Estudo comprova viabilidade financeira de sistemas agroflorestais no Cerrado e incentiva investimentos

maio, 06 2025

Documento evidencia a expressividade dos resultados financeiros, enquanto elenca as salvaguardas socioambientais para SAFs no Brasil
Por The Nature Conservancy (TNC)

Uma nova publicação lançada pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil traz evidências inéditas da viabilidade financeira dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Cerrado, aliadas a uma análise detalhada das salvaguardas socioambientais, ou seja, medidas de proteção que devem ser incorporadas no planejamento e execução para a expansão sustentável da atividade. O objetivo é fomentar investimentos e apoiar a estruturação de mecanismos financeiros voltados aos SAFs no país. 

Fruto da iniciativa Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC), o estudo busca chamar a atenção de bancos, empresas da cadeia de valor, gestores de ativos e outras instituições para o potencial econômico e socioambiental dos SAFs. Um destaque é o financiamento misto, que se mostra como peça-chave para viabilizar a expansão dos sistemas agroflorestais, integrando recursos públicos e privados, mitigando riscos e viabilizando investimentos de longo prazo. 

A análise aponta ainda que, apesar do potencial, os sistemas agroflorestais ainda enfrentam desafios como ausência de crédito específico, fornecimento limitado de insumos, baixa oferta de assistência técnica e escassez de estudos científicos sobre espécies nativas do Cerrado. De acordo com o levantamento, 52 mil propriedades na região já adotam modelos agroflorestais, sendo a maioria de pequeno porte – o que evidencia a importância de financiamento convergente com as demandas da agricultura familiar. 

 


Casos de Sucesso 


O levantamento traz três estudos de caso desenvolvidos por organizações parceiras – Belterra, WRI Brasil com WWF-Brasil e Carbon 4412 com Rizoma – que exploram diferentes configurações de SAFs implementadas em áreas já abertas do Cerrado. Os resultados financeiros são expressivos: a taxa interna de retorno (TIR) varia de 26% a 79%, com prazos de retorno entre 4 e 11 anos, a depender do modelo. 

"Esses modelos mostram que não precisamos escolher entre produzir e preservar”, diz Julio Alves, analista sênior de Sistemas Alimentares Sustentáveis no WRI Brasil e autor de um dos capítulos do estudo. “No mesmo espaço, o agricultor colhe alimento, gera renda, restaura o solo e mantém viva a riqueza biológica e cultural do Cerrado", explica Alves.  
 
As análises feitas pelo WWF-Brasil e pelo WRI Brasil mostram que os SACIs (Sistemas AgroCerratenses), que são sistemas agroflorestais inspirados na estrutura e composição de espécies nativas do Cerrado, comprovam a viabilidade de um modelo que alinha prática, cultura e território. O documento é atual e relevante, reunindo, em um só lugar, informações sobre como fazer, quanto custa, que lucro se pode esperar, o que plantar e como desenhar os sistemas, além de trazer exemplos práticos. A metodologia do levantamento alia aspectos econômicos e ambientais. 

“Nosso trabalho alia dados científicos, conhecimento tradicional e demonstra como implementar, que espécies usar e a viabilidade econômica dos SACIs, trazendo mais segurança aos produtores que forem implementá-los. Os modelos valorizam as espécies nativas do Cerrado e ampliam a segurança alimentar local, conciliando produção agrícola e restauração, enquanto geram renda extra. Os SACIs são uma tecnologia social que atende a demanda por uma restauração produtiva de áreas degradadas do Cerrado e podem ser uma solução promissora para o desenvolvimento sustentável no Cerrado”, diz Veronica Maioli, especialista em Conservação do WWF-Brasil, uma das autoras do estudo. 

Já a proposta da Belterra, combina espécies nativas como Baru, Pequi e Macaúba, com TIR de 79% e payback em apenas 4 anos. O terceiro estudo, da Carbon 4412 em parceria com a Rizoma, incorpora o componente de sequestro de carbono em uma fazenda de transição Cerrado-Amazônia, reforçando o valor ambiental dos sistemas. 

“O SAFs são ferramentas promissoras para a recuperação ambiental e o desenvolvimento territorial, se forem pautados no fortalecimento e integração dos diferentes elos da cadeia. É importante também incluir comunidades tradicionais, por exemplo através da coleta de sementes”, atesta Marco Bellotti, da Belterra Agroflorestas.  

