agosto, 13 2019
Por Bruno Taitson
Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas levou cerca de 3 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios na Capital Federal. Além de manifestações públicas com objetivo de sensibilizar a sociedade brasileira em relação às agendas das populações tradicionais, o evento promove reuniões com representantes dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.
Sob forte sol, na manhã desta terça (13/8), os milhares de indígenas, predominantemente mulheres, caminharam mais de cinco quilômetros para denunciar os crescentes ataques aos direitos das populações tradicionais, intensificados no atual governo. Na pauta das manifestantes também estavam as frequentes invasões dos territórios, ameaças e agressões contra lideranças e o estado precário da educação e da saúde das comunidades tradicionais.
A marcha também questionou a paralisação nos processos de demarcação e a recente investida, liderada pelo Governo Federal, para liberar a mineração e o garimpo em terras indígenas. “Estamos assistindo a uma ampla mobilização nacional para dizer não à ameaça da mineração e do garimpo nas terras indígenas”, analisou a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena da história a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional.
Segundo Telma Taurepang, coordenadora da União das Mulheres Indígenas do Brasil (Umiab), uma das entidades que promove a Marcha das Mulheres Indígenas, outro importante objetivo da manifestação é trabalhar pelo protagonismo das mulheres nas agendas socioambientais. “Que possamos promover o papel de novas lideranças para defender os direitos dos povos indígenas”, comentou a liderança.
Para Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o atual contexto político, marcado por ataques à legislação socioambiental e aos direitos dos povos tradicionais e de grupos vulneráveis, demanda uma reação forte por parte da sociedade. “Estamos marchando para fortalecer a luta pelos direitos territoriais. O atual governo representa uma ameaça para os povos indígenas. Vamos lutar pela demarcação de nossos territórios, que são nosso corpo e o nosso espírito”, destacou.
Para Ricardo Mello, gerente de Amazônia do WWF-Brasil, a Marcha com o slogan “resistir para existir” revela a força dos indígenas diante das ameaças a direitos constitucionais e denuncia a crescente violência contra lideranças indígenas. “É responsabilidade do Estado brasileiro garantir a demarcação de terras e a soberania dos indígenas sobre seus territórios, que são fundamentais para a sobrevivência de mais de 320 povos, além de protegerem nascentes, rios e florestas”, analisou.
Na segunda-feira (12/8), as lideranças indígenas foram recebidas no Supremo Tribunal Federal (STF) pela ministra Cármen Lúcia. Na pauta, a urgência de proteger os territórios indígenas, a violência contra lideranças e a necessidade de retomar as demarcações. Nesta terça (13/8), as mulheres participaram de uma sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados. Na quarta (14/8), as mulheres indígenas vão se juntar à Marcha das Margaridas, maior manifestação de trabalhadoras rurais do país, realizada em Brasília desde o ano 2000.