“Como o uso industrial da borracha pode ajudar a proteger a Amazônia? Em feira especializada, o WWF-Brasil e UnB compartilham seus aprendizados e experiências
agosto, 22 2016
Organização levou experiências do uso da borracha natural a fabricantes de pneus, calçados, brinquedos, autopeças e acessórios automotivos
De que maneira a borracha amazônica pode ser utilizada para impulsionar e fomentar negócios sustentáveis na Amazônia? Para tentar responder a essa pergunta, o WWF-Brasil e a Universidade de Brasília (UnB) estiveram recentemente em São Paulo (SP) apresentando uma série de experiências, desenvolvidas pelas duas instituições, que buscam utilizar o produto da seringueira (Hevea brasiliensis) de maneira sustentável e responsável.Essa apresentação ocorreu na 12ª edição da Expobor - Feira Internacional de Borrachas, Termoplásticos e Máquinas, que aconteceu na capital paulista no fim de junho. O evento recebeu uma visitação expressiva de 8, 6 mil profissionais, 30% a mais do que a última edição, número que superou as expectativas dos organizadores e expositores.
Atualmente, a borracha é utilizada na fabricação de inúmeros produtos como pneus, luvas, mangueiras, acessórios para máquinas, elásticos, calçados, enfeites, joias e artefatos para cozinha. O WWF-Brasil advoga que, ao utilizar a borracha natural amazônica – ao invés de borrachas plantadas em florestas artificiais – os empresários, e o setor produtivo, de um modo geral, podem ajudar a conservar a biodiversidade amazônica; podem apoiar a geração de renda de comunidades ribeirinhas; e podem promover links de mercado que prezem pela responsabilidade social e ambiental.
Atividades
Na Expobor, o WWF-Brasil e a UnB montaram um stand – de 36 metros quadrados – onde foram realizadas oficinas, palestras e rodas de conversa. Entre as experiências apresentadas na ocasião estiveram o Tecnologia para a Produção de Borracha da Amazônia (Tecbor), liderado pela Universidade de Brasília, que revolucionou a maneira pela qual os seringueiros acreanos beneficiavam o látex; e a iniciativa Protegendo Florestas, desenvolvida pelo WWF-Brasil e que ajudou a conservar 1 bilhão de árvores no Acre, assim como evitou a emissão de 3,76 milhões de toneladas de gases de efeito estufa naquele mesmo Estado.
As empresas Natex, Vert, Mercur também divulgaram suas ações – a primeira produz preservativos feitos com látex amazônico; e a segunda produz sapatos com solas de borracha natural; e terceira compra borracha dos seringueiros do Acre para produzir elásticos e borrachas escolares. Todas essas iniciativas contaram, para sua criação e implementação, com apoio técnico do WWF-Brasil. A Inova/Videolar, por sua vez, expôs os resultados de seu trabalho com o uso de borracha para a fabricação do Poliestireno de Alto Impacto (HIPS).
Novos contatos
A Cooperativa Agroextrativista de Tarauacá (CAET) também esteve presente na Expobor. Eles são uma organização social do interior do Estado do Acre, que recebe apoio técnico e financeiro do WWF-Brasil. Na feira, eles puderam prospectar novos clientes e fazer novos contatos comerciais.
O presidente da CAET, Adison Benigno, falou que a experiência de participar da feira foi ótima. “Ali nós conhecemos vários possíveis compradores para o nosso produto. Vimos que há um mercado imenso precisando de borracha natural e, por conta do que sentimos na feira, estamos fazendo ajustes para aumentar nossa produtividade. Estamos chamando novos seringueiros e instalando novas unidades produtoras para dar conta desta demanda”, disse. A CAET representa hoje 69 cooperados que, juntos, produzem anualmente cerca de 27 toneladas de borracha natural no Acre.
Na programação do stand, houve tempo ainda para uma discussão sobre o uso da borracha para a fabricação de calçados; e uma demonstração de fabricação da Folha Semi-Artefato (FSA) e da Folha de Defumação Líquida (FDL) – duas maneiras de beneficiar folhas de borracha que permitem aos seringueiros da Amazônia vender seus produtos por preços mais altos, sem comprometer sua saúde, sua segurança e a biodiversidade onde estão inseridos.
Distribuição de amostras
Profissionais de 10 países diferentes visitaram o stand e participaram das atividades – pessoas da Argentina, México, Peru e Chile foram as mais assíduas. Mais de 20 empresas levaram amostras da borracha amazônica para fazer testes e verificar se elas são compatíveis com seus processos industriais; e as empresas Vert e Mercur, compradoras da borracha acriana, sinalizaram interesse em aumentar a quantidade de borracha comprada anualmente.
Para a analista de conservação do WWF-Brasil Kaline Rossi, a feira foi bastante proveitosa. “O evento serviu para que fizéssemos contato com empresas, instituições de pesquisa, fabricantes de insumos químicos e de máquinas que utilizam algum tipo de borracha na sua cadeia de suprimentos”, afirmou.
Kaline disse também que a distribuição de amostras teve como objetivo divulgar o produto para vários setores do mercado, aumentando o conhecimento a respeito desta matéria-prima e estimulando cada vez mais a produção de borracha natural no Acre. “No município de Sena Madureira, por exemplo, está prevista a inauguração de uma fábrica de Granulado Escuro Brasileiro (GEB) e isso tende a fortalecer os negócios feitos com a borracha amazônica”, explicou a analista.
Entusiasmo
Chefe do Laboratório de Tecnologia Química (Lateq) da UnB, o professor e pesquisador Floriano Pastore considerou a feira “excelente”. “A feira possibilitou que mostrássemos, a todos do setor produtivo da borracha no Brasil e na América Latina, todo o trabalho que estamos fazendo ao longo destes anos. Foi importante também por difundir, a potenciais compradores, as possibilidades de uso das borrachas FDL e FSA. Os debates, palestras e demonstrações foram instigantes e as pessoas participaram com entusiasmo”, disse.
Floriano contou também que, assim como ocorreu com a FDL e a FSA, é necessário investir em novas tecnologias de exploração de uso da floresta. “A produção sustentável da borracha, por exemplo, oferece o contraponto para o argumento de que é preciso ‘derrubar a floresta’ e de que ‘ela não tem valor econômico’. Precisamos investir mais ainda na borracha, historicamente o primeiro produto de extrativismo; mas também em outros produtos que a floresta oferece e que têm potencial infinito de aplicações”, explicou.