Espécie de macaco descoberta em expedição do WWF-Brasil ganha descrição científica
fevereiro, 20 2015
O ‘Zogue-Zogue Rabo de Fogo’ foi encontrado em 2010; descobrimento reforça a importância de pesquisar e conhecer a biodiversidade da Amazônia
Por Jorge Eduardo DantasO pequeno primata conhecido como “Zogue-Zogue Rabo de Fogo” (Callicebus miltoni), registrado pela primeira vez durante uma expedição promovida pelo WWF-Brasil em 2010, foi tema de um artigo publicado no fim do ano passado na revista científica Papeis Avulsos de Zoologia, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). A publicação ocorreu no dia 31 de dezembro de 2014.
O artigo marca o primeiro “registro oficial” da nova espécie, encontrada numa área da Amazônia situada próxima da fronteira entre o Amazonas e o Mato Grosso. O registro reforça a importância da conservação deste bioma, mostrando que ainda é possível encontrar novas espécies de mamíferos de médio e grande porte naquela região.
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O estudo é fruto do trabalho dos pesquisadores Julio César Dalponte, José de Sousa da Silva Júnior e Felipe Ennes. Desde 2010 eles têm trabalhado juntos com o objetivo de conhecer as populações de primatas da Amazônia Meridional, localizada entre os Estados do Amazonas, Rondônia, Mato Grosso e Pará.
O WWF-Brasil, cuja missão é promover a conservação dos recursos naturais brasileiros, apoiou financeira e tecnicamente algumas das ações empreendidas pelos pesquisadores.
Sobre o artigo
O artigo científico foi escrito em inglês, possui 16 páginas e traz informações anatômicas sobre a nova espécie, assim como fotografias, uma descrição dos materiais e métodos usados na pesquisa e os locais de ocorrência deste macaco.
A maior parte do trabalho foi feita nos laboratórios do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM); e no Museu Emilio Goeldi, em Belém (PA). Algumas das informações do artigo já haviam sido divulgadas anteriormente em matérias publicadas no site do WWF-Brasil.
“Quebra-cabeças”
Um dos cientistas envolvidos nesta ação, Julio Dalponte, afirmou que, com a publicação do artigo, a espécie passa a “existir de verdade”. “A partir de agora, as informações que temos sobre o Zogue-Zogue Rabo de Fogo ficam disponíveis para a comunidade científica, que pode utilizar os dados para montar esse grande quebra-cabeças que é conhecer e entender melhor a biodiversidade da Amazônia”, disse o pesquisador.
Dalponte explicou também que a descrição científica da espécie é apenas um dos passos necessários para garantir o bem-estar e conservação deste primata. Para ele, é importante promover mais expedições e coletar mais dados sobre a biodiversidade da Amazônia Meridional, especialmente no norte e noroeste do Mato Grosso.
“Nossas informações sobre os primatas daquela região ainda são escassas e quanto mais dados de campo tivermos, melhor. Além disso, o Rabo de Fogo vive numa área em que a exploração ilegal de madeira é grande e por isso precisamos de projetos que ajudem a conservar esta espécie e seus habitats”, explicou.
Momento oportuno
Para o analista de conservação do WWF-Brasil, Samuel Tararan, o momento da publicação deste artigo é bastante oportuno. “As Unidades de Conservação que este macaco habita estão implementando seus planos de manejo e estão previstas ações de pesquisa e turismo. Com isso, será possível aumentar o conhecimento sobre a espécie, e ajudar na geração de renda para a população local”, afirmou.
Samuel disse ainda que, para promover a conservação da espécie, é preciso envolver outros atores sociais, como proprietários de terras e indígenas. “É preciso que essas pessoas realizem o manejo de suas áreas produtivas, explorando madeira ou atividade de pecuária, unindo essas demandas com a conservação da espécie”, explicou Tararan.
Registrada em 2010
O Zogue-Zogue Rabo de Fogo foi registrado pela primeira vez em dezembro de 2010, durante a Expedição Guariba-Roosevelt, promovida pelo WWF-Brasil, pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso e pela empresa Mapsmut.
Nos anos seguintes, os pesquisadores realizaram outras duas expedições pela Amazônia Meridional, onde foi possível obter mais informações sobre o Zogue-Zogue e coletar exemplares para estudo.
Em 2013, com o objetivo de auxiliar na descrição científica do primata e verificar em que locais ele vive, o WWF-Brasil promoveu a Expedição Zogue-Zogue Rabo de Fogo. Esta empreitada trouxe fotos, vídeos e pôde desenhar um mapa mais completo das áreas onde a nova espécie ocorre.
O nome do animal – Callicebus miltoni – é uma homenagem ao professor Milton Thiago de Mello, um dos precursores do estudo de primatas no Brasil.