Especialistas discutem como aumentar a produção responsável de madeira na Amazônia
agosto, 19 2015
Setor da construção civil será um dos grandes indutores do que vai ocorrer com a Floresta Amazônica, diz especialista
São Paulo (SP) - Criar acordos e compromissos corporativos, realizar o ordenamento fundiário e adequação ambiental das terras amazônicas e formar “blocos” de produção florestal – estas são as sugestões do coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Marco Lentini, para diminuir os índices de madeira ilegal disponíveis no mercado e aumentar o uso de madeira responsável no setor da construção civil brasileiro. A fala de Lentini aconteceu numa oficina durante a Greenbuilding Brasil Expo, a maior feira de negócios da construção sustentável da América Latina, ocorrida semana passada em São Paulo (SP).
De acordo com o especialista, o setor da construção civil será, nos próximos anos, um dos grandes indutores do que vai ocorrer com a Floresta Amazônica. Assim, tornar essa atividade mais sustentável é tarefa essencial para a conservação da região.
Atualmente, boa parte da madeira amazônica explorada comercialmente tem como destino o Estado de São Paulo e o segmento da construção civil.
No entanto, o índice de ilegalidade neste mercado ainda é muito alto, fazendo com que a madeira seja explorada de forma predatória e causando uma série de prejuízos sociais e ambientais, como o não recolhimento de tributos, desrespeito às populações tradicionais e aos trabalhadores do campo, perda de biodiversidade, desmatamento de áreas protegidas e emissão de gases de efeito estufa.
Como mudar este quadro
Lentini contou que a criação de “acordos e compromissos corporativos” diz respeito a uma autorregulação que deve ser feita pelos próprios atores do setor florestal.
“Uma possibilidade é replicarmos, por exemplo, o que fizeram os responsáveis pelas cadeias produtivas da soja e do dendê. Adotar critérios que possam garantir rastreabilidade, boa origem e compromisso com o Meio Ambiente e com a legalidade. Isso é um desafio nosso: precisamos sair da mentalidade de que o governo vai fazer”, explicou.
De acordo com Lentini, o ordenamento fundiário e a adequação ambiental são outras medidas que podem ser tomadas para dar mais transparência à exploração madeireira.
“O CAR (Cadastro Ambiental Rural) pode ser um instrumento importante para este processo, assim como a restauração florestal. O Brasil tem 21 milhões de hectares passíveis de restauração, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Vejam que temos um trabalho enorme a fazer”, disse.
Já os “blocos de produção florestal” seriam grandes espaços de experimentação, onde seria possível testar práticas, tecnologias e políticas públicas para dar mais agilidade, produtividade e legalidade às atividades que tivessem a ver com exploração das florestas.
Além disto, nestes distritos, programas de fomento a boas práticas florestais, além de incentivos fiscais e de crédito, poderiam ser formatados para promover a produção responsável de madeira e de outros produtos florestais por empresas e comunidades tradicionais.
Lentini reforçou a ideia de que a exploração responsável de madeira e o estabelecimento de um mercado florestal no curto prazo só serão possíveis com a união dos atores sociais deste segmento.
Sustentabilidade em alta
A oficina “Madeira na construção: desafios e experiência em 200 canteiros de obra” contou ainda com a participação do representante da empresa CTE, Renato Salgado; e da consultora do Forest Stewardship Council (FSC ® Brasil), Carolina Graça.
Renato expôs alguns dados sobre o bioma amazônico e sobre a consultoria que a CTE dá para empreendimentos que buscam trabalhar sob bases sustentáveis. Carolina, por sua vez, mostrou porque o selo FSC é importante e explicou que as certificações ajudam a combater as ilegalidades fiscais, trabalhistas, sociais e ambientais que existem na exploração madeireira.
“Existem vários mitos, dando conta de que a madeira certificada é cara, de que esta cadeia produtiva é complexa, mas temos exemplos que mostram que isso não é uma regra geral”, declarou a consultora.
Carolina ainda lembrou que o FSC certifica 10% das florestas do mundo hoje. “Atualmente, existem mais de mil empresas certificadas no Brasil – este é um mercado que só cresce e da qual não teremos como escapar no futuro”, afirmou.
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