Discurso do governo brasileiro na ONU acentua polarização e não reconhece problemas urgentes do país

24 setembro 2019

Posicionamento WWF-Brasil sobre o discurso do governo brasileiro na Assembleia Geral da ONU
Em oposição ao espírito de colaboração e de defesa dos interesses da humanidade, que é o fundamento principal da Organização das Nações Unidas, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU acentuou o divisionismo e a polarização, apontando inimigos imaginários e deixando de reconhecer problemas urgentes do Brasil, bem como sua responsabilidade, como presidente, para solucioná-los. 

Os dados do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) têm demonstrado uma tendência de aumento real e preocupante no desmatamento da Amazônia, assim como nos focos de queimadas por toda a região. Quem vive na Amazônia observa esse aumento em seu dia-a-dia, seja nas fumaças que cobrem a região, seja observando o crescimento das invasões ilegais em territórios indígenas e Unidades de Conservação. É uma pena que este governo não compreenda a importância da acabar com o desmatamento no país para proteger o futuro inclusive de nossa agricultura, que hoje alimenta o mundo e depende da chuva enviada pela Floresta Amazônica para existir e seguir.

Em seu discurso, Bolsonaro não demonstrou nenhuma preocupação com a questão ambiental ou climática, não mencionou o Acordo de Paris, reiterou que não acredita na ciência e não se comprometeu em dedicar esforços para reduzir desmatamento ou emissões, na contramão dos compromissos assumidos durante a Climate Summit por diversos e importantes países. 

Ao quebrar a histórica liderança do país na área ambiental perante outras nações, esta postura acentua a preocupação internacional e dos mercados sobre a capacidade do Brasil de proteger a Amazônia e contribuir com a redução dos efeitos das mudanças climáticas, podendo afastar o crescente número de investidores responsáveis, alinhados com a visão de um desenvolvimento sustentável que respeite o meio ambiente e contribua com o enfrentamento da crise climática. 

Ficou claro que não há vontade política deste governo em enfrentar a crise climática ou a perda massiva de biodiversidade. Como um dos dez maiores emissores do planeta, e sendo o desmatamento o principal vetor de emissões brasileiras, a posição apresentada por Jair Bolsonaro em seu discurso na ONU coloca em sério risco as metas do Acordo de Paris e, em especial, a possibilidade de se limitar o aumento da temperatura global em até 1.5ºC.
Agosto 2019 - Queimadas na Amazônia brasileira, região de Porto Velho (RO)
© Michael Dantas/WWF Brasil
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