Painel Científico para a Amazônia lança Relatório de Avaliação da Amazônia 2021

novembro, 17 2021

Mais de 200 renomados cientistas da Amazônia e parceiros globais compõem o Painel Científico paraa Amazônia. Juntos, eles desenvolveram uma avaliação científica abrangente sobre o estadoda Bacia Amazônica, e propõem soluções e caminhos de desenvolvimento sustentável para prevenirfuturas catástrofes. Esse processo incluiu diálogos com povos Indígenas e comunidades locais sobre asameaças que estão enfrentando
GLASGOW  - Foi divulgado, na COP26, o primeiro Relatório de Avaliação
da Amazônia
. O Relatório, desenvolvido pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA) e seus mais de 200
cientistas, alerta que a Amazônia está se aproximando de um potencial e catastrófico ponto de
inflexão devido ao desmatamento, degradação, incêndios florestais e mudanças climáticas. Ultrapassar
esse ponto de inflexão pode resultar em uma perda permanente de floresta tropical e uma rápida
transformação da floresta em ecossistemas mais secos, degradados e com menor cobertura de árvores.

O Relatório do SPA
está alinhado com a ambição da COP26 de reduzir o desmatamento e a degradação
florestal
e faz um apelo aos governos globais, líderes do setor público e privado, formuladores de políticas
e ao público em geral para agir agora para evitar mais devastação na região.
O Relatório do SPA aponta caminhos pautados no desenvolvimento sustentável e oferece uma análise
abrangente através de uma avaliação científica única sobre a Bacia Amazônica.
O relatório ressalta a
importância de oferecer recomendações baseadas na ciência e em dados robustos, assim como de
encorajar inovação tecnológica e soluções baseadas na natureza combinadas com o conhecimento
dos Povos Indígenas e das comunidades locais (IPLC) para orientar a tomada de decisões e a
formulação de políticas.


Carlos Nobre, Co-Presidente do SPA, ressalta, “O atual modelo de desenvolvimento está alimentando o
desmatamento e a perda de biodiversidade, levando a mudanças devastadoras e irreversíveis. Para que a
Amazônia sobreviva, devemos mostrar como ela pode ser transformada para gerar benefícios econômicos
e ambientais, através de colaborações entre cientistas, detentores do conhecimento indígena e seus líderes,
comunidades locais, setor privado e governos.”


O Relatório do SPA: um olhar mais próximo

O Relatório foi desenvolvido por mais de 200 cientistas, dos quais dois terços são de países
amazônicos, incluindo cientistas Indígenas.
Inspirado pelo Pacto de Leticia para a Amazônia, o
Relatório é o mais detalhado, abrangente, e holístico documento de seu tipo sobre a Bacia
Amazônica. Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia e membro do Comitê Estratégico do
SPA, acrescentou:
“Há muitas informações neste relatório e muitas mensagens poderosas. Precisamos
repetir essas mensagens para haja um efeito político construtivo. Precisamos conscientizar todos sobre a
importância de salvar a Amazônia. O que este relatório faz é nos dar as ferramentas e munições para
cumprir e executar essa tarefa tão importante.”


A Bacia Amazônica: alguns fatos

A Bacia Amazônica é uma das áreas com maior diversidade biológica do mundo. A verdadeira
diversidade de espécies da Amazônia ainda está subestimada, com uma taxa extraordinária
de descoberta de novas espécies (uma a cada dois dias). No ritmo atual, levará várias centenas de
anos para que se conheça toda a biodiversidade da região.

A insubstituível biodiversidade da região confere estabilidade e resiliência para seus ecossistemas
terrestres e aquáticos, e é produto de dinâmicas complexas que co-evoluíram por milhões de anos.

A Amazônia é um dos elementos mais críticos do sistema climático Terrestre, e desempenha
um papel crítico nos ciclos globais de água e na regulação da variabilidade climática. Uma
quantidade significativa de umidade flui para diversas regiões da América do Sul através de “rios
voadores” e é uma importante fonte de água para os ecossistemas além da Bacia. A Bacia fornece a
maior vazão de rio da Terra, respondendo por cerca de 16 a 22% do fluxo total de rios do mundo
para os oceanos.
É também um reservatório e sumidouro crucial de carbono, armazenando
aproximadamente de 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono em seus solos e vegetação.

Cerca de 47 milhões de pessoas vivem na Amazônia, incluindo cerca de 2,2 milhões de Indígenas
distribuídos em mais de 400 grupos e falando mais de 300 idiomas.
IPLCs são vitais para a
conservação e gestão sustentável da diversidade agrícola e biológica amazônica, bem como dos
ecossistemas. No entanto, devido às muitas pressões e ao enfraquecimento da proteção de seus
direitos, os povos, culturas e conhecimentos da Amazônia estão sob ameaça. A garantia dos direitos
territoriais e da auto-determinação dos povos Indígenas e das comunidades locais está entre as
estratégias mais importantes para a proteção da biodiversidade e das paisagens bioculturais da
Amazônia.

