Acre: Certificação por boas práticas na agricultura já beneficia produtor
outubro, 19 2010
Agricultores estão produzindo de forma mais eficiente e rentável, sem usar o fogo e contribuindo para a conservação do meio ambiente
Bruno Taitson, de Feijó (AC)A adesão de produtores rurais acreanos ao recém criado programa de certificação em boas práticas, coordenado pelo Governo do Acre com apoio do WWF-Brasil, começa a dar resultados. Mais de 2 mil famílias já participam do projeto, que capacita as famílias a trabalhar sem o uso do fogo, obtendo maior produtividade em um processo mais sustentável.
“O produtor derruba e queima, normalmente, por não conhecer outras alternativas que já existem. Meu roçado já melhorou desde que estou participando”, avalia Fenelon Santos de Oliveira. Ele vive com a esposa desde 1977 em uma propriedade de 150 hectares entre os municípios de Feijó e Manoel Urbano, às margens da BR-364 – rodovia cujo asfaltamento, no trecho de 672 quilômetros entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, está em fase final.
Com a adesão ao programa de certificação, além de se comprometer com práticas sustentáveis e a não usar o fogo para limpar pastos e lavouras, o produtor recebe assistência técnica gratuita por parte de engenheiros florestais, agrônomos e técnicos extensionistas. Entre as técnicas repassadas pelos profissionais está o uso da mucuna preta (Mucuna aterrima), planta leguminosa que substitui o fogo, fixando nutrientes no solo, combatendo a umidade, protegendo o terreno da erosão e dos raios solares e combatendo ervas daninhas.
“Desde que passei a usar a mucuna, nunca mais apareceram pragas em meu bananal”, relata Fenelon Oliveira. Ele produz também milho, caju, abacate e abacaxi, além de criar galinhas, patos, perus, caprinos e gado.
Com o programa de certificação, Fenelon Oliveira recebeu sementes de mucuna, aves de pequeno porte implementos agrícolas e equipamentos para mecanizar a lavoura, como uma roçadeira nova. Além disso, o produtor que adere ao programa também faz jus a um bônus de R$ 500 por ano, pago em duas parcelas de R$ 250. “Com o dinheiro consegui contratar gente para ajudar no plantio” conta ele.
Políticas agroflorestais integradas
De acordo com Alberto Tavares (Dande), líder do escritório do WWF-Brasil no Acre, a combinação de fiscalização eficiente, valorização dos ativos florestais, assistência técnica e diversificação das fontes de rendas das comunidades locais estão entre as principais causas do sucesso das políticas agroflorestais no Acre. “Por isso o WWF-Brasil vem apoiando essas iniciativas, que não só geram conservação dos ecossistemas como inclusão social”, resume Dande.
Valdemir dos Santos vive há dois anos com esposa e filho em uma pequena propriedade também às margens da BR-364. Ele aderiu recentemente ao programa de certificação e já colhe frutos. “Fui capacitado para operar trator, logo receberei as sementes da mucuna. Vamos começar a plantar maracujá, mamão, milho, feijão, melancia, abóbora, pepino, café, cacau e hortaliças”, afirma, com otimismo.
O produtor diz que, com o bônus pago pelo governo para aderir ao programa, pretende comprar equipamentos e ferramentas. “Eu utilizava fogo para limpar o roçado, mas isso acabou. Com a mucuna, ano que vem será sem fogo aqui”, projeta Valdemir do Santos.
O agricultor tem boas perspectivas para o futuro. Com apoio do governo, pretende fazer dois açudes e criar tilápias, que seriam alimentadas com as sobras da fruticultura. Também quer criar galinhas, que comeriam o milho da propriedade, para a produção de ovos. “Agora, com o asfalto, vai dar pra plantar muito mais porque vamos conseguir vender nossos produtos”, conclui.