Tecnologia como ferramenta para a luta social
outubro, 25 2024
Comunidades do sul do Maranhão aprendem a mapear seus territórios com o Tô no Mapa
Por Trícia Oliveira, WWF-BrasilO Tô no Mapa é um aplicativo de celular desenvolvido para que povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares brasileiros realizem o automapeamento de seus territórios. Até o primeiro semestre de 2023, a ferramenta registrou o automapeamento de mais de 24 mil famílias de 241 comunidades em todo o Brasil, mais da metade delas no Maranhão.
A iniciativa é fruto da parceria entre Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Rede Cerrado e Instituto Cerrados. No último ano, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca e do WWF-Brasil, moradores de 31 comunidades de oito municípios do sul do Maranhão participaram de três oficinas do Tô No Mapa nas cidades de São Raimundo das Mangabeiras, Fortaleza dos Nogueiras e Riachão.
Para o antropólogo e assessor técnico do ISPN, que coordenou a realização das duas oficinas, Carlos Lourenço de Almeida Filho, o resultado foi positivo. “A gente conseguiu passar a mensagem e orientar todo o processo de cadastramento, desde como baixar o aplicativo, inserir as informações, desenhar o mapa e a parte de validação do cadastro junto à comunidade”, afirmou.
Mapear os territórios é uma estratégia para fortalecer as comunidades na luta por direitos, inclusive, fundiários, e que ajuda no manejo dos recursos naturais e na tomada de decisões coletivas. O Tô no Mapa é uma ferramenta acessível e gratuita, construída para que comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, agricultores e agricultoras familiares, extrativistas, entre outros, façam o automapeamento de seus territórios.
Para validação do mapeamento e garantia da veracidade e legitimidade das informações inseridas, o Tô no Mapa exige, no cadastro da comunidade, a inclusão da ata de “reunião sobre automapeamento”. Essa reunião tem o objetivo de verificar se a comunidade está de acordo com o automapeamento. A ata da reunião deve descrever os pontos discutidos, os acordos firmados e as autorizações concedidas para a realização do mapeamento.
Realizadas as oficinas, o próximo passo é acompanhar as lideranças no cadastramento das comunidades. “A gente formou grupos em aplicativos de mensagens para acompanhar e apoiar a mobilização de cada comunidade, a realização da reunião de automapeamento e o preenchimento e envio do cadastro”, explicou Carlos Filho.
Comunidades
A maioria dos participantes das oficinas do Tô no Mapa no sul do Maranhão foi de agricultoras e agricultores familiares de comunidades tradicionais, algumas com mais de 100 anos; ou de assentamentos, em comunidades que se formaram mais recentemente, mas já com décadas de existência.
Algumas dessas comunidades enfrentam conflitos em seus territórios, como é o caso de Novo Horizonte, em Balsas, a maior cidade da Região. A comunidade onde vivem 73 famílias tem 1.214 hectares, é cortada por um riacho e possui roça comunitária, com cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz; melancia, quiabo, abóbora, maxixe, além de criações de porcos e galinhas.
“Nós somos posseiros há muitos anos, tem família que está lá há 40 anos, mas apareceu um pessoal que alega ser dono e que foram para lá para tirar minério”, afirmou Sufia Cabral Neta, que faz parte da associação de moradores da comunidade. A disputa pela terra em Novo Horizonte está na Justiça.
Outras comunidades, como o assentamento Vale do Tapuio, em Riachão, não enfrentam problemas fundiários, mas sofrem com a ausência do Poder Público. Raimundo Barbosa, assentado e agricultor familiar, conta que a comunidade de 184 famílias não possui posto de saúde e que já aconteceu de ficarem 30 dias sem água. A estrada de acesso ao Vale do Tapuio, que fica a 42 quilômetros do Centro de Riachão, também é outro problema apontado pelo agricultor.
“As estradas são péssimas. No verão, seco, você anda bem de moto, de carro ou de animal, mas quando chega o inverno a estrada se acaba. A verdade é que nós vivemos em uma favela rural”, afirma.
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