Expedição mostra belezas, ações de conservação e ameaças ao Pantanal
março, 10 2018
Jornada da Água chama atenção para ameaças aos recursos hídricos: agropecuária, portos, hidrovias, esgoto não tratado e lixo
Por Bruno TaitsonA Jornada da Água, evento promovido pelo WWF em várias partes do mundo, aconteceu pela primeira vez no Brasil, e foi encerrado nesta quinta, 8 de março. A expedição percorreu mais de mil quilômetros por terra, água e ar, acompanhando a trajetória das águas do Pantanal, desde as nascentes, no Planalto do Alto Rio Paraguai, até as planícies.
O grupo, composto por pesquisadores, jornalistas e celebridades, além da equipe do WWF-Brasil, iniciou a trajetória no dia 5 de março, saindo de Cuiabá (MT), rumo a algumas importantes nascentes, cujas águas ajudam a formar o majestoso rio Paraguai.
Os participantes conversaram com produtores rurais e moradores que conservam as nascentes de maneira exemplar, assegurando o fluxo da água que irriga lavouras, e mata a sede dos moradores e de seus rebanhos. Também foi possível observar vastas plantações de soja e algodão, que podem colocar em risco o equilíbrio dos ecossistemas locais e a disponibilidade dos recursos hídricos.
No segundo dia da expedição, a Jornada da Água pegou a estrada a caminho de Cáceres (MT),. Já na Princesinha do Paraguai, como a cidade é carinhosamente chamada, o grupo almoçou às margens do rio, deliciosos pratos à base de peixe. A pesca, além de ser fundamental para a segurança alimentar da região, garante emprego e renda a milhares de pessoas.
Após a refeição, os participantes da Jornada desceram o rio Paraguai e se encantaram com as belezas ímpares da região: pássaros, árvores enormes, vitórias-régias, casas de ribeirinhos, canoas de pescadores e, naturalmente, por se tratar da época das cheias, muita água. Porém, a expedição também presenciou graves ameaças à biodiversidade, aos recursos hídricos e, principalmente, às comunidades que dependem dos rios, da fauna e da flora para sobreviver.
O descarte de esgoto e de lixo no leito do rio Paraguai, visto em algumas localidades, bem como o despejo de agrotóxicos nas águas preocupou os participantes. Porém, a maior ameaça observada durante a jornada fica por conta de dois grandes projetos de infraestrutura: a construção de um porto fluvial para escoar a produção de grãos, nas margens do Paraguai, em Cáceres, e a hidrovia Paraguai-Paraná, que teria seu trecho inicial no mesmo município. Além de prejudicar enormemente os ecossistemas pantaneiros, os projetos representam séria ameaça à pesca e ao turismo, atividades responsáveis pelo sustento de milhares de famílias.
Na quarta, 8 de março, os participantes conversaram com pescadores, condutores de lanchas, funcionários de hotéis, gestores de unidades de conservação e lideranças comunitárias, que garantiram que os responsáveis pelos empreendimentos jamais procuraram a sociedade local para discutir os projetos. Os entrevistados demonstraram grande temor quanto aos impactos dos projetos: “O pescador tradicional implora a quem tem a caneta para não deixar este porto e esta hidrovia serem aprovados”, queixou-se Sérgio César da Silva, que tem na pesca a única fonte do sustento para ele, a esposa e os quatro filhos.
Lei do Pantanal
Durante os três dias da expedição, nas visitas de campo e nas dezenas de conversas com pesquisadores, produtores, pescadores e lideranças locais o grupo viu de perto a necessidade de mudanças no texto da Lei do Pantanal (PLS 750/2011). Ficou clara a necessidade de que o texto inclua, em seu escopo, a região das cabeceiras do rio Paraguai. É lá que se encontram as nascentes que fornecem as águas do Pantanal. “O Pantanal tem que ser tratado como um todo. É importante incentivar quem protege aqui em cima”, reivindicou o produtor rural Mário Antunes, fazendeiro no município de Diamantino (MT).
O projeto da Lei do Pantanal prevê, acertadamente, mecanismos que incentivem aqueles que protegem o bioma. Mas, com o texto atual esse benefício atinge apenas produtores, extrativistas e comunidades que protegem a chamada planície pantaneira, ignorando a região das nascentes, indispensáveis para a conservação do Pantanal.
Apoiaram a Jornada da Água a produtora Indomável, Comova Produtora Audiovisual, Instituto César Cielo, a concessionária Nascentes do Xingu, os cantores Gabriel Sater e Anna Rafaela, o ator João Campos, a Unesco, o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente. Os textos completos, vídeos e fotos da Jornada da Água podem ser acessados no link www.jornadadaagua.org.