Congresso impõe licenciamento a jato
setembro, 09 2016
O objetivo é viabilizar investimentos públicos e privados para grandes projetos de 'prioridade nacional'. Texto segue à sanção presidencial.
Mais uma vez o cenário político conturbado no Congresso Nacional serviu de cortina para que os parlamentares favoráveis ao fim das exigências legais do licenciamento ambiental pudessem agir sem serem notados.Na noite desta quinta-feira (8), pós feriado nacional, o Senado aprovou a Medida Provisória 727/2016. A MP, que passou quase despercebida pela sociedade e pela imprensa, foi assinada nos primeiros dias do governo interino de Michel Temer para criar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
O objetivo é viabilizar investimentos públicos e privados para grandes projetos de 'prioridade nacional' – definidos pelo governo sem transparência e sem diálogo com a sociedade – sob uma ótica de desestatização e privatização do patrimônio público, inclusive em termos de espaços territoriais e recursos naturais.
De modo semelhante a outras investidas recentes no Congresso (PEC 65/12, PLS 654/15 etc.), a MPV 727 impõe o licenciamento ambiental a jato (fast track) para projetos de interesse nacional, retirando do caminho de quaisquer empecilhos – sociais, ambientais, culturais e trabalhistas – que possam postergar ou afetar a rentabilidade esperada pelos investidores.
A medida, que faz parte da Agenda Brasil, tramitou em regime de urgência, tendo sua aprovação atropelada em menos de um mês na Comissão Mista, e no plenário da Câmara dos Deputados. Aliás, as tentativas de alguns parlamentares em marcar audiências públicas foram simplesmente ignoradas e destaques fundamentais para o projeto foram desconsiderados.
Agora a MP – que teve seu prazo de vigência finalizado nesta quinta-feira – foi transformada no projeto de lei de conversão (PLV 23/2016) e aguarda sanção presidencial.
VIOLAÇÕES
Organizações da sociedade civil, entre elas o WWF-Brasil, manifestam-se contrárias à medida, que institui profundas alterações no marco legal sobre as parcerias público-privadas no país, sendo aprovada sem a devida transparência e participação da sociedade. Além disso, repete graves erros de desperdício de dinheiro público e violações de direitos socioambientais.
As entidades entregaram ontem, durante a votação no Senado, uma carta que evidencia os diversos problemas da MP 727 – mencionados por alguns senadores da oposição o ao governo Temer. Uma das críticas apontadas foi com relação ao artigo 17 do PLV 23, “que insta os órgãos administrativos do governo federal, assim como estados e municípios, a procederem à ‘liberação’ dos empreendimentos ‘prioritários’ e institui um dever de que todas as licenças e autorizações socioambientais sejam expedidas de maneira acelerada, criando-se assim um regime novo para os procedimentos de averiguação da conformidade dos projetos com as leis de proteção aos povos indígenas e ao patrimônio histórico, artístico e cultural”.
Emendas que visavam salvaguardar a proteção do meio ambiente e os direitos humanos foram rejeitadas. A medida aprovada, não garante, por exemplo, que os processos de consulta com os povos indígenas sejam realizados de acordo com parâmetros internacionais, a exemplo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que exigem dos governos a obtenção de consentimento livre, prévio e informado seguindo-se os costumes e tradições dos próprios povos indígenas.
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