Comunitários do Alto Tapajós apostam na produção de castanha para gerar renda e conservar a floresta

junho, 28 2016

Iniciativa, que busca aumentar a renda dos ribeirinhos e ajudar na conservação da Amazônia, está sendo desenvolvida há 3 anos na fronteira entre o Amazonas, Pará e Mato Grosso
Os comunitários da Barra de São Manoel, uma comunidade ribeirinha situada entre os estados do Amazonas, Mato Grosso e Pará, deram recentemente um grande passo em direção à geração de renda sustentável no interior da Amazônia: eles começaram a beneficiar a castanha- do-Brasil colhida na região, trazendo melhorias a uma cadeia produtiva que pode ajudá-los a melhorar de vida sem prejudicar a floresta e a biodiversidade daquela área. 
 
Esse beneficiamento consiste na coleta, separação, quebra, cozimento e embalamento dos frutos colhidos por ali. A extração da castanha, um costume tradicional na Amazônia, sempre foi realizada naquela área – mas havia sido abandonada devido ao surgimento de outras atividades econômicas mais lucrativas.
 
Em 2013, no entanto, as lideranças da comunidade pediram ajuda ao WWF-Brasil para retomar essa coleta, resgatando as práticas dos membros mais velhos e apresentando, às novas gerações, esta atividade extrativista. 
 
Extração e manejo
 
Com apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas (SEMA-AM) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foram realizadas na Barra de São Manoel oficinas e capacitações, que tinham como objetivo adotar boas práticas na extração do recurso, ajudar na organização social dos comunitários e dar e eles noções de como gerenciar um negócio.
 
O objetivo deste trabalho é possibilitar a extração e manejo da castanha em pequena escala – de modo que esta atividade, para gerar renda àquela população, possa ser desempenhada em conjunto com outras. Desde 2013, por exemplo, existe ali um projeto de fomento do turismo de base comunitária; a ideia é que a produção possa ser vendida aos turistas. 
 
A última oficina ocorreu em junho, quando foi promovida uma capacitação em boas práticas que beneficiou, em caráter experimental, 5 quilos de amêndoas de castanha. Nesta mesma ocasião, os comunitários receberam ainda duas máquinas “quebradeiras”, utilizadas para quebrar a casca daquele fruto, e uma empacotadeira à vácuo, para embalar o produto.
 
Floresta em pé
 
Para o analista de conservação do WWF-Brasil Osvaldo Barassi Gajardo, diversificar as fontes de renda daquela população permite que eles melhorem de vida sem precisar migrar para outras cidades ou comunidades.
 
“Deste modo eles podem continuar morando na região, melhorando sua qualidade de vida, e ajudando a manter a floresta em pé e conservada. Além disso, o fato deles verem os resultados da produção em um formato diferente, embalados e com identidade visual própria, aumentou sua autoestima e os deixou muito orgulhosos”, explicou Osvaldo.
 
O diretor-presidente do Instituto Tocary, Ayslaner Gallo, afirmou que os comunitários da Barra de São Manoel estão bem empolgados com esta iniciativa. “Os homens da região sempre trabalharam com os castanhais, mas sempre foi algo de oportunidade, quando você tinha boa produção e um bom preço. Mas é possível planejar e organizar este processo, para que a produção seja maior e traga mais rendimentos para a comunidade”, explicou.
 
O Instituto Tocary é uma organização não governamental  situada em Alta Floresta (MT), também parceira do WWF-Brasil nesta iniciativa.
 
Pólo produtor
 
Ayslaner lembrou que a iniciativa de trabalhar com a castanha foi solicitada pela própria comunidade e que vem, passo a passo, progredindo. “Fizemos um mapeamento dos castanhais da área, apresentamos um estudo de mercado para os comunitários, fizemos capacitações... em junho tivemos uma oficina de boas práticas e já foi possível apresentar a eles o processo de colher, estocar e embalar o fruto, transformando o que foi coletado num produto final”, afirmou.  
 
Ele vê, na Barra de São Manoel, potencial para que ela se torne um grande pólo produtor de castanha do Alto Tapajós. “Os comunitários afirmaram que, em anos bons, já exploraram e venderam cerca de 50 toneladas deste recurso. Planejando e organizando este processo, podemos pelo menos dobrar este número”, disse o especialista.
 
Cultura tradicional
 
A castanheira (Bertholletia excelsa) cujo fruto é a castanha-do-Brasil, é uma árvore que ocorre na Amazônia brasileira, boliviana e peruana. Teve seus frutos exportados para a Europa pela primeira vez em 1633, em um navio holandês que saiu de Belém (PA). O Brasil, hoje, é o segundo maior produtor de castanha do mundo.
 
A extração da castanha está intimamente ligada à cultura das populações tradicionais amazônicas, cujos produtos são utilizados como alimentação, fonte de renda para famílias, gerador de divisas para a região e fomentadores de emprego e renda para milhares de trabalhadores rurais e urbanos.
 
Florestas
 
Por ser uma atividade de baixo impacto ecológico, a extração de castanha é considerada uma ferramenta de combate ao desmatamento na Amazônia, já que auxilia na manutenção de florestas e pode ser executada em unidades de conservação de uso sustentável, como as Reservas Extrativistas (Resex)  e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS’s).
 
A comunidade da Barra de São Manoel está o lado do Mosaico do Apuí, situado no Sul do Amazonas, que possui áreas passíveis de uso extrativista, como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Bararati e Floresta Estadual do Sucundurí.
 
O WWF-Brasil desenvolve projetos de conservação da natureza naquela região desde 2005.
 
Iniciativa busca aumentar a renda dos ribeirinhos e ajudar na conservação da Amazônia
© Instituto Tocary/ Ayslaner Gallo
Ofinica e capacitação realizadas na Barra de São Manoel
© Instituto Tocary/ Ayslaner Gallo
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