COP29 é um momento crucial para destravar a ação climática
novembro, 08 2024
O WWF faz um chamado para que países invistam no futuro e liberem a adotem um acordo por uma nova meta de financiamento climático
O WWF alerta que o próximo ano pode ser decisivo para o futuro do planeta, à medida que se aproxima a cúpula climática da ONU, COP 29, em Baku, no Azerbaijão. Com temperaturas atingindo níveis recordes e impactos climáticos cataclísmicos causando estragos ao redor do mundo, nunca foi tão grande a necessidade de ação urgente e transformadora para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, transformar os sistemas alimentares e interromper e reverter a perda da natureza.A COP 29 vem em um momento crucial, pois os países devem apresentar novos planos climáticos nacionais – Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – ao longo dos próximos doze meses. A ambição desses planos será crucial para impulsionar o ritmo da ação climática ao longo dos próximos cinco anos. Pode se tornar impossível evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5 °C se não houver grandes saltos transformadores a cada ano até 2030.
Um aumento significativo no financiamento climático será essencial para garantir que essa ação transformadora se torne realidade, com seus benefícios para as pessoas e a natureza. Na COP 29, os países estão prontos para negociar uma nova meta de financiamento climático – a Nova Meta Quantificável Coletiva (NCQG, na sigla em inglês). Para um resultado bem-sucedido, os países devem garantir que essa nova meta atenda às necessidades de mitigação, adaptação e perdas e danos dos países em desenvolvimento.
Altas expectativas
Para Manuel Pulgar-Vidal, líder global de Clima e Energia do WWF e presidente da COP 20, “Este é um ano decisivo para a ação climática. A COP 29 deve ser a plataforma de lançamento para uma mudança transformadora urgente. Temos as soluções para a crise climática disponíveis agora, mas sem financiamento adequado, elas não podem ser implementadas na velocidade e escala necessárias. Simplesmente não podemos nos dar ao luxo de atrasar mais as ações críticas. É hora de investir em nosso futuro".
Vidal também pontuou que “Uma nova e ambiciosa meta de financiamento climático que atenda às necessidades dos países em desenvolvimento é crucial. Sem confiança no financiamento, os países em desenvolvimento não podem aumentar seus compromissos climáticos. Após anos de promessas não cumpridas, esta cúpula deve dar início a uma nova era para o financiamento climático e construção de confiança global”
Fernanda Carvalho, líder global de Política Climática e Energética do WWF, apontou a urgência em reverter o cenário climático: “A ação que tomarmos nos próximos cinco anos será crítica se quisermos ter uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5 °C e evitar os piores impactos da crise climática. À medida que os países desenvolvem seus novos planos climáticos nacionais, eles devem garantir a entrega urgente de ações rápidas e transformadoras".
“A COP 29 será um momento crucial para construir consenso em torno do nível de ambição, apoio e soluções que se fazem necessárias. Os países devem mostrar que estão respondendo ao resultado da COP 28 incorporando planos de eliminação gradual de combustíveis fósseis em suas estratégias nacionais. Transformar o setor de energia é a maneira mais impactante de reduzir rapidamente as emissões e evitar uma catástrofe climática.” completou Carvallho.
Já Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, ressaltou a importância do Brasil nas negociações da conferência da ONU. "Nosso país desempenhará um papel central nas discussões sobre como os países em desenvolvimento poderão acessar recursos financeiros para enfrentar os desafios da mudança climática. A questão principal é definir o apoio dos países desenvolvidos para financiar as ações climáticas nos países em desenvolvimento, considerando a combinação de doações, créditos e investimentos. O debate deverá avançar na definição de como esses recursos serão alocados de forma justa e eficiente, e a questão do capital financeiro necessário para apoiar a transição para uma economia de baixo carbono, como o financiamento para a redução da produção e consumo de petróleo, gás e carvão no Brasil ou as ações para atingir o desmatamento zero".
Prado também destacou outras temáticas que devem ser prioritárias nessa COP: "Além da mitigação, a adaptação será um tema importante. Países como o Brasil, com vastos territórios, diversidade climática e elevada desigualdade social, precisam investir em ações para adaptar suas infraestruturas e suas populações mais vulneráveis aos novos padrões climáticos, que incluem não apenas eventos extremos como enchentes e secas, mas também a adaptação do setor agrícola e a infraestrutura urbana. Outro tema central será a questão das perdas e danos, que trata dos custos não evitáveis das mudanças climáticas, como as que já ocorreram no Brasil e em outros países em desenvolvimento".
O especialista contou ainda as expectativas sobre o protagonismo do Brasil frente as discussões da reunião global: "Em termos de negociação e articulação, o Brasil tem o potencial de assumir uma liderança importante na COP 29, dada sua experiência histórica nas negociações climáticas e à COP 30 em Belém. Uma postura coerente do país será crucial para garantir recursos financeiros e técnicos suficientes para a preservação dos biomas brasileiros, a adaptação às mudanças climáticas, e a redução das emissões do país, ao mesmo tempo em que reforça sua credibilidade internacional como líder em negociações climáticas. A expectativa é que o Brasil consiga articular acordos vantajosos tanto para a preservação ambiental quanto para o desenvolvimento econômico sustentável, ao mesmo tempo em que exige maior responsabilidade dos países desenvolvidos nas questões de financiamento".
Agir é urgente para mitigar a emergência climática e de biodiversidade
Para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, as emissões globais precisam ser reduzidas em 43% até 2030, em 60% até 2035, atingindo o zero líquido até 2050. A Lista de Verificação NDCs Que Queremos do WWF inclui elementos importantes que os países devem incluir ao elaborar novos planos climáticos nacionais alinhados a essas metas.
A COP 29 também deve ter como objetivo consolidar o papel da natureza na ação climática. As crises do clima e da natureza estão inextricavelmente ligadas. Em decisões recentes da COP climática, os países têm reconhecido cada vez mais a importância da natureza e das soluções baseadas na natureza para a ação climática. Agora, os países precisam transformar esse reconhecimento em ação, integrando totalmente a natureza no desenvolvimento e na entrega de seus planos nacionais de ação climática e adaptação.
O WWF está pedindo um novo Programa de Trabalho Clima-Natureza dentro da UNFCCC que permita cumprir as recomendações sobre a natureza resultantes da COP 28 e promover sinergias entre os planos nacionais de clima e biodiversidade, além de integrar soluções baseadas na natureza e abordagens baseadas em ecossistemas.
Uma lista completa dos resultados essenciais que serão necessários em Baku está disponível no Documento de Expectativas do WWF para a COP 29.