Filas e reuniões no primeiro dia da conferência sobre clima

novembro, 06 2006

A partir de hoje, a equipe do WWF-Brasil na conferência de clima em Nairóbi, no Quênia, nos manda relatos diários do que está acontecendo por lá. Desta vez, Mauro Armelin nos conta que, por ser o mais importante evento sobre mudanças climáticas do mundo, o número de pessoas supera a capacidade do QG da ONU na África em atendê-las.

Por Mauro Armelin

14 horas depois. Sim, 14 horas depois de nosso embarque em São Paulo chegamos a capital do Quênia, Nairóbi, onde está sendo realizada a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU. Saímos de São Paulo na quinta, 02/11, no meio do feriado de finados, para cruzar o oceano Atlântico com destino a Joanesburgo na África do Sul, onde chegamos somente no dia seguinte. Fizemos uma pequena parada para trocarmos de avião e continuamos, por mais 4 intermináveis horas, até Nairóbi, a capital do Clima por 2 semanas.

Por ser o mais importante evento sobre mudanças climáticas do mundo, o número de pessoas aqui supera a capacidade do QG da ONU na África em atendê-las. Além de estar localizado fora da cidade o trânsito normal de Nairóbi, o local do evento nos faz pensar que estamos em São Paulo, na véspera de um feriadão, mas numa cidade muito menor. E, para ajudar a nos confundir ainda mais aqui, os carros trafegam pela esquerda, uma característica deixada pela colonização inglesa dos séculos XVIII e XIX.

As filas para o registro e entrada para a Conferência estiveram enormes durante as primeiras horas da manhã dessa segunda-feira. Numa situação fora do comum, graças à chuva intermitente, a segurança da ONU permitiu que os participantes se alojassem na parte coberta de seu estacionamento para esperar a vez de ser atendido. Ficar numa fila não é nada agradável. No acostamento de uma estrada e completamente fora das grades de segurança do QG da ONU por uma hora e debaixo de chuva é uma situação muito pior, ainda mais no primeiro dia da convenção.

A delegação do WWF tem 31 participantes de todas as partes do mundo, onde cada um de nós tem um interesse específico de acordo com a realidade de seu país de origem. Nossos colegas do Japão acompanham a agenda do Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, os da Alemanha, as reuniões que tratam do próximo período de Kyoto que começará em 2012. Nós do Brasil, junto com nosso colega filipino, acompanhamos de perto todas as discussões sobre as adaptação necessárias decorrentes das mudanças climáticas e principalmente das que tratam do desmatamento.

E o que o desmatamento tem a ver com as mudanças climáticas? Tudo! Além da grande perda de biodiversidade que acomete nossos ecossistemas, as atividades de conversão de nossas florestas em sistemas agrícolas emite cerca de 90 toneladas de carbono por hectare desmatado. Isso coloca o Brasil como o quarto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

O dia de abertura é sempre o mais “devagar” e ao mesmo tempo “nervoso”. As ONGs fazem suas reuniões freneticamente, tanto entre seus membros quanto no fórum organizado pela organização Climate Action Network – CAN, que merece um artigo só para explicar como se organiza e quem participa. Devagar, então, estamos começando a conhecer os jogadores e o campo. Isso gera um certo nervosismo, pois ficamos todos procurando algo que nem mesmo sabemos exatamente como é. Enfim, coisas normais nos ambientes de negociação de acordos multi-laterais.

Estamos apenas começando uma dura e fascinante expedição, ou safári, como dizem aqui na África, que durará 2 semanas. Durante esse primeiro dia não avançamos ainda no que realmente nos interessa, a redução das emissões de gases de efeito estufa. Mas, como disse, ainda é só o primeiro dia.

As enormes filas marcaram o primeiro dia do encontro em Nairóbi
© Mauro Armelin / WWF-Brasil
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