Cientista sênior e membro do Comitê Diretor Científico do SPA, Dr. Mercedes Bustamante acrescentou:
“Com os recentes picos de desmatamento que estão devastando a mais extensa tropical floresta na Terra,

devemos anunciar um código vermelho para a Amazônia. Salvar as florestas remanescentes do
desmatamento e degradação contínuos e restaurar os ecossistemas aquáticos e terrestres é uma das
tarefas mais urgentes de nosso tempo para preservar a Amazônia e suas populações, assim como para
enfrentar os riscos e impactos globais das mudanças climáticas. O mosaico de ecossistemas da Bacia se
estende desde os Andes até a planície amazônica, abrigando a biodiversidade mais extraordinária da Terra,
com mais de 10% das espécies vegetais e animais em todo o mundo.”


Amazônia na beira de um ponto de inflexão

Aproximadamente 17% das florestas da Bacia Amazônica foram convertidas para outros usos
da terra e pelo menos outros 17% foram degradados no bioma.
Especialistas estimam que
366,300 km
2 de florestas foram degradados entre 1995 e 2017, e todos os anos centenas de milhares
de hectares de florestas, a maioria degradada, queimam em toda a bacia, à medida que o fogo escapa
de pastagens próximas ou áreas recentemente desmatadas.


Na ocasião 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, o Relatório do SPA
clama aos tomadores de decisão para agirem
agora, e recomenda uma moratória imediata ao
desmatamento em áreas que já se aproximam de pontos de inflexão, e que sejam alcançados
desmatamento e degradação florestal zero em toda a região amazônica antes de 2030.

Construindo Resiliência


O SPA defende a restauração e remediação da cobertura florestal nativa e dos ecossistemas aquáticos; a
conservação da biodiversidade, agrobiodiversidade e diversidade cultural; bem como o monitoramento do
desmatamento, da degradação, e o estabelecimento de sistemas rápidos de alertas de incêndios. Manejar
a resiliência da Amazônia também requer uma ação global para interromper as emissões de gases de efeito
estufa. Embora a mudança no uso da terra seja a ameaça mais visível aos ecossistemas da Amazônia,
as mudanças climáticas estão emergindo como uma das ameaças mais comprometedoras para o futuro da
região.

“Este evento e esse tipo de conexão promovida pelo SPA entre cientistas,
empresários, sociedade civil, povos Indígenas, comunidades locais e representantes estaduais são as
formas mais eficientes de transformar a Amazônia, uma região vital para brasileiros como eu, para
nossos vizinhos da América Latina e certamente para todo o mundo”, afirma Guilherme Leal, Co-Fundador
da Natura e membro do Comitê Estratégico do SPA.


Soluções e Caminhos Futuros: Uma Amazônia Viva

Apesar das constatações alarmantes, o Relatório do SPA destaca o potencial significativo de avançar
caminhos para o desenvolvimento sustentável baseados em uma combinação de pesquisa científica
e conhecimento de povos Indígenas e comunidades locais, enfatizando a importância da
colaboração e de alavancar parcerias fortes
. O SPA defende a visão de uma Amazônia viva que promova
iniciativas de conservação e restauração e uma transformação para uma bioeconomia inovadora de
florestas em pé e rios fluindo saudáveis, e que respeite e reconheça os ciclos naturais e os direitos
humanos, particularmente aqueles de IPLCs. O investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação é
de suma importância.

Avançar caminhos de desenvolvimento sustentável e alcançar o desmatamento, degradação florestal, e
incêndios zero na Amazônia antes de 2030 depende dos esforços combinados e colaborativos de
formuladores de políticas da Amazônia nos níveis central e local, dos setores financeiro e privado, da
sociedade civil, e da comunidade internacional. O tamanho e os desafios da Bacia Amazônica exigem
desenvolvimento financeiro internacional em grande escala, bem como parcerias financeiras públicas e
privadas, para promover e sustentar a restauração, conservação, manejo florestal, o desenvolvimento de
cadeias de valor sustentáveis, pagamento por esquemas de serviços ecossistêmicos, e investimento em
educação, ciência, tecnologia e inovação. O apoio financeiro deve ser mobilizado das economias avançadas,
garantindo que seu consumo esteja vinculado a áreas com desmatamento zero, e preservando o papel das
florestas como um importante sumidouro natural de carbono.

O Coordenador da
Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), José
Gregorio Diaz Mirabal acrescentou: “
Vamos salvar a humanidade. Vamos superar
essa crise econômica, climática, alimentar e de saúde e essa extinção da biodiversidade
respeitando este relatório.
Só falta o apoio dos governos, bancos, empresas e de toda a
humanidade”.
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
© Marion Ferrat/SDSN
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
© Marion Ferrat/SDSN
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
Lançamento do Painel Científico para a Amazônia na COP26
© Marion Ferrat/SDSN
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