“Precisamos pensar numa Amazônia 4.0”, diz Carlos Nobre em evento sobre bioeconomia
novembro, 19 2019
Cientista defendeu o uso de drones, energia solar, nanotecnologia e blockchain para promover o desenvolvimento da região
Por Jorge Eduardo DantasManaus (AM) – “Precisamos pensar numa Amazônia 4.0, que seja explorada com os valores de ontem, mas com as tecnologias de hoje”, disse recentemente em Manaus o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre mudanças climáticas e um dos mais notórios cientistas a advogar pelo uso sustentável dos recursos da Amazônia.
Nobre foi um dos palestrantes do 1º Encontro de Bioeconomia e Sociobiodiversidade na Amazônia – um evento ocorrido em Manaus na última semana que reuniu cerca de 70 pessoas, representantes de diversas organizações públicas, privadas e da sociedade civil.
Por meio de painéis, apresentações, debates e workshops, os participantes discutiram como aproveitar de maneira sustentável os recursos naturais da maior floresta tropical do mundo – gerando renda e garantindo qualidade de vida para as populações tradicionais e povos da floresta.
Foram debatidos temas como políticas públicas; “mercados verdes”; pesquisa, inovação tecnológica e incubação de negócios na Amazônia; mudanças climáticas e as relações entre os mercados internacionais e produtos amazônicos como açaí, castanha, guaraná e cacau. O WWF-Brasil foi um dos apoiadores do encontro.
Agregar valor
Nobre afirmou que os recursos naturais da Amazônia são mal utilizados e que é preciso tomar uma série de providências para mudar este cenário - como realizar capacitações, estabelecer marcos legais e usar tecnologia de ponta no interior do território.
“Hoje é possível usar drones, energia solar, transporte fluvial e blockchain para agregar valor, promover as capacidades locais, fomentar a industrialização e usar esse imenso patrimônio genético que temos na região; que é, no fim das contas, o maior tesouro existente na Amazônia”, disse.
Segundo Nobre, a Floresta Amazônica possui mais de 450 espécies de produtos passíveis de exploração, que poderiam ser utilizados na fabricação cosméticos ou remédios. “Mas acaba que usamos, de maneira muito mal, apenas cinco ou seis desses produtos”, afirmou.
O cientista contou que o açaí, por exemplo, gera cerca de U$ 1 bilhão de dólares: “Imagine este tipo de grandeza aplicado a uma dezena de outros produtos”, declarou. Nobre apresentou ainda os Laboratórios Criativos da Amazônia - uma iniciativa dele com alguns parceiros, e apoio de algumas universidades, como a Universidade de São Paulo (USP) - de estruturar laboratórios que trabalhem para fomentar novos mercados e novos usos para os produtos amazônicos.
Em outro momento, um representante da empresa Natura contou que atualmente eles compram cerca de R$ 100 milhões em produtos vindos de comunidades da Amazônia.
Escola de negócios
Outro destaque do evento foi o lançamento da RainForest Business School/ Escola de Negócios da Amazônia – um curso lançado conjuntamente pela USP e pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) que tem como objetivo formar mão-de-obra capaz de apoiar a sofisticação das cadeias produtivas amazônicas e inserir os produtos oriundos do bioma em mercados globais. “Queremos formar quadros para atuar em empresas, bancos e agências de fomento e desenvolvimento”, contou antropóloga e ambientalista Maritta Koch Weser, que apresentou a proposta.
A RainForest Business School já tem uma dotação orçamentária para suas primeiras atividades e abre inscrições para sua primeira turma em março de 2020 pela UEA.
Opções de financiamento
O Diretor de Economia Verde do WWF-Brasil, Alexandre Prado, foi um dos painelistas do evento. Ele falou sobre as opções de financiamento disponíveis para um novo modelo econômico, mais racional e sustentável, que não dependa da emissão de gases de efeito estufa e da exploração predatórias dos recursos naturais.
“Existem muitas possibilidades na mesa, como doações de fundo, conversas entre países, entre países e estados, precificação de carbono e cumprimento de dispositivos legais, como o Código Florestal. No entanto, é preciso entender que não existe uma bala de prata, uma solução única. A mudança que queremos vai ocorrer com a soma de diversos fatores trabalhando em conjunto”, afirmou.
Ao final do encontro, os participantes assinaram uma carta de intenções, em que se comprometeram a buscar, de maneira integrada, alternativas inovadoras de desenvolvimento da Amazônia e do Brasil.
O 1º Encontro de Bioeconomia e Sociobiodiversidade na Amazônia foi promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com organização da Green Rio e apoio da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), da Cooperação Alemã GIZ, do projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável e do WWF-Brasil.
Precisamos da Amazônia em pé! Doe e ajude a proteger a maior floresta tropical do planeta,
http://bit.ly/AmazoniaDoe