FEM: Por que os líderes mundiais devem ouvir as empresas em Davos - e o que elas devem dizer?

janeiro, 24 2018

O líder da Prática de Clima e Energia do WWF, Manuel Pulgar-Vidal analisa a questão climática no Fórum Econômico Mundial.
Por Manuel Pulgar-Vidal, líder da Prática de Mudanças Climáticas e Energia do WWF internacional

Há um bom tempo, muitos dos líderes mais influentes do nosso planeta têm mantido os empresários na mais alta consideração. Assim, neste momento, em que as principais vozes do setor público e privado se reúnem em Davos para o Fórum Econômico Mundial (FEM) para trocar percepções e ideias, eles não precisam olhar para nada além do recente Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial para compreender tudo o que está em jogo se a nossa sociedade não abordar a crise climática de forma agressiva.

O relatório baseia-se nos pontos de vista de mais de 1.000 membros da rede do FEM em relação aos riscos globais mais urgentes enfrentados no mundo. Este ano, os riscos ambientais - clima extremo, desastres naturais e uma resposta inadequada para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas - compreendem três dos cinco principais riscos em termos de impacto, bem como três dos cinco com mais chances ​​de acontecer.

Os riscos ambientais têm levantado a agenda do FEM nos últimos anos. Nunca antes, no entanto, apresentaram-se de forma tão proeminente. Se a "crise da água" também estiver incluída, oito dos 10 lugares foram tomados por preocupações ambientais.

A comunidade empresarial não pode evitar a dura realidade do nosso clima em mudança. Como o FEM observa: "nós estamos empurrando nosso planeta até a beira e o dano está se tornando cada vez mais claro".

Isso pode ser novidade para aqueles que optam por ignorar os perigos das mudanças climáticas. Felizmente, isto não é nada de novo para a comunidade empresarial. Enquanto muitos políticos optam por ignorar ou desconsiderar a evidência científica, as empresas não têm mais escolha a não ser aceitar a realidade objetiva e responder a um clima em mudança e ao inevitável surgimento da economia de baixo carbono.

As empresas devem se planejar para os custos climáticos - e soluções
A comunidade empresarial não pode evitar as duras realidades do nosso clima em mudança. Ela enfrenta a interrupção e os custos incorridos pelos eventos climáticos extremos, que estão se tornando mais frequentes e mais intensos à medida em que o mundo aquece.

Ela também reconhece que - independentemente dos solavancos na estrada - a direção de longo prazo é para uma economia global descarbonizada. O setor privado precisa investir no longo prazo, e esses investimentos são cada vez mais em ativos de baixo carbono e nos mercados do futuro, que serão dominados pelos consumidores que se preocupam com a sustentabilidade.

Não é uma surpresa que os líderes climáticos no mundo dos negócios intensifiquem seus esforços de combate às mudanças climáticas, tanto para limitar os riscos relacionados ao clima quanto para contribuir com a redução de emissões. Fazem parte desse grupo, muitos parceiros-chave do WWF e aqueles que se alinham a metas baseadas em ciência, seguindo assim avisos do Banco da Inglaterra e do Conselho de Estabilidade Financeira do G20 sobre o importante risco financeiro de mudanças climáticas.

As empresas privadas tomam decisões com base na economia. E, quando se trata da economia da energia, a limpa está cada vez mais se sobressaindo à suja. A energia renovável está ganhando a competição com os combustíveis fósseis, mesmo antes de serem considerados os custos ambientais e de saúde pública associados a este último. No final da próxima década, é provável que comprar carros elétricos seja mais barato do que seus equivalentes a gasolina e diesel.

Onde o negócio se encontra com a política
Negócios e política, naturalmente, operam de forma independente um do outro. Regulações e políticas criam o campo de jogo em que o negócio opera. Por meio de lobby e de contribuições de campanha, o negócio influencia a política.

Compete aos negócios, então, usar sua influência para encorajar políticas que acelerem a transição para uma baixa emissão de carbono. No plano interno, os líderes empresariais precisam enviar a mensagem de que a economia com baixa emissão de carbono é boa para os negócios. Isso dará segurança política, ajudará a orientar as decisões de investimento, reduzirá custos e oferecerá emprego e oportunidades de inovação e vantagem competitiva.

Também é preciso estar atento ao contrato social. A transição de energia criará perdedores e vencedores. Os governos têm o dever de apoiar e requalificar os trabalhadores cujos meios de subsistência dependem dos combustíveis fósseis; as empresas devem fazer mais para ajudá-los em novas carreiras.
 
2018 é tempo de os governos intensificarem
Os negócios também devem fazer mais para incentivar uma maior ambição entre o governo. O ano de 2018 é o momento dos governos aumentarem a ambição, à medida em que avançamos em direção a 2020 e à implementação do Acordo de Paris. Os compromissos nacionais atuais não são adequados para proteger o clima: os governos devem demonstrar que o setor privado pode oferecer a inovação, a tecnologia e o conhecimento necessários para atingir metas climáticas mais rígidas e mais ambiciosas - metas que ajudarão a evitar os custos humanos, econômicos e ambientais que enfrentaremos se o aquecimento global não for controlado.
 
Manuel Pulgar-Vidal é o líder do programa global de clima e energia do WWF. Ele fica baseado em Berlim (Alemanha). Mpulgarvidal@wwfint.org
Relatório de Riscos Globais mostra necessidade de abordar a crise climática de forma agressiva.
© E.T.Studhalter/WEF
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