Cerrado ganha Parque Estadual Águas do Paraíso na Chapada dos Veadeiros

setembro, 11 2020

Parque Estadual Águas do Paraíso tem cerca de 5,6 mil hectares na região turística das Cataratas do Rio dos Couros, no município de Alto Paraíso de Goiás.
Parque Estadual Águas do Paraíso tem cerca de 5,6 mil hectares na região turística das Cataratas do Rio dos Couros, no município de Alto Paraíso de Goiás.

Por Jaime Gesisky

Destino turístico que atrai pela diversidade de paisagens deslumbrantes para quem ama aventura e natureza, a Chapada dos Veadeiros acaba de ganhar mais uma unidade de conservação. O Parque Estadual Águas do Paraíso fica em uma área de cerca de 5,6 mil hectares, situada na região turística das Cataratas do Rio dos Couros, no município de Alto Paraíso de Goiás. O decreto que cria a mais nova área protegida do país foi assinado pelo governador Ronaldo Caiado nesta sexta-feira, 11, data em que se comemora o Dia do Cerrado.

O novo parque fica próximo ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros – cujo tamanho triplicou em 2017 com o apoio de uma campanha liderada pelo WWF-Brasil.  Águas do Paraíso será a primeira unidade de conservação ambiental do país com modelo compartilhado de gestão entre governo do estado e o município. O nome da unidade foi escolhido por meio de uma enquete e remete às águas abundantes dali.

Pato Mergulhão
O novo parque de Goiás abriga pelo menos quatro espécies que estão na lista vermelha de animais ameaçados de extinção. Entre eles, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceu), uma das espécies mais ameaçadas do país, encontrada apenas na região da Chapada dos Veadeiros, na Serra da Canastra (MG) e no Jalapão (TO).
Gislaine Disconzi, coordenadora do Projeto Pato-mergulhão Chapada dos Veadeiros, destaca que a região do novo parque estadual é de alta importância biológica. Local de alimentação e refúgio para o pato-mergulhão, é ali que foi localizado o primeiro ninho dessa ave da Chapada e o terceiro ninho conhecido no mundo. Segundo ela, a estimativa populacional do pato no Brasil é inferior a 215 indivíduos na natureza. Na Chapada, existem aproximadamente 50 indivíduos.

"O objetivo primordial da unidade de conservação é proteger a fauna e flora nativa, mas para que possamos implementar a nova UC será necessário implantar um programa de pesquisa visando conhecer as espécies que ali residem e propor zoneamento que proteja essas espécies”, diz Disconzi. E acrescenta, lembrando que o Conselho Consultivo a ser criado conte com representatividade, paridade, equidade de gênero e transparência. Fora isso, é importante destacar a importância de realizar um processo de integração do entorno da UC que contemple o turismo de base comunitária e sustentável para conservar os recursos naturais da região.

O parque protegerá ainda um território que sofre com impactos de atividades humanas, como compactação do solo, turismo desordenado e queimadas. A ideia é recuperar as áreas degradadas e organizar o uso público. Atividades de ecoturismo, pesquisas científicas e conscientização ambiental estão entre objetivos do parque. O processo para implantação da unidade já está em andamento. O plano de manejo da área deverá definir a zona de amortecimento e ações necessárias para a conservação do meio ambiente.

Cerrado
Tida como a savana mais rica do mundo, o Cerrado registra cerca de seis mil espécies de plantas nativas e uma considerável diversidade de espécies animais endêmicas. São aproximadamente 200 espécies de mamíferos, 800 espécies de ave, 180 de répteis, 150 de anfíbios e 1200 espécies de peixes. No Cerrado, encontram-se ainda três maiores bacias hidrográficas do continente, cujas nascentes situadas no bioma elevam o potencial aquífero da área. Não é à toa que o Cerrado é considerado pelos cientistas como a “caixa d’agua” do Brasil. Sua conservação é fundamental para a segurança hídrica do país.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bioma abrange 24% do território nacional, ou cerca de dois milhões de quilômetros quadrados. Mas sua cobertura vegetal original já foi dizimada em cerca da metade. Com o desmatamento a partir da década de 1950, o Cerrado perdeu um acervo de biodiversidade incalculável.

Embora seja o segundo maior bioma da América do Sul, apenas 8,21% do Cerrado está legalmente protegido em unidades de conservação, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.

 
Economia, conservação e saúde
Com o Parque Estadual Águas do Paraíso, a região do município de Alto Paraíso de Goiás – que já recebe benefícios do ICMS Ecológico, também deverá ganhar com as atividades de visitação da área. Produtos agroextrativistas, artesanato e hotelaria são potenciais para a exploração econômica associada à nova UC.

Estudo apoiado pelo WWF-Brasil e liderado pelo economista Carlos Frikmann Young, da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostra a contribuição que as áreas protegidas podem trazer para a economia a partir dos benefícios dos bens e serviços oferecidos efetiva ou potencialmente por essas áreas.

Entre eles, produtos florestais, uso público, estoque de carbono, produção de água, proteção dos solos e geração de receita tributária para municípios. Segundo a pesquisa, a presença de UC responde ainda por 44% do valor total do ICMS ecológico dos municípios de treze estados brasileiros. Esse valor foi estimado em R$ 776 milhões para o ano de 2015.

A partir da pandemia do novo coronavírus, as áreas protegidas ganharam ainda mais importância, pois a existência de áreas naturais bem conservadas significa mais saúde e bem-estar para as pessoas.

Parque Estadual Águas do Paraíso tem cerca de 5,6 mil hectares na região turística das Cataratas do Rio dos Couros, no município de Alto Paraíso de Goiás.
© Marcos Vinícius/Semad
Muito raro, o pato-mergulhão só vive em ambientes muito conservados
© Adriano Gambarini
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