAF desde o primeiro semestre de 2011. Ali são plantadas, entre outras culturas, milho, café, mandioca, arroz e cupuaçu.
Os sistemas agroflorestais (SAFs) são um novo modelo produtivo, considerado uma solução sustentável para a agropecuária nas regiões tropicais. Eles são caracterizados pela associação de árvores, arbustos, cultivos agrícolas e possível criação de animais de maneira simultânea ou em intervalos de tempo regulares numa mesma área. Com a presença de várias espécies diferentes num mesmo perímetro, o SAF reproduz o ecossistema florestal, trazendo uma série de benefícios ambientais, como a redução de danos às espécies arbóreas e a diversificação das colheitas.
Agroecologia
O facilitador do treinamento foi o engenheiro agrônomo Glaucinei Brissow Realto. Ele contou que um dos temas mais importantes do curso foi a ‘agroecologia’ – a ciência que promove a agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. “Este assunto trata da busca por lavouras viáveis e conservação ambiental, cultural e econômica. Os sistemas agroflorestais são formas de atingir boas e rentáveis produções e manter a sustentabilidade de uma área”, explicou.
Glaucinei afirmou ainda que os produtores do norte do Mato Grosso não têm muita informação sobre os sistemas agroflorestais. “Atualmente, o maior empecilho para a implantação do SAF nesta região é a falta de conhecimento sobre as espécies que serão plantadas. Os produtores não sabem as características dessas espécies e nem como aproveitá-las da melhor forma”, disse.
“Anfitrião” do curso – por receber os participantes em sua propriedade particular – o agricultor Daniel Lorestes da Silva, conhecido na região como “Seu Daniel”, disse que a capacitação foi muito proveitosa. “As pessoas estavam interessadas e foi uma oportunidade de nos juntarmos e conversarmos. Foi importante socializar com eles como fazer vários tipos de plantio, como fazer fertilizantes naturais, entre outras coisas”, declarou. Seu Daniel disse também que já na semana que vem deve fazer sua primeira colheita. “As abobrinhas, bananas e melancias já estão chegando no ponto. É incrível como dia desses estávamos pegando sementes em pequenos copos de plástico e agora elas se tornaram melancias enormes”, vibrou.
Disseminando práticas sustentáveis
O analista de conservação do WWF-Brasil, Samuel Tararan, afirmou que a idéia do curso foi disseminar as práticas sustentáveis que envolvem a agrofloresta. “Os participantes do curso podem tomar como base aquilo que está sendo feito na propriedade do seu Daniel. Conhecendo aquele modelo, os produtores podem replicar em suas propriedades o conceito da agricultura sustentável”, declarou.
Samuel disse ainda que, no futuro, os agricultores podem unir esforços junto a Associação Regional de Apicultores da Amazônia Apiacaense (Arapama), criando volume de produção na área e aumentando o valor de mercado de suas frutas. A Arapama é uma associação, também apoiada pelo WWF-Brasil, que lida com o beneficiamento da castanha e com a produção fruticultora baseados num paradigma sustentável.
O WWF-Brasil dá suporte a outros projetos de implantação de sistemas agroflorestais no norte do Mato Grosso. No município de Cotriguaçu, a 685 quilômetros de Cuiabá, nove famílias do Projeto de Assentamento (PA) Juruena buscam racionalizar suas lavouras com práticas sustentáveis desde o fim de 2010.