Com taxa de 11.568 km², desmatamento na Amazônia continua alto em 2022

novembro, 30 2022

Valor confirma ritmo de devastação descontrolado na era Bolsonaro; bioma perdeu área maior que a Holanda
Por WWF-Brasil 

A taxa anual de desmatamento da Amazônia estimada em 2022 foi de 11.568 km², de acordo com os dados oficiais do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa de desmatamento se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022.

Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 4.141 km², 2.607 km² e 1.906 km² de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado do Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021.

O desmatamento na Amazônia se manteve nos mais altos patamares desde 2009, apesar de queda em relação ao registrado em 2021 (13.038 km²), consolidando a tendência de aumento descontrolado da devastação observada nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. 2009 foi o ano em que a meta de redução do desmatamento para 2020 foi definida em 3.925 km² para o ano 2020, no Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil. A taxa estimada esse ano é quase 3 vezes maior.

A área devastada em 2022 na Amazônia é 48,2% mais alta que a média observada nos últimos 10 anos no bioma. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km² de florestas foram destruídas - uma área maior que a Holanda ou perto de 8 vezes a extensão do Distrito Federal.

A explosão do desmatamento durante a última gestão Federal é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental, de acordo com Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil. "Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle.

“O novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional", acrescentou Valle.

Sem essa recuperação da capacidade de fiscalização e de ação dos órgãos ambientais, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno, a partir do qual ela perderá a capacidade de prover os serviços ecossistêmicos dos quais todos nós dependemos, segundo Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil.
 
"Os dados consolidados de desmatamento da Amazônia do sistema PRODES comprovam o cenário dramático que o sistema DETER já apontava: o patamar dos 10 mil km2 por ano foi superado novamente, colocando a Amazônia cada vez mais perto do seu ponto de não retorno”, afirmou Napolitano.
 
De acordo com ela, perder a Amazônia afetaria os meios de subsistência de 47 milhões de pessoas e intensificaria a emergência climática global. “Além disso, colocaria em risco a segurança alimentar em toda a América do Sul e afetaria a agricultura em outros continentes. É essencial e viável reduzir significativamente as taxas de desmatamento até sua eliminação completa em 2030. Trata-se de um imperativo humanitário diante da dupla crise do clima e da perda em massa da biodiversidade global que a humanidade está enfrentando", disse ela.
 

Setor agropecuário

A redução drástica do desmatamento e sua eliminação completa até 2025 é uma das condições essenciais para que seja possível evitar o aquecimento do planeta acima de 1,5 graus. Além da retomada das políticas públicas, recursos e condições para fiscalização e controle do crime ambiental, a redução do desmatamento e emissões não será alcançada sem a participação do setor agropecuário. O plano de ação para reduzir o desmatamento associado à produção agrícola, proposto durante a COP 27 esse mês pelas maiores traders de commodities agrícolas, é insuficiente para atingir essa meta.

A cadeia de produção de alimentos contribui com pelo menos um terço do total de emissões líquidas de GEE que estão alterando o clima do planeta. Por isso, para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, as emissões do sistema alimentar precisam diminuir em mais de 80% até 2050 - o que só será possível com uma efetiva implementação de políticas de desmatamento zero.
 

Desmatamento no Cerrado

No caso do Cerrado, para o período mais recente (agosto de 2021 a julho de 2022), o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (DETER), do INPE, apontou um aumento de 12,1% nos alertas de desmatamento quando comparado ao mesmo período do ano retrasado. Considerando os alertas desde o início do ano e até dia 17 de novembro, data da última atualização de dados, esse aumento foi de 23,2% em relação ao mesmo período em 2021. O DETER é um sistema de alertas em tempo real voltado para dar suporte à fiscalização e seus dados costumam ser corroborados pelo PRODES, que é o sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento.

Portanto, é esperado também um aumento no incremento de desmatamento medido pelo PRODES no Cerrado no mesmo período, mas esses dados ainda não foram divulgados. “Além dos dados do PRODES sobre a Amazônia, é essencial termos o quanto antes a publicação dos dados do PRODES Cerrado que teve um aumento de 17,5% de desmatamento nos últimos três anos, passando de 7.260 km² em 2018 para 8.531 km² em 2021'', disse Mariana Napolitano.
Desmatamento na Flona Bom Futuro, em Rondônia, em setembro de 2022
© Israel Vale/ WWF-Brasil
Desmatamento na Flona Bom Futuro, em Rondônia, em setembro de 2022
© Israel Valle/ WWF-Brasil
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