“Todos os estudos demonstram a viabilidade financeira, mas o sucesso dos SAFs demanda arranjos e parcerias com entidades locais, regionais e federais para superar os desafios ligados ao fornecimento de sementes e mudas, o beneficiamento e escoamento dos produtos, o combate à incêndios, e a assistência técnica. Os estudos também apontam para a necessidade de aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, para que as espécies nativas possam competir com mais força na silvicultura comercial e para que sejam explorados novos usos”, avalia Natália Leite, organizadora da publicação. 
 

Salvaguardas socioambientais 


Para garantir que a ampliação dos SAFs ocorra de forma ética e responsável, o material apresenta uma listagem de salvaguardas socioambientais essenciais. Com base em uma revisão da literatura e entrevistas com especialistas da TNC, as salvaguardas abrangem diretrizes para prevenir, mitigar e compensar impactos negativos sobre comunidades e ecossistemas. A publicação reforça que, embora a adoção dessas medidas possa gerar custos adicionais, os benefícios ambientais e sociais justificam o investimento. 

“A recuperação dos serviços ecossistêmicos e o fortalecimento econômico das populações locais são elementos centrais dos SAFs. Com as salvaguardas adequadas, estes modelos podem ser uma das principais estratégias para impulsionar uma economia de baixo carbono no Cerrado”, conclui Natália. 

Veja a publicação completa no link : https://www.ifacc-initiative.org/case-study-details/sistemas-agroflorestais:-salvaguardas-no-contexto-brasileiro-e-viabilidade-econ%C3%B4mica-no-cerrado/aJYTG0000000XK94AM  
 

Sobre o WWF-Brasil 


O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 28 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática. Conheça: wwf.org.br 
 

Sobre TNC  


A The Nature Conservancy (TNC) é uma organização de conservação ambiental dedicada à proteção das terras e águas das quais toda a vida depende. Guiada pela ciência, a TNC cria soluções locais inovadoras para os principais desafios do mundo, de forma que a natureza e as pessoas possam prosperar juntas. No Brasil, onde atua há 35 anos, o trabalho da TNC concentra-se em solucionar os complexos desafios de conservação da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica a partir de uma abordagem sistêmica, com foco na implementação e geração de impacto, para mitigar as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. A TNC Brasil atua em cooperação com a TNC Global, organização que trabalha em 81 países e territórios – 40 por impacto direto na conservação e 41 por meio de parceiros –, utilizando uma abordagem colaborativa, que envolve comunidades locais, governos, setor privado e a sociedade civil. Saiba mais em nosso site e nos siga no LinkedIn e Instagram.  

Sobre o WRI Brasil 


O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que trabalha em parceria para gerar transformação. Atua no desenvolvimento de estudos e implementação de soluções para que as pessoas tenham o essencial para viver, para proteger e restaurar a natureza, pelo equilíbrio do clima e por comunidades resilientes. Alia excelência técnica à articulação política e trabalha com governos, empresas, academia e sociedade civil. 

O WRI Brasil faz parte do World Resources Institute (WRI). Fundado em 1982, o WRI conta com cerca de 1,7 mil profissionais pelo mundo, com escritórios em Brasil, China, Colômbia, Índia, Indonésia, México e Estados Unidos, além de escritórios regionais na África e na Europa. 

Sobre a Belterra 


A Belterra foi fundada em 2020 com o propósito de viabilizar a implantação de Sistemas Agroflorestais em larga escala. Uma metodologia comprovadamente efetiva para regeneração da saúde do solo, restauração da paisagem natural e recuperação da biodiversidade precisava ser potencializada. A Belterra estabelece parcerias com pequenos e médios agricultores fornecendo assistência técnica e extensão rural especializada em agricultura regenerativa, facilitação de acesso a crédito e a mercados compradores dos produtos oriundos dos Sistemas Agroflorestais. 

Sobre a Carbon 4412 


A Carbon 4412 foi fundada em 2023, e é uma plataforma de gestão de ativos de carbono que identifica e investe em oportunidades de investimento em créditos de carbono focados em restauração, almejando a alta qualidade em escala global. 

Sobre a Rizoma 


A Rizoma Agro foi fundada em 2018, voltada para o desenvolvimento de sistemas regenerativos orgânicos altamente eficientes, rentáveis e escaláveis. Atua em quatro grandes frentes: produção agrícola, pesquisa e desenvolvimento, comercialização e desenvolvimento de novos projetos. 
Plantação de abóboras
Sistema AgroCerratense (SACI) em Bonito, MS.
© Veronica Maioli / WWF-Brasil
Sistema AgroCerratense (SACI) em Bonito, MS.
© Veronica Maioli / WWF-Brasil
Sistema AgroCerratense (SACI) em Bonito, MS.
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